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a metamorfose da borboleta

09/10/2019

Era comum amanhecer dias amenos ou até calorentos, os blusões de tricô foram deixados de lado, guardados no guarda-roupa e apenas casacos frescos ganharam destaque nas manhãs de primavera, carregando a brisa gélida. As horas passavam mais rapidamente, era como se alguém responsável pelo horário, deslizasse com urgência os ponteiros, entretanto, o dia demorava a escurecer, durante meu trajeto até a faculdade, o céu cintilante brilhava através de minhas órbitas, recebendo a impecável transformação de cores.

Ao passear pela cidade, era possível visualizar as flores desabrocharem na urbanização das ruas, colorindo e trazendo vida para as avenidas. A primavera carregava um ar de renovação, restaurando a essência das nossas almas. Um sorriso preencheu meus lábios ao relembrar que o décimo mês do ano, me trouxe realizações que nunca imaginei que conquistaria, talvez meu cupido tenha finalmente soltado a flecha em meu peito.

Ao mesmo tempo em que meu corpo balançava devido aos movimentos do ônibus passando pelas ruas asfaltadas, sinto meu celular vibrar dentro do bolso do meu moletom:

18:50 Guigo — Molinha, já estou na frente do teu campus.

18:50 Cecilia Pereira – Como assim? E a tua aula Guilherme?

18:51 Guigo — Ai, meu amor... Guigo ou amor, e respondendo tua pergunta, não tem problema chegar cinco minutos depois.

18:50 Cecilia Pereira – Está bem meu amor, eu já estou descendo.

Bloqueio novamente a tela do meu celular e aproveito para enlaçar minha mochila em minhas costas, levantando do banco e tentando passar entre as pessoas de pé, se segurando nas barras de ferros. Alcanço o botão para sinalizar que iria descer, o som logo ecoou dentro do automóvel e a porta da saída se abriu para mim.

Desço os degraus olhando em volta, notando uma silhueta familiar se aproximar ao mesmo tempo em que eu caminhava em sua direção. A pele exposta dos braços, mostravam a musculatura pouco definida, por conta da blusa de manga curta cinza, que valorizava seu tronco longo. Observo seus braços abrirem ao se aproximar e entrelaçar em meu corpo, rapidamente, seu perfume forte com um toque floral impregnou minhas narinas, reconfortando minha memória.

— Por que decidiu se atrasar para a aula Guigo? Íamos nos ver após a aula – questiono assoprando as palavras contra sua blusa, notando-o negar com a cabeça.

— Eu queria te ver primeiro molinha, assim terei forças para aguentar três horas de planejamento estruturais – responde encostando o queixo no topo da minha cabeleira. — Não podemos ficar mais um pouco aqui?

— Não anjinho, vai para teu campus – insisto me desvencilhando, notando as sobrancelhas franzidas e seu lábio inferior torcido, copiando uma carinha pidonha. — Não adianta me olhar com esse rostinho.

— Tu, é uma estrega prazeres – resmunga emaranhando nossos dedos e tocando com os lábios no dorso da minha mão. — Boa aula molinha, estarei te esperando... – gesticula apontando para a entrada da instituição —, bem ali.

— Até mais Guigo – murmuro mudando de posição e segurando sua mão, ao mesmo tempo em que eu queria ir. — Eu preciso ir.

— Então, eu vou ir quando tu entrar – anuncia soltando minha mão.

Nego com a cabeça, deixando um riso escapar entre meus lábios úmidos e me direciono até a multidão de estudantes que adentravam a universidade. Aproveito para girar meu pescoço e olhar Guilherme parado na calçada, ao mesmo tempo em que me abanava sorridente.

Meu cupido é um felino [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora