Capítulo Único

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Notas da autora: essa história pode ser lida independente da outra, apesar das duas se passarem no mesmo universo (Conversa). É sobre o relacionamento do Chrome e da Erika em Eldarya New Era. Espero que gostem :)
A playlist utilizada:
NF - Paralyzed
Lewis Capaldi - Before You Go
MIIA - Dynasty
Avicci - Waiting for Love

***

 Erika

Estava completamente exausta, mesmo que estivesse cheia de energia ao acordar. Não estou recuperada do meu "sono", sendo essa uma das poucas certezas que tenho após ele.
Mexi-me no colchão extremamente macio. Parecia que possuia pedras, apesar da maciez. Suspeitei que fosse  ela a razão do meu incômodo. Melhor culpar a cama do que minha mente.
Sentei-me e joguei a coberta para o lado.
Observei o quarto escurecido. Não deveria me agarrar ao passado… porém, era difícil, especialmente quando me lembro de tudo o que passei.
Revirar o QG atrás de um colchão não me parecia tão irritante quanto na época. Isso me trouxe um sorriso nos lábios. O primeiro genuíno desde que acordei. Lembranças me tomando mais uma vez. 
Sim, totalmente era o colchão que me tirara o sono. Reafirmei em minha cabeça. 
Mordi o lábio inferior e inclinei minha cabeça para trás, a encostando na madeira.
Nevra… Valkyon… Ezrael… Miiko… Kero…
Um deles sabia que veria novamente, além de Leftan que acordara. O que me atormentou e me fez pensar na escolha tomada no calor da batalha. Mesmo que pudesse retornar, não mudaria a decisão que salvou milhares de vidas e, tentaria aproveitar mais os poucos momentos que tive com o pessoal que me recebera na minha vinda. Não sendo tão receptiva a princípio. 
Talvez fosse a noção do quanto perdi, mas recordei com carinho o meu primeiro dia. A confusão que causei, os amigos que ganhei... e perdi.
Chrome.. estava tão crescido, mal parecia o menino irritadiço que foi enviado comigo para os kappas e Kareen, a quem também considerava muito, também envelheceu. Os dois pareciam ter algo mais que amizade atualmente e meu peito doeu por não poder vê-los crescer.
Emergi de minhas lamentações com uma batida na porta. Não queria me levantar, as pernas pesando mais do que deveriam. 
Um dos efeitos de passar sete anos dormindo. Pensei um tanto amarga.
Demorou, mas a ação retornou, um tanto hesitante.
Forcei-me a levantar. Contive um grito. Uma câimbra se manisfestou.
Prossegui até a porta meio atordoada e virei a maçaneta. A sensação de formigamento não passou, mas sim, pareceu piorar.
Apertei meus olhos para a sombra alta e de contorno forte. Demorei para reconher, mas os olhos brilhantes em meio a escuridão foram resposta o suficiente.
— Chrome? — Perguntei.
A sombra se encolheu e se afastou.
— Não era nada só… — Balbuciou se afastando ainda mais.
Alarmada para não perdê-lo, estendi a mão e agarrei seu pulso, apertando-o. Mais tarde notaria que a dor de passar tanto tempo no cristal me alcançou e tirou minha racionalidade por breves segundos.
— Erika?
— Quer entrar?
Devolvi em vez de responder ao chamado. Me acalmei um pouco e soltei seu pulso. Dei espaço para passar pela porta.
Presumi que entrou e fechei a porta. Indo para a cama e me jogando nela. Com minha visão ajustada na escuridão consegui o distinguir das outras sombras e soltei um suspiro aliviada.
Me ajeitei com custo na cama e bati no espaço ao meu lado. Mas, Chrome continuou no outro lado do quarto, próximo a porta. Franzi o cenho.
Certo… em sete anos o garotinho que te ajudou provavelmente não vai querer deitar na mesma cama que você. Engoli em seco.
Merda.
Lágrimas se juntaram no canto dos meus olhos. Pisquei para tentar as afastar e esfreguei a ponta do nariz com a palma da mão para evitar de fungar.
Meus amigos… família? Estavam mortos ou com sete anos à frente. Eu não tinha mais lugar aqui. Gostaria de voltar para a Terra, no entanto, Miiko fez questão de eu ser apagada das memórias das pessoas mais queridas por mim.
Poderia ser um "favor", mas a chama antiga de uma fúria familiar ascendeu dentro de mim. Fechei as mãos e respirei fundo para não soltar o grito que segurava desde que acordei e talvez antes disso.
Fixei meus olhos em Chrome e tentei igualar a respiração.
Parecia que o peso em meu peito triplicara. Eu não tive tempo de luto por meus amigos e agora sou uma lenda, algo intangível e não a humana que acidentalmente entrou num mundo mágico.
Eles me transformaram em algo superior, até perfeito? Seria essa a palavra? Huang Hua me saudara com estranhamento, assim como, todos. Karuto estava extremamente dócil e eu não queria isso.
Desejei ser tratada como alguém normal e não isso.
Os perrengues que passei para ficar no QG e como fui acolhida de volta… Não tinha mesma essência. 
Havia a opção de ir embora. Para onde não sei, mas precisava.  Depois de hoje não tinha como ficar aqui.
Não posso continuar em um lugar que me faz querer chorar a cada segundo, porém, sinto que não posso. Porque todos já passaram por isso e talvez sou uma recordação vívida do que perderam.
Mordi o lábio e cravei as unhas na palma da mão.
Chrome permaneceu imóvel durante toda a minha bagunça emocional. Me perguntei se ele não seria uma ilusão da minha cabeça, até que se aproximou da cama.
— Você está bem? — Perguntou baixinho, inseguro.
Estava pelo o que deduzi meio agachado.
— A cama rangeu e… — Ele parou.— Erika?
Chamou-me com uma voz embargada, sua compostura quebrando junto com meu coração. Gostaria que Kareen e Mery estivessem aqui, principalmente Mery. Abraçá-los e me assegurar que nada os aconteceria. O que fui fraca demais para impedir, boba demais para distinguir a manipulação constante e amigos de inimigos.
— Sim?
Ele demorou mais para responder.
— Posso dormir aqui? É-é só-ó hoj-je… — Gaguejou. — Se você não querer eu entendo… eu sinto muito não deveria ter vindo… Eu…
— Sim, pode vir.
Por algum milagre consegui encontrar minha voz, apesar de sair rouca. Fui para o canto e bati no espaço vazio novamente. A mesma ação só que desta vez aquecendo-me com a familiaridade. Chrome nunca gaguejou.
Não sei como reagir a isso, entrando no piloto automático, assim como, fazia com as poucas crianças com quem tive contato.
Ele pulou na cama e a fez chiar novamente.
— Hã… Boa noite! — Soltei e puxei o cobertor.
Okay... Eu não sabia lidar com crianças.
Não perguntei o motivo de vir aqui, mesmo que minha curiosidade permaneça intacta do tempo em coma.
Fechei os olhos e relaxei o máximo que pude. Até sentir um corpo maior e forte contra minhas costas. Me virei para ficar de frente com Chrome.
Ele não era mais uma criança, constatei.
— Eu…
Suspirei baixinho.
— Vem cá… — Estendi os braços e o procurei. Puxei com gentileza seu braço dessa vez.
Ele me deixou guiá-lo até que se posicionou um pouco abaixo de mim. Os braços ao redor da minha cintura e a cabeça entre meu ombro e o torso.
Não liguei que a posição fosse desconfortável e me daria mais câimbra e desconforto no dia seguinte ou hoje? Só queria o segurar contra mim. Sete anos.
Isso se repetiu no fundo da minha cabeça como marteladas incessantes.
— Senti sua falta… Nós sentimos. Ezarel saiu e-e Nevra está diferente. Eu pensei que estava sozinho e… — Conforme falava, senti minha camiseta ficar úmida.
Não chorei. Preferi o confortar do que voltar os holofotes para mim, principalmente quando o dia todo foi sobre mim e que talvez fosse a última vez que teria ele tão perto.
— Eu também senti sua falta. Sinto muito por não estar aqui.
Ele apertou seus braços ao meu redor.
— Não vai embora, por favor?
Eu iria. Mas… Talvez eu tivesse ainda alguém?
— Não vou. — O assegurei.
— Promete?
Quebrou-me cogitar o quão ruim deve ter sido, mas estava além da minha concepção. Com mais certeza na voz, respondi:
— Sim, eu prometo.
Ele pareceu relaxar, seu corpo parando de se mexer.
Acariciei seu cabelo longo, desatando alguns nós, enquanto cantarolava baixinho uma canção de ninar que minha mãe cantava para mim.
Eu tinha alguém. Adormeci com essa frase em mente que acalmou por ora meus medos. Apesar de uma outra voz sussurada dizer:
Mentirosa.

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