Querida Evi,
Sei que se surpreendeu quando o criado lhe entregou a carta e pôde ver meu nome nela, afinal, não temos nada a dizer um para outro. Mas estou morrendo. E essas são as últimas palavras que escrevo em um papel, minhas últimas palavras ao mundo, ao meu mundo, você. Não sei se deveria estar grato e feliz por ter consciência que é a última vez que escrevo, porque tantas pessoas morrem repentinamente, não tendo a chance que tenho de confessar pecados e paixões, mas sou egoísta, então lhe direi que a espera da morte é muito torturante e incerta. Sei que esse não é meu último dia, e que passarei os meus restantes pensando no que lhe disse aqui, me arrependendo e desejando reescrever, porém, não terei forças para vir até a escrivaninha e fazê-lo. Me desculpe, receber palavras de alguém que tanto mal lhe fez já é insuportável por si só, e se torna pior quando são últimas palavras de um pecador arrependido, mas só queria ter certeza que iria sem tal arrependimento.
Preciso agradecer pelos anos que me agraciou com companhia tão prazerosa, a qual nunca dei o valor devido. Agradeço pelos únicos olhares de verdadeira compreensão e compaixão que recebi, pela geleia de morangos e pelos biscoitos no inverno, pelas cartas recebidas no observatório, que sempre vinham acompanhadas com um de seus desenhos rabiscados, suas flores ressecadas. As flores que nunca recebeu.
Não fui o homem que você merecia, e me sinto grato a Deus por ter percebido isso antes de me deixar estragar sua vida, seu sorriso. Agradeço por ter me mostrado o amor, suas coisas, roupas favoritas e suas mãos quentes. Por ter me levado em seus lugares favoritos. Aquelas ruínas ainda estão inteiras? E nossas assinaturas, ainda estão imortalizadas no mármore?
A verdade é que sinto sua falta, senti muito sua falta até chegar aqui. Me perguntei como podia observar estrelas quando deixei a mais bela me escapar. Você sempre foi o Sol paciente que iluminava planetas errôneos, enquanto eu sempre fui uma supernova, prestes a explodir. Preferi observar as estrelas que formavam desenhos no céu, mesmo quando tinha um universo lindo ao meu lado, um universo inteiro. Você sempre dizia que amava meus olhos verdes, que pareciam um campo, mesmo quando eles só lhe davam desgosto, sempre beijou os lábios que lhe diziam coisas que a fazia chorar. Você, Evi, foi minha salvação, e sua falta me levou a ruína, e eu sempre fui sua ruína, minha falta lhe salvou. Anjo que eu não merecia. Por favor, amaldiçoe o homem que eu era por mim.
E como Sebastian está? E as crianças? Espero que todos estejam bem, para que você possa olhar eles brincando pela janela, como dizia que faria.
Nunca irei me esquecer de você, querida, juro por minha vida escassa e já no fim, nunca irei me esquecer de suas coisas favoritas, de sua animação e sorriso, do sabor da sua comida, da sua boca, da temperatura de suas mãos. Espero que o amor de um homem tão mal não lhe traga sentimentos ruins, pois saiba que foi a única, sempre será, que aqueceu-me a alma. Seja feliz por mim, lieve schat.
Ik hou voor altijd van je bij alle sterren aan de hemel.Evert.
Eu te amo, para sempre, por todas as estrelas do céu
Notas finais
My Dear Evi é meu primeiro one shot, muito significativo para mim. A ideia surgiu de repente, quase como obra do acaso, e preciso agradecer esse acaso. Escrever isso foi tão rápido, mas teve muito significado, me fez amar cada linha, vencer a luta de palavras da minha mente, pela primeira vez.
Fico incrivelmente feliz de publicar, e mais feliz ainda de anunciar que esta história não termina aqui.Em breve...
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My Dear Evi
RomanceCoisas a serem resolvidas nunca parecem acabar. É preciso dedicar tardes para todas as cartas de negócios que Bas recebe, todos os convites, que parecem nunca terminar. "Caro Sebastian Van de Berg." "Excelentíssimo Sebastian Van de Berg." "Querido...