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  “Hã… Cadê o Hoseok?” Tento parecer confiante, mas minha voz sai em uma espécie de guincho agudo. Minhas mãos estão agarradas ao tecido macio da toalha, e meus olhos ficam desviam-se o tempo todo para baixo, para me certificar de que meu corpo está coberto.

  O garoto olha para mim e abre um sorrisinho com o canto da boca, mas não diz uma palavra.
 
“Você me ouviu? Perguntei onde está o Hoseok”, repito, tentando ser um pouquinho mais articulado.

  A expressão em seu rosto se intensifica, e ele finalmente resmunga um “Não sei” e liga a televisãozinha que fica sobre a cômoda do Hoseok. O que ele está fazendo aqui? Não tem um quarto para ficar? Mordo a língua para não soltar um comentário malcriado.

  “Você poderia… hã… sair daqui enquanto me visto?” Ele nem notou que estou só de toalha. Ou então não deu bola para isso.
 
  “Quem vê pensa que quero ficar olhando pra você”, ele resmunga, então vira de lado e cobre o rosto com as mãos. Tem um sotaque britânico carregado no qual eu não tinha reparado antes. Talvez porque ele não tivesse se dignado a falar comigo até então.
 
  Sem saber como rebater aquela resposta mal- educada, dou uma bufada e vou até minha cômoda. Talvez ele seja hétero, e por isso disse que não queria ficar olhando para mim. Ou ele me acha muito feio. Com gestos apressados, visto a cueca, e em seguida uma camiseta branca e uma calça cáqui.

  “Já terminou?”, ele pergunta, fazendo minha paciência se esgotar de vez.

  “Que tal mostrar um pouquinho de respeito por mim? Não fiz nada pra você. Qual é a sua?”, berro, muito mais alto do que gostaria, mas, pela expressão de surpresa em seu rosto, percebo que minhas palavras tiveram o efeito esperado sobre aquele intrometido.

  Ele fica me encarando em silêncio por um instante. E, quando penso que vai se desculpar… cai na risada. É uma gargalhada sincera, que seria quase
agradável se não viesse de alguém tão detestável. Os dentinhos de coelho ficam visíveis quando ele ri, e eu me sinto um idiota, sem saber o que fazer nem o que falar. Não estou acostumado com esse tipo de afronta, e esse garoto parece ser a última pessoa com quem deveria arrumar uma briga.
  A porta se abre e Hoseok entra apressado.

  “Desculpa o atraso. Estou com uma ressaca infernal”, ele diz de forma dramática, e em seguida olha para nós dois.
  “Foi mal, Jimin, eu me esqueci de avisar que Jungkook ia passar aqui.”

  Eu gostaria de achar que morar com Hoseok poderia dar certo, que nós dois até poderíamos ser amigos, mas, com suas amizades e seus hábitos noturnos, sinceramente não parece possível.

  “Seu namorado é bem grosso.” As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse fazer alguma coisa para impedir.

  Hoseok olha para o garoto. E então os dois começam a rir. Qual é a deles, rindo da minha cara desse jeito? Está começando a ficar bem irritante.

  “Jeon Jungkook não é meu namorado!”, ele consegue responder, quase sem fôlego. Depois de se acalmar um pouco, ele se vira e olha feio para o tal Jungkook.

  “O que você falou pra ele?” E, então, olhando para mim, ele diz: “Jungkook tem um… um jeito todo especial de se comunicar”

  Que beleza. Então o que ele está dizendo é que esse Jungkook é um babaca incorrigível. Ele dá de ombros e muda de canal.

  “Tem uma festa hoje à noite, você devia vir com a gente, Jimin”, Hoseok convida.

  É minha vez de dar risada.

  “Não sou muito chegado em festas. Além disso, tenho que sair e comprar algumas coisas pra pôr na minha mesa e nas paredes.” Olho mais uma vez para Jungkook, que, para variar, age como se estivesse sozinho e fosse o dono do quarto.

  “É só uma baladinha! Você é um universitário agora, uma festa não vai fazer mal”, Hoseok insiste.
  “E como você vai sair pra fazer compras? Não sabia que tinha carro.”

  “Vou de ônibus. E não posso ir a essa festa… não conheço ninguém”, argumento, e Jungkook dá risada outra vez — um sutil reconhecimento de
que está prestando atenção em mim, nem que seja só para tirar sarro da minha cara. “Eu ia ficar lendo e conversando pelo Skype com o Taemin.”

  “Não dá para andar de ônibus no sábado! Fica tudo lotado. Jungkook pode dar uma carona quando for para casa… certo, Jungkook? E você me conhece, e eu vou estar na festa. Vamos lá, vai… Por favor?”, ele pede, juntando as duas mãos em um apelo dramático.

  Faz um dia que o conheço; será que posso confiar nele? As recomendações da minha mãe a respeito de festas voltam à minha cabeça. Hoseok parece ser bem legal, pelo pouco que pudemos conviver. Mas uma festa?

  “Não sei… E não quero carona nenhuma do Jungkook”, respondo.

  O garoto se vira na cama de Hoseok com uma expressão de divertimento no rosto.
 
  “Ah, não! Eu estava tão a fim de passar mais tempo com você”, ele diz, em um tom tão carregado de sarcasmo que
me dá vontade de atirar um livro em sua cabeça.

  “Hoseok, você sabe que esse garoto não vai topar ir à festa”, ele diz, aos risos, com seu sotaque indisfarçável. Meu lado curioso, que admito ser bem grande, está louco para perguntar de onde ele é. Já meu lado competitivo quer provar que o sorrisinho pretensioso em seu rosto é injustificado.

  “Pensando bem, eu vou, sim”, anuncio com o sorriso mais doce de que sou capaz.
  “Acho que pode ser divertido.”

  Jungkook balança a cabeça, incrédulo, e Hoseok solta um gritinho antes de me abraçar com força pela cintura.

  “Eba! A gente vai se divertir muito!”, ele grita, e uma enorme parte de mim começa a rezar para que ele esteja certo.

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⏰ Última atualização: Jul 19, 2021 ⏰

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