capítulo único.

788 117 8
                                    

Poderia um artista, fazer sua arte sobre uma tela tão talentosamente bem, tanto quanto conseguia expirar a mesma arte que preenche os vazios em brancos dos papéis, por todos os poros de seu corpo? 

 Esses eram os pensamentos que tornavam a mente de Hua Cheng ao ver seu amaeo pintá-lo. O olhar focado em observá-lo, esforçando-se para ver ver minuciosamente o menor dos detalhes para retratar-lo com maior precisão, os lábios de tons claros de rosa levemente retorcidos um sobre o outro demonstrando sua concentração, o rosto belo sujo de tintas de diversas cores misturando-se, as mãos as quais seguravam o pincel que sequer tremia enquanto estava em posse do mais velho, o cabelo preso em um coque despojado que estava quase se desfazendo, o moletom que um dia havia sido braço, quase tão sujo quanto o dono, todos os pequenos detalhes formavam a arte mais linda que Hua Cheng já havia visto, e ele não precisava ser um grande apreciador de arte para ver isso.

 Quando se tratava de Xie Lian, ele não precisava de muito para ser feliz, ou para ter aquela sensação de conforto que um dia havia sonhado em ter ao lado do mais velho. Se o preço que tivesse que pagar para continuar por mais tempo ali acompanhando o olhar de Dianxia cada vez que ele olhava para si, era apenas ficar com os membros dormentes, ele faria aquilo sorrindo sem sequer tremer a face.

 — Você quer fazer uma pausa? — Perguntou cautelosamente Xie Lian, repousando o pincel na mesinha que havia arrastado para perto do cavalete. O olhar preocupado demonstrava o quanto se preocupava do outro não estar confortável em estar por tanto tempo na mesma posição.

  Hua Cheng riu de forma suavemente anasalada para então dizer: — Gege não deveria se importar com isso, certo? Você deveria terminar sua pintura. Se eu me mover agora, gege não perderia o fio da meada? 

 — En… Mas ainda acho que deveríamos fazer uma pausa, você está na mesma posição a duas horas San Lang. — Insistiu o homem de coque, contando como uma vitória interna ao ver o outro homem levantar do sofá. O barulho das articulações estralando era ouvido em bom som, provando o ponto do mais velho. — Viu?

 — Creio dizer que gege é muito atencioso com esse humilde rei fantasma, oh. — O tom risonho poderia ser facilmente notado nas falas de Hua Cheng, que andava em passos lentos em direção ao marido.

 — Você está apenas me bajulando para me deixar envergonhado. — Xie Lian afirmou, desviando olhar para o quadro que estava quase pronto. Aquele poderia ser considerado um de seus melhores trabalhos em toda a sua vida de Deus, — e também na sua vida de artista, desde que secretamente havia adotado aquele hobbie por diversão. 

— Talvez. — O homem vestindo vestes despojadas, usando sua tão clássica roupa vermelha, que, com o passar dos anos mortais tornou-se não adequada aos olhos, abaixou-se pescando a mão do mais velho levantando-a até a altura dos lábios, dando um beijo nas costas da mão do outro homem.

 — San Lang! Minha mão está suja de tinta! — Avisou Xie Lian mesmo ainda quando segurava de volta o mesmo aperto da mão do outro. Os cabelos castanhos presos caíam como cascatas de águas barrentas pelas costas do homem, mas ele nem havia percebido isso. Estava mais embriagado pela sensação de ter Hua Cheng tão próximo de si, e como era gostosa a sensação de ter seu rosto agraciado pelo calor da respiração do mesmo.

 — San Lang… — Sussurrou Xie Lian antes de se afogar entre os lábios do marido.

 As eras passam como raio, arrastando com elas a mudança do tempo. Afinal, tudo muda, o tempo, a moda, os deuses, nada escapava da mudança constante. Mas, Xie Lian sabia de uma coisa que nunca mudaria, e nunca mudou em todos os quase dois mil anos o qual estava com o antigo rei fantasma. O amor que nutriam nunca havia mudado.

 E se querem saber a resposta do primeiro parágrafo dessa história entre dois seres imortais? A resposta é: sim. Poderia sim um artista, fazer sua arte sobre uma tela tão talentosamente bem, tanto quanto conseguia expirar a mesma arte que preenche o branco dos papéis por todos os poros de seu corpo.

  A resposta era sim porquê para Hua Cheng, Xie Lian era a arte em todos os sentidos, até mesmo quando não era intencionado. 

 A resposta era sim porquê para Xie Lian, a inspiração para ser um artista dormia todos os dias ao seu lado de manhã.

 A resposta era sim porque para os dois, o amor de ambos era como o quadro mais bem preservado dentro de um museu, protegido contra os maus tempos ou contra opiniões de terceiros. Para sempre imaculado, e imortal.

Arte - HualianOnde histórias criam vida. Descubra agora