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P.O.V Camila

Termino de me trocar, me livrando daquela roupa azul do hospital, o médico me deu alta hoje e eu dei graças a Deus por isso. Me sentia cansada, triste, destruída, dolorida, fadigada e por aí vai. O doutor disse que era normal eu estar dolorida após o aborto, que passaria aos poucos. Eu não sabia o que pensar naquele momento, estou sem animo e sem vontade para nada, só queria me enfiar no quarto e ficar lá por um bom tempo, até que a tempestade passasse, a tempestade dentro de mim. Sabe quando você cria um laço e depois é tirado a força de você? Exatamente assim que eu me sentia, eu já amava o bebê que se formava dentro de mim, eu imaginava a Lauren toda boba pelo nosso filho e nós duas felizes. Mas as coisas aconteceram, tão cruelmente, uma facada doeria menos. Meu coração está em pedaços, parecendo cacos de vidros, impossível de restaura-lo. Cacos estão espalhados, pequenos, médios, grandes. Não tem como mais ajuntar e formar um coração.

Escuto a porta se abrindo e dou graças a Deus por eu estar arrumada, estou usando uma calça de elástico preta e um moletom quentinho por cima. A Lauren que me trouxe essas roupas e eu agradeci por isso. Me viro, dando de cara com a minha mãe parada ali, eu juro que não queria sentir raiva naquele momento, mas eu não aguentava olhar na cara dela. Me sento na maca, tentando me controlar, já bastava toda essa situação, eu não queria ficar pior ainda.

- Hija...

- Mama, por favor, vai embora.

- Eu sinto muito, hija – Sinu deu alguns passos à frente – Eu sinto muito mesmo.

- Não, não sente.

- Eu juro que sinto – Ela pegou em minhas mãos, eu queria afastar, mas não consegui – Eu nunca quis causar toda essa bagunça em sua vida.

- D-desde s-sempre v-você f-fez isso... – Meus olhos encheram-se de lagrimas e logo eu começava a chorar.

- Eu sou uma péssima mãe – Minha mãe abaixou a cabeça – De verdade, eu sinto muito.

- T-tudo o q-que eu queria...e-era o apoio de v-vocês – Eu gaguejava em meio ao choro.

- Estou do seu lado, querida – Ela apertou as minhas mãos – O médico só liberou a minha entrada, mas se você quiser, depois o seu pai entra e conversa com você.

- N-não...não quero.

- Me escute – Sinu segurou em meu rosto, ela tentou limpar as minhas lagrimas, mas foi em vão – Não é o fim do mundo, ok? Eu sei que vocês pegaram amor por esse bebê e isso é completamente normal, todo mundo sofre por um aborto quando se cria um carinho – Solto um soluço alto – Mas meu amor, você pode tentar de novo e de novo, não é como se não pudesse ter mais filho. Claro que você pode e eu confio que vai dar certo.

- E-eu...sou inútil – Deito a cabeça na palma de sua mão, me sentia um bebê assustado.

- Não é, hija – Ela negou imediatamente – Abortos acontecem, mas nessa vida sempre tem uma segunda chance – Sinu depositou um beijo em minha cabeça – Eu te amo, tá? Por mais que eu e o seu pai sejamos assim, ainda sim, nós te amamos.

- S-sai...p-por favor.

Entre as lagrimas, vi a minha mãe se afastando enquanto me olhava, os seus olhos marejaram e ela saiu da sala, me deixando de coração mais apertado ainda. Esfrego as mãos em meu rosto, tentando inutilmente me acalmar. A porta novamente se abriu e eu pude ver o médico entrando, acompanhado da minha namorada. Lauren rapidamente veio para o meu lado, me prendendo em seus braços, pude escutar o seu fungar baixo, mas pelo jeito ela não queria mostrar que estava chorando naquele momento. Tento me recompor, limpando as minhas lagrimas e segurando o choro, para encarar o doutor. Lauren entrelaçou as nossas mãos e olhou para o homem a nossa frente, até ele parecia triste pela situação.

It's You - Camren (Lauren G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora