1. O último verão

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A cidade de Flores, no interior paulista, era um local extremamente pequeno e monótono. As famílias estavam ali há gerações e gerações e resolveram nunca abandonar a pacata cidadezinha no norte do estado. A população era de em média 25 mil e quinhentos, talvez quase trinta mil habitantes, contando a zona rural que ficava um pouco mais afastada. Flores era a típica cidade onde no inverno fazia frio demais, na primavera chovia demais e no verão, calor demais. 

Naquela fatídica tarde de sexta feira, 13 para ser exata, apesar da agitação dos jovens por conta das férias de verão, o calor fazia com que todos eles ficassem moles e cansados demais para causar qualquer arruaça, fazendo com que a maioria ficasse apenas deitada debaixo das árvores da praça ou descansando em alguma sombra. Alguns poucos se aventuravam à ir para as cachoeiras mais afastadas, alguns poucos estavam em casa, mas a grande maioria preferia ficar ao ar livre. Os adultos estavam trabalhando de maneira arrastada, principalmente pelo calor de mais de 30 graus e o sol fervente que iluminava toda a cidade. Era mais um dia entediante e comum na pequena cidade de Flores, ninguém poderia prever. 

Lá estava ela, o foco da nossa história, a garota com cabelos escuros e volumosos, encolhida em uma sombra afastada do grupo de crianças que estava mais próximo. Seu nome era... Quem se importava com seu nome? Não era relevante no momento, o sobrenome menos ainda.  A garota, de quinze anos, talvez um metro e sessenta, ou um pouco mais, corpulenta e com cabelos indefinidos e escuros, era na verdade muito dócil e gentil, sua família cuidava muito bem dela. A mãe, uma professora, havia ensinado o máximo que podia para a menina, mas preferia mantê-la inocente à respeito de toda a história que a rondava. O pai trabalhava numa fábrica em outra cidade, mas naquele dia tão quente ele estava de folga, ajudava a menina da maneira que podia desde que descobriram o Dom. 

O Dom, como sua pequena família apelidou eram pequenos poderes místicos que a garota tinha desde que se lembrava por consciente. A garota conseguia criar a partir do nada, resumindo de maneira bem banal. Seu Dom consistia em transformar qualquer matéria no que pudesse imaginar, para além disso, uma força descomunal e mais detalhes que nem mesmo ela sabia, como o Veneno. Os pais não sabiam como explicar à ela de onde vinham tais poderes, muito menos queriam que ela soubesse, considerando que tudo isso fazia parte de algo muito maior que eles não tinham poder e não teriam como protegê-la. De qualquer forma, apesar de todo o poder num corpo tão inferior, ela era simples, gentil, e tentava ao máximo proteger os outros, pois, sem saber de todas as suas capacidades, tinha medo de ferir alguém. Mal sabia. 

Fato é que pouco se sabe sobre o que aconteceu naquele dia de verão. Era 13 de janeiro de 2012, a garota com apenas 15 anos e um conhecimento limitado sobre seu poder, estava prestes a mudar tudo.  Era uma sexta feira de céu limpo e azul, a umidade do ar fazia com que o calor abafasse toda a cidade, como se estivessem sendo cozidos lentamente em vapor quente. A cidade estava com cerca de 25.500 pessoas naquele dia, contando a zona rural, boa parte dos jovens estava na cachoeira que ficava à dez quilômetros do centro da cidade, alguns outros estavam na praça central. Isso tudo pela manhã. Após às 14 horas e 32 minutos a população da cidade passou a ser um habitante.

Pela manhã, a garota resolveu sair de casa, com toda a segurança e autorização possível, ela gostava de desenhar, então ficava nas praças ou locais que achava interessante e começava a rabiscar em seu caderno com a capa dura preta levemente gasta e seu lápis, o qual ela adorava apontar com estilete. A praça estava começando a receber movimento, ela resolveu que ficaria ali até a hora do almoço, quando ela deveria voltar para casa e ajudar sua mãe com algumas tarefas domésticas. Por conta de se isolar dos outros jovens, ela sempre era alvo de comentários negativos e brincadeiras pejorativas, bullying, de forma mais geral. Apesar de tudo, ela se mantinha sempre em silêncio, o medo de fazer alguma coisa ruim que saísse do seu controle era muito maior que o medo que sentia dos seus algozes. Mas naquele dia, foi inevitável. 

Flores Brutais (Brutal Blossoms)Onde histórias criam vida. Descubra agora