Intenções e mudanças

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O vento já soprava forte naquela madrugada fria e solitária. Dentro de uma das casas do território Senju, a lareira tremeluzia em tons alaranjados iluminando as faces misteriosas de Hashirama e Tobirama que ainda se encaravam não emitindo nenhum som por um período longo de tempo. O mais novo foi pego em flagrante pelo irmão mais velho e não conseguia encarar por mais que alguns segundos a face tão séria e incomum de Hashirama que o observava aguardando que este iniciasse suas explicações. Após mais alguns minutos e dando-se por vencido, o Senju de olhos vermelhos suspira impaciente, resolvendo iniciar a conversa e pôr um fim em tudo aquilo.

– Sobre o que quer conversar, ani-chan?

Indaga ao rapaz de cabelos acobreados ainda que tivesse um mínimo de ideia do que o outro gostaria de conversar.

– Não seria óbvio? Quero saber por onde andava. Na verdade, me interesso em saber o que está fazendo nesses seguidos dias em que se manteve tão aéreo e distante.

O mais novo suspira e desvia o olhar fitando as chamas da lareira que aquece o ambiente escuro da casa que um dia fora de seus pais.

– Estive resolvendo um problema que eu mesmo criei.

Disse simplesmente recebendo em resposta um silêncio mortal de Hashirama que parecia estar raciocinando a resposta enigmática do irmão mais novo. Tobirama previu que provavelmente ouviria uma indagação vinda do outro e já massageava as têmporas pela dor de cabeça que viria, quando, de repente, o shinobi de pele amorenada lhe surpreendeu com apenas uma afirmação.

– Você esteve visitando Izuna, não é?

A face tão concentrada de Tobirama se desarma e como num gesto beirando ao ridículo se afoga com a própria saliva tossindo de forma exagerada sendo até mesmo socorrido pelo próprio irmão.

– Eu estou bem – Dispensa a ajuda oferecida pelo outro e se encolhe ainda abalado pela a própria reação tentando retornar a sua costumeira postura neutra. Pensou em negar e inventar qualquer tipo de desculpa, no entanto sabia que não conseguia mentir para seu irmão, além da cena incomum ter sanado qualquer dúvida remanescente – C-Como você sabe?

– Você não é tão enigmático como pensa que é Tobirama – O líder do clã Senju sorri minimamente com um ar humorado e chega perto do irmão deixando algumas pequenas batidas no ombro alheio – Apesar de me surpreender com essa atitude, eu fico feliz que tenha se arrependido do ato que fez. Isso quer dizer que papai não lhe transformou inteiramente como pensei que ele havia feito.

– Como assim? – A dúvida domina o Senju mais novo e o vinco na testa é formado enquanto refletia profundamente as palavras do irmão.

– No decorrer de seu crescimento, eu conseguia perceber o quanto você se ia se aproximando consideravelmente do nosso pai e até mesmo compactuando com os ideais dele. Mas, eu estava tão focado em tentar arrumar esse mundo cruel sozinho que simplesmente negligenciei te deixando só e praticamente refém disso tudo. Eu sinto muito, Tobirama. Eu não fui o irmão mais velho para você quando mais precisou e ao presenciar aquele acontecimento com Izuna eu realmente pensei que poderia ter perdido mais um irmão vítima desse ódio sem fundamento.

Hashirama suspira com um brilho de tristeza no olhar e leva uma de suas mãos até os cabelos de Tobirama os bagunçando levemente em um carinho desajeitado recebendo um resmungo em resposta.

– Eu fico feliz e aliviado por saber que ainda existe algo bom em você. Soube que Izuna teve uma inesperada recuperação. Foi você, não é? Sempre tão inteligente, eu não me surpreenderia caso tivesse talento medicinal no meu já afortunado irmãozinho.

Sorri de modo alargado fazendo com que o próprio Tobirama – ainda calado e surpreso em reação a tudo o que o outro rapaz dizia – esboçasse um sorriso pequeno e tímido ao ser elogiado pelo irmão. De fato, quando Tobirama era uma criança, a falta do irmão mais velho era costumeira para si. O rapaz se sentia abandonado pelas vezes em que Hashirama se esgueirava pela floresta e o ignorava. Mas, com o decorrer dos dias e a presença de Izuna que supria a aparente falta de companhia fizeram com que o Senju mais novo parasse de sentir qualquer ressentimento que tinha pelo maior. Ao invés disso, passou a crescer em si uma responsabilidade gigante que o próprio pai ajudava a modular. O extremo cuidado que Tobirama sentia em querer tomar conta de tudo e também de Hashirama o fez se ressentir de Madara que sempre causou grandes incômodos para o mais velho. Ainda sim, o mais novo não conseguia por a culpa no outro e por isso logo rejeitou a ideia do pedido de desculpas do irmão.

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