15/12/2023 – Sexta-feira
Quando achamos que a vida está ruim... ela consegue piorar!
Caros fantasmas que estejam lendo este diário, por recomendação psicológica estou escrevendo minha vida em um pedaço de papel — o que parece uma loucura, mas, acreditem, o mais insano ainda está por vir.
Meu nome é Isabelli. Bom, minha vida é um caos completo. A única coisa da qual não posso reclamar são meus pais — eles sempre foram incríveis e nos criaram muito bem, a mim e aos meus irmãos. Não quero enrolar muito, então vamos direto ao ponto: meus pais foram presos injustamente quando eu e meu irmão gêmeo tínhamos apenas cinco anos. Minha irmã mais velha, Sasha, na época com sete, já morava na Europa com minha tia. Assim, eu e Jean ficamos sob os cuidados da minha avó paterna, que morava com o irmão do meu pai.
Tudo desmoronou quando minha avó ficou doente e precisou passar duas semanas no hospital. Nesse período, o irmão do meu pai ficou responsável por nós. Em uma dessas noites, bêbado, ele… abusou de mim na frente do meu irmão. Logo depois, tentou se enforcar diante de nós. Não morreu — foi levado ao hospital —, mas depois desapareceu. Um trauma que carrego até hoje. E que jamais esquecerei.
Aos treze anos, me mudei para o México para morar com minha avó materna, a quem sempre fui muito apegada. Meu avô... ainda mais. Agora, estou prestes a completar dezesseis anos. Faz três anos que não vejo as pessoas que foram minha vida inteira. Minha avó, Yaya, trabalha na XIX Entertainment e, há três anos, descobriu um câncer. Foi por isso que decidi morar com ela — com medo de perdê-la.
Neste momento, estamos no avião, voltando ao Brasil. O grande sonho da minha avó sempre foi me ver debutar, e mesmo não tendo feito festa de quinze anos, ela me convenceu a fazer algo diferente para os dezesseis: uma festa cover em homenagem ao grupo N.U., de quem somos fãs. Sim, ela quer fazer uma seleção de integrantes para o "novo N.U." — e, conhecendo a Yaya, não vai parar por aí.
Meu maior medo agora? Voltar para a Golden House. Faz anos que não piso lá, e tudo mudou...
A Golden House é nossa casa de verão, passada de geração em geração entre várias famílias amigas. Na adolescência, meus avós e seus amigos criaram a União DELMM (Departamento de Esporte, Lazer, Moda e Mais). A empresa cresceu, as famílias se uniram ainda mais, e quando seus filhos nasceram, todos passaram a frequentar o casarão dos Goldenberg — batizado carinhosamente de "Golden House".
Crescemos lá. Nossa infância foi feita de risadas, esportes e amizades fortes. A União expandiu e hoje tem escolas de vôlei, futsal, artes marciais... De tudo um pouco. Minha irmã, Sasha, seguiu o caminho da dança. Eu? Me encontrei no vôlei, mas também sou boa em artes marciais e dança. Meu irmão Jean é fascinado por luta, mas também ama vôlei.
O time da União é uma lenda na nossa cidade de verão. Muitos acreditam que só quem é "de dentro" consegue entrar — o que, claro, é uma grande mentira.
— O que você tanto escreve nesse caderno, Belli? — perguntou minha tia Daiane, curiosa.
— Ah, nada de mais... só algumas coisas particulares — desconversei, tentando mudar de assunto. — Já estamos chegando?
— Acho que sim. Já escolheu seu príncipe? Vai ser algum dos meninos da União?
— Não sei... nem sei se vou querer príncipe.
— Vai ter príncipe sim! E tem que ser um bem gatão — disse Yaya, sorrindo de canto.
— Vó! Isso é coisa que se diga?
