Olá! 💖
Tudo bem com vocês?
Antes de lerem, gostaria de dizer que essa fic terá dez capítulos. Ou seja, bem curtinha :(. Ainda assim, vou tentar postar com uma certa frequência, porque sei que é chato deixar na espera de att.
Inclusive, gostaria de salientar que:
1- A fic é inspirada na música "18", do Jeremy Zucker (vale muito a pena ouvir!!! 🗣️);
2- Alguns temas podem causar algum incômodo ao serem lidos, como a questão da ansiedade, do bullying e da homofobia (⚠️no caso deste capítulo, os dois primeiros exemplos citados estão presentes!⚠️);
3- Se quiserem falar sobre a fic e ter maior contato comigo, podem me seguir no tt: @/starshift_sz. Use, se quiser, hashtag da fic (#clubedosazarados), para que possamos trocar mais informações sobre ela. :)
Agora, desejo a todos vocês uma excelente leitura! 💘⚠️ESTE CAPÍTULO CONTÉM MOMENTOS DE CRISE DE ANSIEDADE E BULLYING, RESPECTIVAMENTE.
- 📸🎶-
De tantos adjetivos existentes no dicionário, diria que azarado serve perfeitamente para me definir. Devido à elevada quantidade de acontecimentos adversos que decorriam num pequeno espaço de tempo, preferi me agarrar ao pessimismo como forma de me policiar, isto é, evitar que o azar me conduzisse a um caminho sinuoso outra vez.
Uma das consequências do meu ideal filosófico de nada querer, tudo afastar — uma mera adaptação do aurea mediocritas horaciano, ao qual me agarrei temeroso, incerto da possibilidade de colher mais frutos podres provenientes das minhas atitudes impensadas — foi, justamente, perder pessoas que eu amei e que dei de tudo para proteger. No entanto, não adiantava me lamentar do afastamento que causei àqueles que um dia foram a razão dos meus sorrisos, hoje ofuscados pelo brilho do meu choro abafado. Fugir dessas reflexões se tornou a minha motivação; uma espécie de luz no fim do túnel.
Desliguei a caixinha de som conectada ao meu computador, que estava com uma aba aberta no Spotify. Quase quis matar a pessoa que me mandou mensagem. Se me interrompeu ouvindo música, ainda mais as do Jeremy Zucker, acabou de se tornar uma pessoa morta.
Desbloqueei a tela do telefone. A mensagem me fez revirar os olhos.
Tae, o meu puxa-saco fav 🌹: cheguei, amg. vc já tá pronto, né? 20:32
— Ele me paga por ter me feito parar de ouvir eighteen — murmurei.
Eu: oi, hyung. já tô saindo. 20:33
Tirei a mochilinha da cama e a coloquei atrás das costas. Antes de sair, dei uma última olhada no espelho. Nada muito fora do comum. O meu guarda-roupa se limitava a uma coleção incontável de moletons e calças largas, então eu nunca vestia algo fora desse padrão. Que culpa tenho eu, se são as roupas mais confortáveis que existem? Nunca fui tão vaidoso, e não me arrependo nem um pouco de não ser um protótipo de modelo da Vogue.
O único elemento do meu look que não sabia se valia a pena usar era a minha pulseirinha de prata. Taehyung a detestava. Dizia que não devia guardar a pulseira, ainda mais quando foi dada por alguém que não pertencia à minha vida. Eu ia tirar, mas deixei para lá. Independente de tudo, ela me dava sorte. Ao menos, quis acreditar nisso durante muito tempo.
Assim que saí do quarto, vi o meu pai sair do escritório onde passava uma parcela considerável do seu dia, mesmo estando de folga.
— Já vai, campeão?
Cruzei os braços. Saber que os meus pais tinham conhecimento de que eu decidi ir para uma festa me envergonhava, já que não dava para descobrir os pensamentos que passavam na cabeça deles.
— Vou, pai. Taehyung tá me esperando lá na frente.
— Avisa pra ele que pode entrar quando quiser, porque não é incômodo nenhum!
— Tá bom, mãe, eu aviso a ele... — Minha mãe se aproximou para arrumar o meu cabelo e eu mordi a bochecha. Não queria me atrasar mais do que já estava. — Ô mãe, eu tô atrasado, poxa! Ai, meu cabelo!
O meu pai riu da minha careta. O fato de a minha mãe me tratar como um bebê sempre arrancava muitas risadas dele.
— Toma cuidado, filho. Essas festas de adolescentes, ainda mais as que também têm alunos de faculdade, sempre dão bronca. Se eles te oferecerem alguma bebida alcoólica, você...
— Nego, mãe. Já sei de tudo isso. — Dei um sorriso embaraçado. Eu detestava por si só as festas, mas ser protegido pelos meus pais em demasia me fazia aumentar a raiva que sentia desses eventos.
Eu atravessei a porta e acenei para Taehyung, que deu um sorriso largo.
— Podem ficar tranquilos, Sr. e Sra. Jeon. Vou cuidar bem do Jungkook!
— Já sabemos, querido. Você sempre foi muito responsável com o nosso menino. — Minha mãe deu um breve piscar na direção do meu amigo. Eu gostava da confiança que ela depositava nele. Me trazia muito conforto.
Meu pai me deu um abraço forte e se curvou para ficar da minha altura.
— Se cuida, filho. Qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, — deu ênfase no qualquer coisa — me liga, que eu passo lá para buscar vocês dois.
— Tá certo. Acho que não vou precisar.
Mentira. Desde o começo da tarde um pressentimento horrível vinha florescendo no meu peito. Era como se o meu subconsciente quisesse me impedir de pôr os pés naquele lugar, ainda que Taehyung, o meu único e mais cordial amigo, estivesse disposto a passar o tempo inteiro ao meu lado. Tentei criar pensamentos otimistas, mas não conseguia. O meu medo só crescia.
Não era apenas por eu detestar festas e a movimentação exagerada que havia nelas. Na verdade, me amedrontavam as pessoas que estariam lá: alunos do ensino médio e alguns da faculdade que ficava, literalmente, a vinte minutos de distância da minha escola e da minha casa. Se isso não é azar, não sei o que é.
Optei por não comentar com Taehyung o meu receio. Ele diria que as paranoias podem se tornar as nossas maiores inimigas. Também acho que Taehyung falaria que, por ser o nosso último dia de férias, tínhamos de aproveitar até o último segundo daquela segunda-feira. De certo modo, eu concordaria com a sua possível resposta.
O caminho da rua foi tomado por uma escuridão absoluta, resultado do céu turvo e nublado, que intensificava a neblina. Para um dia de verão, estranhei. Mais um sinal de que as cobertas e alguns filmes da Netflix pareciam a melhor opção diante da festa para onde Taehyung queria tanto me levar.
— Tô te achando muito calado.
Soltei o pingente de lua que enfeitava a minha pulseira. Além da tranquilidade, remontava aos dias em que eu realmente fui feliz; aos dias em que não tive de afastar quem tanto chamei de melhor amigo. Me arrependia muito de ter dado atenção para o que todos ao nosso redor cochichavam entre si.
— É que... — Bufei. — você sabe, esse tipo de evento me deixa nervoso.
— Ah... — Ele colocou a mão no meu ombro, alisando-o. — Se você quiser, podemos largar tudo e ir assistir a alguns filmes na minha casa. Ia ser uma forma bacana de terminar as férias também.
Acenei em negação. Não estava nos meus planos destruir a felicidade do meu amigo, principalmente por ele ter passado a semana inteira falando sobre a festa.
— Não. A gente vai pra festa, Tae. Quero que o nosso última dia de férias seja diferente.
Taehyung se jogou em mim, cercando os seus braços em volta do meu corpo. Não contive a minha risada alta.
— Assim que perceberem a nossa chegada, vou falar que você é o melhor amigo do mundo e que os deles são só o pó.
— Isso se eles não te encherem de soco! — Cobri a boca para abafar a minha gargalhada.
— É o que veremos. — Deu um rodopio no meio da calçada.
Ele me ajudou a pensar menos na minha insegurança, mas não a diminuir esse pressentimento esquisito.
Voltei a brincar com o pingente da minha pulseira e Taehyung comentou, em tom de surpresa:
— Não acredito que, mesmo depois de eu ter te aconselhado a se livrar disso, você ainda tem.
— Hyung, eu gosto dessa pulseira. Você sabe que tem um significado importante pra mim...
— Eu sei disso, mas você sempre fica tão melancólico quando mexe nisso! E sem contar que foi presente daquele filho da puta que deixou de ser o seu amigo.
— Pode ter sido presente dele, mas o que me interessa mesmo é o carinho que tenho pela pulseira, entende? Além de ser meu amuleto da sorte.
Ele deu um suspiro alto, balançando a cabeça levemente.
— Ok, você venceu. — Levantou as mãos em rendição. — Não vou mais falar mal da sua pulseira.
— Obrigado, senhor — brinquei.
Ao pôr os olhos no casarão da festa, totalmente aberto e ocupado por algumas pessoas que Taehyung e eu conhecíamos, um arrepio esquisito desceu pela minha nuca inteira. Era o maldito pressentimento de que aquele lugar não era para mim, para gente como eu.
Nossa escola tinha alunos extremamente ricos. De tantos rostos esnobes que estragavam a minha rotina, Taehyung era o único que se sobressaía por, justamente, pouco se importar com a condição financeira da sua família, bastante abastada.
Os alunos da escola pensavam que, por eu ser bolsista, tinham total direito de me xingar e humilhar, mas aprendi a lidar com as piadas deles com tanta rudeza que Taehyung parecia ser o único inconformado com a atitude deles. Bom, não é como se fossem me tratar bem. Não quando viam prazer em me humilhar só por não chegar ao nível da riqueza deles. Bobagem deles. A coisa mais ridícula que já vi na vida inteira.
Taehyung entrou com as nossas mãos entrelaçadas, para que não nos perdêssemos no meio da confusão formada na fachada do casarão de janelas imensas de vidro, tão altas que deviam ser o dobro do meu tamanho. E olhe que não sou baixinho.
— Hyung, tenho de ir ao banheiro — falei no ouvido dele.
— Quer que eu te acompanhe, Jungkook? — Ele teve de elevar o tom de voz para ser ouvido por mim.
— Não, não precisa! Eu vou sozinho.
— Ok! Eu vou procurar algum lugar mais sossegado pra gente, tá?!
— Tá bom!
— Qualquer coisa, eu te ligo!
Taehyung seguiu o caminho oposto ao meu. O cheiro forte de álcool me deixou zonzo e, juntando-se com as vozes e o grande ajuntamento de pessoas na pista de dança improvisada, atenuou a minha ansiedade.
A minha cabeça se revelou disposta a me trair, ainda mais num momento como aquele, em que uma atitude tão simples como lavar o rosto se tornava um verdadeiro desafio, quando eu era posto diante de várias pessoas desconhecidas.
Crises de ansiedade: minha mãe dizia que eu tinha de me concentrar no som da minha respiração, embora ela aparentasse chegar ao fim. Eu costumava tê-las em semanas de prova ou, simplesmente, em situações de estresse, como nesse momento específico.
Durante o trajeto de procura pelo banheiro, fiz tudo o que minha mãe me diria para fazer: inspirar, expirar, contar até dez, pensar que, em breve, estaria em casa... Nunca torci tanto para algo se concretizar.
— Você tá bem? — Uma garota de cabelo ruivo me perguntou, aparentemente preocupada.
A sua colega, que estava segundos atrás a beijando, se mostrou interessada na conversa. Fui surpreendido pelo beijo delas, claro, mas tentei camuflar o meu acanhamento.
— Eu... estou. Só quero saber onde... fica o banheiro...
Apesar do meu tom de voz vacilante, ela entendeu a minha pergunta.
— É só entrar nesse corredor — apontou.
— O-obrigado.
Saí de lá tão rápido que ela nem teve tempo de me responder. E mais rápido ainda fui para dentro do banheiro, me aproximando da bancada de quartzo, tão lustrosa que reproduzia o reflexo do meu rosto devastado.
— Calma. É só uma festa, Jungkook — disse para mim mesmo, como se adiantasse fazer sentenças repletas de incerteza. — O seu amigo tá se divertindo tanto... Não enche o saco dele com uma besteira dessas.
Dei um pulo assim que ouvi a risada ácida de Myung, quem eu menos queria ver naquela festa. Aquele garoto me odiava.
— Que bonitinho, ele não quer trazer problemas pro amigo dele!
— O que você quer?
— Eu que devia te perguntar isso: o que uma pessoa como você tá fazendo aqui? Não acha que já basta a sua presença contaminando a minha escola?
Senti um frio na boca do estômago, que arrepiou os pelos da minha nuca. Apertei as mãos na extremidade da bancada úmida.
— Eu...
— Que foi? Perdeu a língua? Não, já sei: foi Jimin quem cortou a porra da sua língua e te deixou com o rabo entre as pernas?
— Tira o nome dele disso, Myung. Você sabe que ele tem nada a ver com essa história. O único filho da puta aqui é você.
Meu coração acelerou, especialmente quando Myung saiu da porta de entrada do banheiro para aproximar o corpo dele ao meu. Ele apertou o meu pulso, e eu dei um grunhido por sentir a ponta do pingente me ferindo.
— Quer saber mais? Jimin tá muuuuuito melhor sem uma pessoa fodida como você, Jeon. A faculdade tá as mil maravilhas pra ele, se você quer saber. Quando você saiu da vida do Jimin, a sorte decidiu brilhar pra ele. — O sorriso alinhado dele me dava náusea. Aliás, a aparência dele, tão bonita que chegava a hipnotizar qualquer um com os seus olhos cor de âmbar e cabelos castanhos, só servia para esconder o seu interior repulsivo. — Não percebeu que o problema é você, moleque?
Empurrei o corpo de Myung, que se desequilibrou e caiu.
— Vai se foder! Eu te odeio, Myung! Te odeio! — esbravejei. Era tudo culpa dele.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi sair correndo daquele lugar, e pouco me importavam as perguntas de Taehyung no dia seguinte.
No caminho, o meu desespero me ajudou a esbarrar em alguém.
— Desculpe! — falei, voltando a seguir o meu rumo.
Estava tão desesperado que não olhei para o desconhecido em quem esbarrei. Já me bastava o que tive de ouvir da boca de Myung. Me detestava por ser fraco ao ponto de chorar por conta de algo que ocorreu há tanto tempo.
Por que eu insistia em me lembrar de Jimin, mesmo ele não pertencendo mais à minha rotina? E por que o seu vulto ainda assombrava as minhas lembranças, contaminando o meu agora?
Me dirigi até a saída da festa, tentando ignorar os olhares julgadores que caíram sobre mim. Iam caçoar de mim por ter ido embora da festa tão vulnerável, e eu já não ligava mais. Que se fodessem todos eles e que se fodesse mais ainda Myung. A culpa do início do meu pesadelo se devia a ele. A mim também. A culpa era minha por ser um inseguro do caralho, que dois anos atrás não conseguia lutar contra os comentários vomitativos dos alunos daquela maldita escola.
Ainda relativamente perto da entrada principal do casarão, as gotas da chuva riscaram o meu rosto. Em questão de segundos, começaram a molhar toda a minha roupa.
— Ótimo. — Ri de mim mesmo, como se a minha situação fosse motivo de piada. Para eles era.
Os meus olhos ardiam por causa das lágrimas, mas eu não conseguia me conter. Só queria que parassem de falar do Jimin e de me mostrarem que era minha culpa.
Daria de tudo para o ter ao meu lado, porém sabia que a sua vida corria melhor bem longe de mim. Eu o atrapalhava e destruía tudo de bom que lhe acontecia.
— Jungkook!
O meu corpo travou, porque eu conhecia muito bem aquela voz. Ela resistiu aos dois anos em que passei afastado de seu dono.
Enxuguei as lágrimas com o moletom molhado, fungando o nariz. Então, virei o meu corpo para trás, na direção da voz.
— Jimin?
Ele continuava o mesmo. Mudou só um pouco. E eu gostava. Os seus cabelos castanhos, apesar de molhados, estavam muito mais bonitos do que antes, na época em que ainda eram negros como as suas íris brilhantes, tão profundas que me encantavam. Me encantavam por serem diferentes de tudo que já vi na vida. As calças de couro moldavam as suas pernas grossas, enquanto o casaco preto, com o seu capuz, passou a cobrir um pouco do seu rostinho arredondado.
— Eu posso te levar pra casa, Jungkook! Você quer carona? — Ele já dirigia?
— M-melhor não. E-eu tenho que ir agora...
— Nessa chuva, você vai pegar um resfriado! Por favor, vem comigo!
Eu não tinha mais forças para negar. Por isso, deixei que ele me levasse até o seu carro. Jimin pôs o braço ao redor dos meus ombros, como se tentasse, de alguma forma, me passar segurança.
A sua aparição foi inesperada. Embora não quisesse que ele me visse naquele estado, outra parte de mim implorava para aproveitar o mínimo contato com Jimin, considerando o fato de não nos vermos há anos.
Ele abriu a porta do seu carro e eu entrei, desviando o meu rosto da sua direção. Jimin já devia ter notado que chorei durante o pequeno percurso que fiz, mas se não tivesse — a esperança é a última que morre! —, queria que ele nunca soubesse. Não gosto de ser taxado como alguém frágil ou vulnerável, porque nunca fui. Só tive o azar de passar por momentos de debilidade.
Jimin entrou, e logo tirou o seu casaco molhado do corpo. Maldita hora em que olhei para os braços dele. Diferente de dois anos atrás, continham várias tatuagens. Como caíam bem nele!
Jamais me passou pela cabeça que Jimin mudaria tanto, e em pouquíssimos anos. Ele parecia fisicamente idêntico ao Jimin que foi o meu melhor amigo, mas ao mesmo tempo era notória a sua mudança de gostos. O meu ex-amigo mudou e eu não pude acompanhar a sua evolução. Doía demais constatar a veracidade disso.
— Hã... Oi, Jungkook. A gente nem se falou direito lá fora — Jimin tentou quebrar o gelo, ou melhor, a grande barreira formada entre nós dois.
Assim que ele falou, preferi me contentar com as gotas da forte chuva riscando a janela de vidro. O barulho dela me acalmava desde pequeno.
— Oi. — Quanto menos palavras eu falasse, melhor seria para nós dois.
Eu conhecia Jimin bem o bastante para saber que os seus lábios se arquearam para baixo, como costumava fazer sempre que algo fugia negativamente das suas expectativas.
— Você tá bem diferente do que eu me lembrava — comentou em voz baixa.
— Você também — retribuí no mesmo tom de voz.
Voltei a encará-lo, e eu tive de me controlar para não sorrir em resposta ao seu lindo sorriso perfeitamente alinhado, que concedia aos seus olhos um doce formato de meia-lua. Ele estava tão bonito. Chegava a ser frustrante não conseguir fugir desses pensamentos.
— Você tá em que escola, agora?
— Ah. Eu tô na mesma, Jimin. Amanhã aquele inferno começa...
Jimin riu, e eu me limitei a dar um sorriso pequeno. Senti saudades de ouvir a risada dele.
— Você ainda tá com o mesmo jeitinho de sempre. Sobre a sua escola, eu não sabia que você tava estudando lá. Te procurei por meses nela, porque fui pra sua casa e descobri que você tinha se mudado... Eu só desisti de te procurar porque você não atendia mais as minhas ligações e não te via em lugar nenhum daquela escola. Pensei que, sei lá, nunca mais fosse te ver de novo, Jungkook. Ainda bem que me enganei esse tempo todo.
— Desculpa, não queria que você perdesse o seu tempo comigo.
— Não, não é perder o meu tempo! — Ele se inclinou na minha direção. — Eu faria tudo de novo se me dissessem onde você estava. E faria milhões de vezes se fosse pra te reencontrar. Sabe, eu nunca entendi muito bem o que deu na gente naquele último dia de aula.
Eu sei bem o que aconteceu, Jimin. Eu tive a capacidade de antever o que seria de você e da sua vida de calouro se permanecessem ao meu lado: uma desgraça, porque sempre foi isso que eu trouxe para a sua vida.
— Como vai a sua faculdade?
— Vou começar o meu terceiro período do curso daqui a umas três semanas.
— Sortudo.
— Nem sempre. — Esboçou um sorriso pequeno.
— Você tá estudando dança ou escolheu o que o seu pai queria?
— Dança. Não consigo me ver como um advogado.
Sorri. Fiquei feliz em saber que ele estava realizando o seu sonho de infância.
— Ainda bem que você tá fazendo aquilo que gosta.
— É.
Eu não gostava de ficar em silêncio o tempo inteiro, mas era o máximo que podia fazer. Afinal, Jimin havia se tornado uma mera lembrança, e o silêncio demonstrava o quão distantes ficamos um do outro.
Insatisfeito, Jimin retomou a conversa:
— Ainda bem que te vi sair da festa. Céus, ainda bem que você tá aqui. Eu quero recuperar o tempo perdido, Jungkook. Estou disposto a tentar tudo por vo...
— Eu acho que tá meio tarde, Jimin — cortei o seu raciocínio. Não me interessava trazer problemas à vida dele. Jimin estava bem melhor sem mim. — Para chegar à minha casa, basta seguir em frente, até o fim da rua.
Tive a impressão de que o seu olhar perdeu o brilho. Ele deu um pequeno suspiro e assentiu, ligando o carro vagarosamente, de um modo que demonstrava a sua falta de interesse em findar aquele momento.
O silêncio estava prestes a me sufocar, mas procurei me atentar à paisagem de fora do carro, mais especificamente ao cenário pacato da rua, que se tornou iluminada pelas grandes poças d'água formadas no piso, e que transpareciam com cuidado a luz amareladamente forte dos postes.
— Pode parar, Jimin. A minha casa fica aqui, à direita.
— Coitado de você. Se mudou para uma casa bem mais perto da escola.
— Nunca me senti tão motivado para ir pra escola — disse, em tom irônico.
Jimin deu um risinho baixo. Mais uma vez, se aproximou de mim, rompendo qualquer tipo de distância que houvesse entre nós dois.
— O que você...
Ele pôs a minha franja atrás da orelha, piscando o olho.
— O seu cabelo tá bem maior do que me lembrava.
— É... Eu comecei a deixar crescer no começo do ano.
— Jungkook... — Pela voz suplicante, notei que ele queria me pedir alguma coisa.
— Pode falar.
— Por favor, eu quero voltar a falar com você. Quero ser o seu amigo de novo.
Engoli em seco, cruzando os braços na altura da barriga.
— Jimin...
— Nem que seja pra te olhar conversando com os seus amigos. Só quero ficar perto de você de novo. Por favor, eu tô implorando! — Ele juntou as próprias mãos.
Sei que não devia e que seria egoísta recuperar uma amizade tão equivocada como a nossa. Sempre representamos dois polos opostos, logo não valia a pena retomar algo que jamais devia ter existido.
— Droga — murmurei, sentindo o peso da derrota. O meu maior problema sempre foi não resistir aos pedidos de Jimin. — Tá. Eu topo.
— Meu Deus. Obrigado! — Jimin me abraçou de lado, o que me pegou de surpresa. Contrariei a voz do meu lado racional, dando ouvidos ao que as minhas emoções efetivamente queriam: mais alguns segundos ao lado de quem tanto senti falta. — Você não sabe o quanto melhorou o meu dia.
— Eu fiz o mínimo, Jimin. — Dei uma pausa no meu discurso para o observar pela última vez naquela noite. — Vou entrar agora.
— Tudo bem. Eu vou tentar não te irritar o tempo inteiro, tá? — ele se comprometeu, em tom de brincadeira.
— Não se preocupa com isso. Agora, tchau. Tenho mesmo que ir embora.
— Ok, não te incomodo mais. — Sorriu. — Boa noite e boa sorte amanhã.
— Vou precisar.
Saí do carro, agradecendo a estiagem do tempo. Antes de entrar, acenei para Jimin, que saiu pouco depois de eu abrir a porta de casa.
O meu pai franziu o cenho e apoiou os braços no acolchoado do sofá de couro.
— Chegou cedo, Jungkook.
— Jungkook já voltou, Duckyoung?! — Minha mãe gritou, saindo da cozinha com uma colher de pau na mão.
— Oi, mãe. Oi, pai. Eu fiquei com um pouco de dor de cabeça. Achei melhor voltar.
Do jeito que os meus pais eram cautelosos, eu achava melhor esconder os meus problemas da escola, já que tinha total consciência de que, se eles interviessem, a minha rotina escolar pioraria em mil porcento.
— Você tá todo molhado, filho! — Minha mãe colocou a mão na minha testa. — Vai ficar resfriado desse jeito!
— Eu tô bem...
— Deixa o menino, Aesha. Ele tem que aproveitar as festas.
— Mas sem ficar doente! Vai, vai tomar um banho quente! Vai te fazer bem.
Ela se preocupava tanto comigo que até Taehyung achava graça.
Por falar nele, as suas seis ligações perdidas me fizeram ter noção de que, no dia seguinte, eu seria um homem morto.
Eu: hyung, desculpa. aconteceram umas coisas na festa que me fizeram voltar pra casa. foi tudo no desespero, sabe. eu prometo que amanhã te conto TUDO, porque é MUITA COISA. 21:18
Tae, meu puxa-saco fav 🌹: eita, porra. você tá bem, amg? 21:18
Eu: tô, sim. valeu pela preocupação e me desculpa mesmo por ter saído sem avisar. :( 21:18
Tae, meu puxa-saco fav 🌹: sabe como vai conseguir o meu perdão, mero plebeu? 21:19
Eu: lá vem... 21:19
Tae, meu puxa-saco fav 🌹: só se você me contar a fofoca agora. 🤩 21:19
Tae, meu puxa-saco fav 🌹: sticker
VOCÊ ESTÁ LENDO
Eighteen!
FanfictionJeon Jungkook era amigo de Park Jimin desde os seis anos, e desde então a amizade de ambos se revelou quase infindável. Quase. Com a sua ida para a faculdade, Jimin teve de lidar com o abrupto distanciamento daquele que um dia chamou de melhor ami...