Buscava desesperadamente um personagem... mas todos que me apareciam na mente já existiam...
Mas de repente ele apareceu. Abri a porta do quarto e dei de cara com ele. O tempo parou de passar num instante. Quem era aquele cara? Não é possível que é ele. Depois de tanto tempo buscando ele é assim desse jeito? Me ponho a pensar... Talvez ele seja perfeito para o que eu estou querendo fazer. Mas eu ainda nem sei o que eu quero!
Só digo sem pensar:
– Entra cara, nós precisamos conversar!
Ele assente e entra sem dizer uma palavra e se senta na cama diante de mim. Ele não é muito grande, mas é o que a maioria das pessoas chamaria de alto. Usava uma jaqueta preta, que parecia que estava na moda, só que 30 anos atrás. Mas faz parte do estilo. Cabelo curto, castanho e meio espetado, lápis de olho preto e calça jeans meio rasgada. Será que meu personagem era algum tipo de punk? Onde eu fui me meter... Mas digo:
- Você pelo menos toca algum instrumento? Você tem cara de que saiu de uma banda de rock diretamente dos anos 90. – rio alto
- Cara, o que você escrever que eu sei fazer eu vou fazer! – ele retruca – Eu nem tinha roupa nenhuma antes de você escrever que eu tenho.
Mas o sarcasmo veio embutido pelo visto eu noto. Faço uma observação mental de que as primeiras roupas sempre trazem o básico da personalidade de um personagem.
Agora ele tem uma guitarra nas mãos e sua voz é estranhamente afinada ao mesmo tempo que traz uma sensação muito forte junto. Cara, ele era bom cantando! Fico admirado com seu talento. Fico imaginando qual seria o repertório dele. Agora que ele já está imaginado eu não sou tão livre mais para criar, posso mudar um detalhe ou outro, mas as características centrais têm que estar de acordo com a semente inicial. Posso escolher o que plantar, mas a colheita é obrigatória. Dito isso peço para ele tocar Pet Sematary, todos os meus personagens vêm com essa música de fábrica. Vejo a melhor execução possível dessa música na sua guitarra.
Caramba esse cara tinha tudo mesmo. Tinha que ser ele. Tento evitar uma empolgação muito cedo. Ele ainda nem tinha me dito seu nome. Pelo menos ele não exibia nenhum sinal de uso de drogas ilícitas, parecia estável de personalidade. Então começo a perguntar o que aconteceu com ele, e ele me conta sua história. Aparentemente ele dormiu no carro após um show num bar de rock qualquer. E acordou aqui na minha porta. Bela história de fundo eu penso, dá margem para muitos tipos de história diferentes. Teoricamente ele tinha sido criado no momento que eu abri a porta (ou seria quando eu escrevi isso?) mas esses questionamentos não importam muito, ele já existe e tem uma história. Isso é o que importa. A partir de hoje ele vai morar comigo enquanto eu escrevo a história da qual fazemos parte. Vamos decidir os rumos a tomar juntos, discutir os detalhes e quem sabe até trocar dicas de moda. Isso vai ser muito interessante. Mas preciso de um nome para ele.
- Qual seu nome? – pergunto parecendo bem idiota.
- Não é óbvio? Você sabe exatamente qual meu nome. Você me trouxe aqui.
- Cara, eu não faço ideia de qual seu nome – falo de uma maneira quase patética
- Nossa grande autor você é! Como você me cria um personagem sem dar nome? – Daniel retruca.
- Pronto agora você tem nome, eu escrevi ali em cima, seu nome é Daniel, mas eu prefiro Dan, combina com o seu estilo. – Eu digo. Sinto uma sensação poderosa, é ótimo ter o controle da história.
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Experimentação
RandomVou deixar aqui algumas escritas livre que vou fazendo despretensiosamente ao longo do tempo. Fico muito por quaisquer sugestões. Pretendo trazer criações inesperadas, um jeito de liberar a criatividade no dia que estiver travado.