One Shot

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As chamas encantadas dançavam em espiral. Ora entrelaçadas, ora distantes. O fulgor na medida exata para aquecer o salão na temperatura de conforto e banhar os jovens rostos com a iluminação alaranjada, um tom uniforme semelhante ao pôr do Sol. O instrumental reverberava por entre os corpos dançantes. Um som não tão formal quanto o habitual, mas certamente diferente do que os alunos escutam em segredo. O traje da ocasião também não era tão requintado, ou ao menos não era a exigência - sempre haviam os que sentiam-se mais à vontade ao exibir mais que o outro.

Uma tradição difícil de romper são as divisões por ano. Eram nítidas as separações bruscas e bastava pouca atenção para captar as ramificações internas. Ainda sim, todos pareciam satisfeitos em semelhante proporção. Quase todos.

- Não, não. Volta aqui. - James por pouco não gritou. Correu por entre os alunos mais novos, afastando-os para abrir caminho. As brilhosas abotoaduras cintilando apenas por enfeite, já que os três primeiros botões da camisa não estavam em uso. - Onde pensa que vai? Dumbledore ainda não te nomeou bibliotecário, larga isso. - apanhou o livro para si, arrancando dos braços de Lupin.

Remus não gostava de festas. Não as odiava, frequentava quando necessário, mas por um certo tempo. Mais de duas horas fingindo socialização? Parecia tortura demais para sua carcaça cansada. Lhe atraia muito mais sua cama macia, um exemplar na mão esquerda e uma caneca esfriando na direita.

Contudo, lá estava ele. Tentando em nome da consideração.

Cruzou os braços na altura do tórax, o cardigã carmim em tamanho maior fazendo ondas. - Pronto, você venceu. Sou a alma da festa agora.

- Se a festa for um enterro.

Potter sorriu do próprio comentário, postergando o arquear dos lábios, o direcionando a dançarina trajada em um verde esmeralda. Voltando a atenção ao amigo, o pegou na exata posição de antes: o físico insatisfeito, semblante exaustivo. Sabia como melhorar aquilo e iria fazê-lo. Passou um dos braços ao redor da nuca alheia, a altura parecida sendo útil no momento.

- É o seguinte, jovem Padawan... Diretamente de um reino distante... Onde os gigantes ainda dominam o território, vampiros e bruxos vivem em harmonia e pequenos duendes distribuem sorte por aí... Foi resgatado um raro elixir. De cor âmbar e forte odor, essa maravilha se pro-

- Eu odeio uísque.

Potter levantou a mão que o alcançava a face, a prensando contra a boca, impedindo futuras interrupções.

- PROpõe acabar com a energia negativa de qualquer indivíduo. Induzindo, inclusive, na busca do realinhamento dos chakras. É a mais pura verdade. Um sábio me disse. Ele a trouxe diretamente da montanha mais alta, próximo ao lago sagrado.

A verdade é que Sirius havia roubado novamente o bar da casa no lago sem que seu pai soubesse. Eles sempre conseguiam uma forma de beber na surdina, oferecendo felicidade ao resto da classe quando estavam de bom humor.

- Não, obrigado.

- Que bom que aceitou.

Perdido entre os resmungos, Remus concordou desde que fosse somente uma dose. Uma. E então sairia de lá no encerramento da música.

Duas horas e meia depois ele transformou sua garrafa térmica em coqueteleira.

Na outra extremidade, com o tronco parcialmente amostra tingido pelas sombras, Sirius o observava desde o início. O corpo curvilíneo da lufana propositalmente se estreitou ao seu, assim como os dedos frágeis não escorregaram jaqueta adentro inocentemente. Nem mesmo isso era capaz de desfocar sua atenção.

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