é a vida

(1) único

sabrina gostava de calor. mas gostava quando podia ficar tomando sol na piscina de sua casa e bebendo álcool escondido dos pais, enquanto eles faziam mais uma "viagens de negócios". não gostava de ir para a escola no calor. 

mas... para ser sincera, sabrina não gostava de ir na escola em geral. nem em chuva, nem em calor, ou frio, ou qualquer tipo de variação climática.

a garota era uma pessoa difícil de lidar, e todos que conviviam com ela sabiam disso. encrenqueira e metida eram as palavras que mais eram ligadas com seu nome numa roda de conversa de fofoqueiros.

em sua defesa, não era fácil viver com seus pais, e uma coisa leva a outra.

estourou uma bola de chiclete enquanto mexia no celular, já que seu adorado pai estava ocupado com outras coisas que não sua filha levando uma terceira suspensão na escola comandada por freiras e que ainda estava matriculada em tal escola por um simples motivo: dinheiro.

um bando de freiras safadas.

e ele só conseguia falar nessa merda de carro importado em que ele pagou sei lá quanto e que está dando um barulho inconveniente (mas é tudo coisa da cabeça dele) e que agora seu pai se encontrava humilhando mais um pobre coitado vítima do sistema capitalista, que só está trabalhando para sobreviver, e que não tem nada a ver com a história da porra do carro. 

mais um caso lugar errado, na hora errada.

suas costas estavam colando na merda desse banco de couro desse carro do caralho, e dentro do carro estava extremamente quente apesar dessa outra merda do ar condicionado ligado no máximo, e sabrina resolveu abrir a porta, deixando uma leve brisa passar.

o vento entrando foi um alívio, e por um momento um breve pensamento rodeou sua cabeça, imaginou sua vida como uma outra pessoa. amada pelos pais, não sendo odiada por metade da escola, e quiçá, até gostando de ir às aulas. futura médica, quem sabe?

mas, do mesmo jeito que entrou, a imaginação saiu, sem deixar vestígio qualquer de desejo de mudança de vida.

essa é a vida.