Prólogo Pt.1

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Um grupo de crianças brincava na rua em uma manhã de domingo em um subúrbio comum. A bola passava de um pé para o outro, enquanto risadas eram trocadas entre as crianças. Os pais assistiam de longe, enquanto tomavam suco e conversavam entre si.

Fabian, um garoto particularmente magro, carregava a bola com os pés, sorrindo com a expectativa de marcar um gol. Porém, pouco antes de chutar, sentiu um impacto nos seus pés. Um garoto de estatura muito superior à de Fabian havia chutado seus pés para fazê-lo cair. No chão, o garoto sentia-se humilhado enquanto as crianças riam apontavam. Sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto, a qual limpou prontamente.

-Isso é injusto! -Fabian gritou, levantando-se do chão.- Foi falta.

-Cala a boca, chorão. -Russel, o garoto maior respondeu. -Não tem falta no jogo de rua. Levanta e continua a jogar.

Em meio à discussão, um garoto loiro, pouco menor que Fabian, pôs-se ao lado do amigo.

-Deixa pra lá, Fabian. -Disse Ryan, com a mão no ombro do amigo. -Você consegue na próxima.

Fabian limpou a sujeira de suas roupas, recuperando-se na corrida atrás da bola. Seu amigo atrás. Pouco tempo depois, se encontrara com a posse da bola novamente. Correndo em direção ao gol. De repente, sentiu o familiar impacto nos pés, caindo novamente ao chão.

-Você está fazendo de propósito. -Gritou o garoto, levantando-se rapidamente em meio aos risos dos colegas.

-Para de chorar, moleque. Eu já disse que não tem falta no jogo de rua.

Fabian encarou o garoto, olhando de baixo. Se aproximava agressivamente, com seus punhos cerrados, seus olhos fixos no do garoto maior. O garoto parou de rir com a aproximação de Fabian. Seus olhos encontraram o do garoto que vinha em sua direção. Mas, antes que Fabian pudesse começar sua luta, a cena foi interrompida por um grito cortante do garoto. Um grito que fazia parecer que estava sendo atacado por uma criatura grotesca. Fabian não entendeu o que estava acontecendo. Só podia ser uma brincadeira.

-O que houve? -Fabian abaixou seus punhos, frustrado com a ideia de estar sendo vítima de mais uma piada.

-Sai de perto de mim! -O garoto gritou, iniciando sua corrida para longe de Fabian.

-Você está maluco? -Fabian gritou. -Volta aqui.

 Mas o garoto não parecia dar atenção aos gritos dos colegas. Ele apenas continuou correndo, aterrorizado, para longe de Fabian. Até que alcançou uma esquina, de onde vinha um carro em alta velocidade. As crianças entraram em choque ao ver o que, segundos atrás, era um garoto completamente saudável, se tornar uma massa de ossos e órgãos indistintos. 

 Fabian permanecera parado, congelado em seu choque, por alguns segundos, repetindo a cena que acabara de testemunhar em seus pensamentos. O garoto que, poucos instantes atrás, queria agredir, agora não passava de um amontoado de carne e ossos no asfalto quente da rua. As crianças gritavam atrás do menino, chorando em pânico, enquanto uma das mães corria para ver mais de perto o que acabara de acontecer, talvez com alguma esperança de encontrar o garoto ainda vivo. 

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 Alguns dias haviam se passado desde o incidente. Fabian ainda reprisava o acontecido em sua mente periodicamente. Tentava compreender o que levara um rapaz tão valente a correr de uma mera ameaça de um garoto cuja força se comparava à de um rato perto do menino que enfrentava. O que poderia ter trazido a tona um medo tão desesperador que o levara a correr em direção à sua morte? Fabian não conseguia compreender o que ocorrera, mas se sentia completamente culpado pela morte do colega. 

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