Pai de Aluguel?

Cinco

Aviso: Esse capítulo pode conter gatilhos de transfobia.

Na calçada da empresa havia meia dúzia de fotógrafos se espremendo e mostrando credenciais de imprensa para tentar entrar. Lan XiChen só se lembrava de ter uma pequena confusão perto dele quando o pai resolvia visitar.

Criado pelo tio, Lan XiChen raramente via o pai. Até pouco tempo atrás ele sequer sabia como seu pai se chamava, apenas o via nas revistas como  A-Sang Black. Esse homem era o tipo de pessoa que Lan XiChen não conseguia lidar. Sempre indo e vindo, nunca se responsabilizando pelos danos que cometia a saúde mental do irmão mais novo de Lan XiChen.

Para um homem de sessenta e poucos anos, ele era até muito bonito exceto pelo cabelo verde. Além de ser líder de uma banda de metal, ainda vendia composições para vários gêneros.

— Bebezinho Bubu. — O pai de Lan XiChen era expansivo além dos limites e o fez corar da cabeça aos pés, ele estava queixando de vergonha quando foi abraçado.

Ser chamado desta forma em rede nacional era um pouco humilhante, além de que havia uma intimidade forçada entre eles que Lan XiChen odiava.

— Não me chame assim, eu sou adulto. - Um sorriso suave estava no seu rosto, mas sua expressão não era feliz. Lan XiChen não tinha nada contra o pai, ele também não tinha pontos positivos na relação. Quando ele teve câncer, o pai estava em turnê e não parou para ligar para ele, então, como ele poderia dar alguma importância para essa pessoa?

O que importava para Lan XiChen, no momento, não eram seus assuntos não resolvidos com o pai, mas a comitiva de jornalistas e fotógrafos que estavam sempre grudados na cola de A-Sang Black. Essa espécie de abutre poderia descobrir sobre Jiang Cheng antes que Lan XiChen tomasse a frente da narrativa.

Seu cérebro trabalhou mais rápido do que ele estava acostumado e antes que o pai pudesse falar qualquer coisa, Lan XiChen já tinha comunicado que teria um filho. Ele não entrou em detalhes, apenas disse que ele e seu parceiro estavam muitos felizes. Lan XiChen sentiu que seu pai não poderia compreender com exatidão como um homem estava grávido, embora os tempos tivessem avançado, ele ainda sofria algumas piadas homofóbicas do seu pai. Como ele poderia deixar Jiang Cheng passar por isso?

O pai ficou radiante com a possibilidade de ter um neto, não que ele fosse se fazer presente, apenas que era algo para exibir. Um homem bem sucedido, na idade dele, estaria com netos. Mas, para a infelicidade de A-Sang Black, ele tinha dois filhos gays. Ao menos, um deles havia se regenerado o suficiente para ter filhos.

Deixando Lan XiChen com um convite para seu décimo casamento, A-Sang Black saiu tão rápido e cheio de estardalhaço quanto chegou. Exceto que ele estava ao celular com um sorriso no rosto, anunciando suas boas notícias para seu assistente e para o mundo.

Jiang Cheng estava aproveitando o resto de sua tarde para limpar as araras. Jiang Yanli havia deixado um copo de chá com leite para ele antes de sair. Ela tinha que visitar uma venda grande de produtos da antiga mansão, apenas reabastecendo o estoque da loja de antiguidades.

Mais cedo, como suas cabeça tinha começado a doer, ele quase cedeu para ser mimado e chamou Lan XiChen. Ainda que os mimos fossem por causa do bebê, ainda eram mimos. Ele abaixou o rosto para procurar pelo elástico que tinha certeza de ter deixado ali e então, um burburinho estranho chegou até seus ouvidos.

Restou apenas o tempo de colocar o cabelo atrás da orelha antes que um flash explodisse diante dos seus olhos, a luz se fragmentando através do vidro e quase o deixando cego. Jiang Cheng se pôs de pé, mas não conseguiu fechar a porta principal antes que o lugar fosse invadido por meia dúzia de jornalistas e fotógrafos. Os flashs o desequilibram por um momento e ele precisa segurar no balcão para não cair enquanto era perseguido por perguntas. Todas elas invasivas e assustadoras demais.