Flores Brutais (Brutal Blossoms)

2. Deixar para trás.

A casa dos Hikari era no estilo tradicional japonês numa província afastada de Tóquio. Era um casarão antigo escondido por entre as árvores de um pequeno bosque que ali havia, o que facilitava para os treinamentos da família. Ao chegar na casa, Maya foi recepcionada por Ayumi, uma mulher de aproximadamente trinta anos, um pouco mais baixa que ela e com um semblante sério. 

— Ohayou Gozaimasu (Bom dia), Maya-San. Primeiramente peço para que tire seus sapatos. — Disse Ayumi enquanto abria a porta da casa. — Sou Ayumi, eu lhe ajudarei em sua jornada na Casa Hikari. 

— Ah, obrigada. — Maya disse repetindo o gesto. — Sinto muito, não sei falar japonês. 

— Ainda! — Ayumi deu um sorriso e acenou com a mão enquanto começava a andar pelo corredor de portas de correr, todas pintadas à mão com cenas místicas, coloridas e detalhadas. — Lhe ensinarei algumas línguas, técnicas de luta, etiqueta e tudo mais o que precisar para se tornar uma guardiã. — Maya seguia a pequena mulher enquanto reparava em toda a estrutura da casa e em como era extremamente claro e amigável ali dentro, as luzes dispostas no corredor eram levemente amareladas, o que dava uma atmosfera calmante para o ambiente. — Sinto informar que a chefe da família, Mahina Hikari não está presente hoje. Ela normalmente  fica em Tóquio ou em Londres, já que é a única guardiã deste Clã. Mas ela pediu para que seu quarto fosse ocidentalizado, para você se sentir bem aqui. — Maya sentiu-se feliz por esse gesto, de certa forma acolhida. 

— Nossa, muito obrigada por isso. — A garota sorriu, até se dar conta que tinha uma dúvida. — Ela é a única? — A garota perguntou enquanto entrava no quarto que Ayumi acabara de abrir. Ele era espaçoso, ali havia uma cama, uma mesinha de estudos e um guarda-roupas embutido na parede. O quarto era claro e, ao invés de uma pequena janela, havia ali uma porta porta de correr que dava passagem para uma pequena varanda com vista para uma densa floresta. 

— Bom, sim. —Ayumi retirou algumas peças de roupa do guarda-roupa. — Te conto a história no jantar, tudo bem? — Ela estendeu as roupas para a garota. — Te mostrarei o ofurô para que possa tomar banho. Sei que a reunião com os Clãs e a viagem foi cansativa. 

— Muito obrigada, Ayumi. — Maya disse. 

— Pode me chamar de Ayumi-San, a partir de agora. — A garota fez uma reverência e seguiu a mulher para o ofurô. Era um banheiro grande, com um pequeno banco com uma ducha e uma caixa com sabonetes e esponjas. Ao lado havia uma banheira de madeira, a qual Ayumi abriu a torneira e logo água quente começou a enchê-la. — Se lave com a ducha antes de entrar na banheira, ok? Você ficará bem aquecida, assim que sair é só voltar para a sala principal que te levo até onde iremos comer. 

Maya assentiu e, após a mulher sair do local, se despiu e foi se lavar. Após se lavar entrou na banheira e afundou por um tempo, a água quente envolveu a garota como um abraço e então, após mais de cinco dias vivendo rapidamente diversas emoções e sem ter tempo para pensar sobre tudo que estava acontecendo, ela desabou em lágrimas, que se misturavam com a água da banheira.  Ela sentia um peso enorme em seu peito e as lágrimas começaram aliviar um pouco a dor que sentia. Como uma garota de 15 anos deveria lidar com tudo que estava acontecendo? Apesar dos poderes, até agora tinha uma família que a apoiava e morava num local tranquilo, realmente imagina que podia ser uma pessoa comum e viver uma vida comum e agora sua vida estava completamente diferente, morando num país que só via em filmes, numa casa com uma mulher que nunca viu na vida, prestes a se tornar uma guerreira de um Clã que nem sabia que existia. A dor de ver sua vida ruir em questão de horas e mudar em questão de dias não era algo que passaria tão rápido, talvez durassem anos até essa angústia sumir, mas pelo menos ali, imersa naquela água quente, sentia um pouco de conforto. Ficou imersa mais um pouco,  logo saiu, se secou e vestiu o pijama que Ayumi havia dado para ela. Na verdade, não sentia tanta fome assim, mas pensou que ali naquela casa podia ter uma pessoa que se importaria com ela, então prometeu a si mesma esforçar-se ao máximo ali.