Amor sobre ruínas [TaeGi]

03

Taehyung sempre ouviu histórias sobre o quão fortes, destemidos e corajosos os soldados do Império eram. No campo de batalha, lutavam bravamente para defender seu Imperador de qualquer possível ameaça e jamais se rendiam, a morte sendo preferível à humilhação da rendição. Quando deixou seus pais para se tornar um soldado, tinha três coisas em mente: honrar seu Imperador, ganhar dinheiro para ter como cuidar da família e conseguir completar o treinamento para conseguir estar próximo do general que o ajudou. Não foi difícil descobrir sua identidade alguns dias depois do primeiro encontro, Taehyung só precisou fazer as perguntas certas aos feirantes e soube da batalha na fronteira e do famoso general que nunca perdia uma guerra sequer.

Nunca pensou, contudo, que precisaria sobreviver a cada dia como se fosse o último. Imaginou que os treinos seriam cansativos e intensos, mas nunca pensou que passaria por situações de tortura e testes extremos de sobrevivência. Tudo isso, entretanto, tinha sido explicado no primeiro dia de treinamento, alguns dias depois de chegar à cidade e descobrir onde era o Palácio de Treinamento.

Meses atrás, estava ajudando o pai a consertar uma carroça quando os soldados da Mansão de Ferro passaram por eles. Os homens colocavam cartazes nas paredes, o selo do Imperador podendo ser visto de longe. Taehyung terminou de ajudar o pai e quando se viu livre da tarefa, foi até um dos cartazes, podendo ler, com certa dificuldade, o que estava escrito. Viu a oportunidade de ajudar a si e a seus pais e voltou para casa para contar a novidade. Ele já esperava pelo dia em que poderia se alistar, mas não pensou que teria a sorte de ser no mesmo ano em que completou a maioridade. Agora que recém completara vinte anos, poderia tomar sua decisão de se alistar no exército sem que seus pais fossem contra por ser jovem demais.

No início tinha sido fácil. Taehyung recebeu uma bolsinha de pano de sua mãe, podendo sentir moedas ali dentro ao apertá-la entre os dedos. Sua mãe contou que havia guardado um pouco do dinheiro que o oficial os tinha dado para quando surgisse uma necessidade maior e aquela era uma necessidade, sendo que Taehyung precisaria pagar para viajar até à cidade imperial.

Foram semanas viajando em carroças, muitas vezes a pé, mas nunca permitiu que isso o abalasse. Seria um soldado em pouco tempo e situações como aquela seriam comuns. Quando finalmente chegou na cidade, percebeu a quantidade de jovens que andavam pelas ruas. Muitos daqueles garotos eram como ele, desesperado por uma renda extra para ajudar à família. Taehyung, por outro lado, tinha um desejo além desse e era o que mais o motivava.

As ruas eram movimentadas, mesmo àquela hora da manhã. Taehyung pôde notar a variedade de lojas abertas e carrinhos de vendas de iguarias no calçamento. A época do ano era favorável às flores, por isso toda a cidade parecia ser envolvida pelo cheiro suave e adocicado das cerejeiras.

Perguntou a um oficial que patrulhava aquela área onde ele poderia ir para se alistar e tentou entender todas as explicações do homem. Pelo menos falavam a mesma língua, pensou enquanto agradecia e ia na direção que lhe foi mostrada.

No palácio, teve todas as informações que precisava. Outros jovens também estavam no lugar e o ajudaram do jeito que podiam, mesmo parecendo tão confusos quanto ele. Ao ouvir seu nome ser pronunciado pelo oficial, sorriu empolgado por ter conseguido ir tão longe. Nunca sonhou que pudesse ter a oportunidade de mostrar-se útil sem sofrer preconceito por suas origens. Ali, em meio a tantos garotos, todos eram iguais e estavam lá pelo mesmo motivo. O homem o encaminhou para um salão em que outros garotos estavam em pé e pediu para que tirassem suas roupas, deixando Taehyung nervoso, só relaxando quando o oficial ficou de frente para eles e explicou o procedimento que seria feito. Analisariam seu corpo para saber se estava apto a participar da primeira fase do treinamento. Nunca foi tão tocado em toda a sua vida, além de ter sido a primeira vez que tirava suas vestes na frente de outra pessoa que não fossem seus pais.