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5 de Novembro de 2018
17h06

 Domingos se inclinou sobre a mesa, se aproximando tanto do homem a sua frente que conseguiu enxergar perfeitamente as gotas de suor na testa dele.

— Sua história está muito mal contada, Feliciano. — falou. Conseguia ver Teixeira pelo canto do olho e ouvir o teclar do escrivão, mas não mudava o foco. — Ricardo Bosco mora duas casas depois da sua há meses e você nunca conheceu ele?

 O rapaz se remexeu na cadeira para se afastar do delegado.

— Eu quis dizer que nunca falei direito com ele, a gente não é amigo.

— Nenhuma conversa longa? Uma visita, talvez?

 O jovem balançou a cabeça para os lados, mas encarava a mesa.

— Quer dizer que se a gente for até a sua rua e perguntar aos vizinhos, eles vão dizer que nunca viram vocês juntos?

 Guilherme Feliciano engoliu em seco.

— Eu... Não, é, talvez a gente tenha se falado algumas vezes.

— Parece que sua memória deu uma melhorada, hein? Sobre o que você e Ricardo Bosco conversavam?

— Coisas, tipo, futebol. Ele é palmeirense, eu sou corintiano...

— E o que mais?

 Feliciano passou a mão na testa, limpando o suor.

— Quando ele comprou o carro novo, a gente conversou.

— Sobre o carro?

— É.

 Domingos voltou a se sentar, deixando sua frustração evidente.

— Escute, rapaz, estamos aqui há mais de uma hora e sinto que não fomos a lugar nenhum. Vou lhe dar outra oportunidade, ok? Vamos rebobinar todo esse tempo e começar de novo. Que tal?

 Guilherme não respondeu, parecia não saber se aquilo era bom ou ruim. As marcas de suor em suas axilas cresceram.

— Conhece Ricardo Costa Bosco?

 Ele hesitou por um momento.

— Conheço, senhor.

— Você o considera um amigo?

— Não, ele é meu vizinho.

— Mas vocês já chegaram a conversar? Fazer uma visita?

— Às vezes... Às vezes a gente falava sobre futebol.

— E onde vocês se juntavam pra falar sobre futebol?

— Na calçada...

— Já esteve na casa dele?

 Feliciano estava indo no limite da verdade, tentando não torná-la uma mentira. Domingos conhecia bem aquele jogo, sabia que era questão de tempo até o limite chegar ao fim.

— Umas vezes, sim.

— E ele já esteve na sua?

— Já.

— E não o considera um amigo? Frequentando um a casa do outro...

— Ricardo me pedia ajuda com umas coisas, ele me pagava... — o rapaz gaguejou, então tossiu. Deu um gole no copo de água sobre a mesa e respirou fundo.

— Que tipo de coisa?

— Coisas de informática. Eu tinha uma lan house na minha casa.

— Interessante. — Domingos encobriu bem seu entusiasmo, finalmente estavam chegando a algum lugar. — Você é bom com informática?

Operação Beija-florOnde histórias criam vida. Descubra agora