Untitled Part 1

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Já não consigo contar os dias que estou ao lado dele, já estivemos juntos em momentos intensos como testes e candidaturas. Fiz tudo por ele e ele nunca me agradeceu, sou apenas apenas uma ferramenta do quotidiano do meu “servo”, usa-me e quando já não precisa de mim volta a guardar-me no estojo. Mas eu sou atento, posso ser uma pedra, imóvel, e sem capacidade de comunicação, mas sei o que ele escreve e isso é arma mais forte que tenho contra ele. Se pudesse dir-lhe-ia bastantes coisas, ensinava-lhe o que era um parágrafo, isso sem duvida dava-lhe jeito, informava-o de que existem existem dicionários à venda e que sempre que tivesse uma dúvida em relação a ortografia, que podia consultá-lo. Assim evitava a vergonha de dar erros no ensino superior. As vergonhas que já passei com ele!

   Isto tudo é o mínimo do que ele me faz passar, conseguia viver perfeitamente a vida inteira, mas há algo que não perdoo, e isso é a razão da nossa rivalidade , falo da pressão imensa que ele faz quando me segura . Ao longo de todos estes anos o calo que ele tem no dedo médio da mão esquerda tem vindo a crescer, e cada vez que ele me segura, apesar de ficar feliz por estar a desempenhar o meu papel  sofro bastante com toda a força que ele exerce em mim. Posso ser uma pedra, mas as pedras também quebram.
   Hoje pela primeira vez na minha longa vida foi-me atribuída liberdade por um dia. Tenho a liberdade de fazer o que quero sem ter que obedecer àquele humano imbecil, e aproveitei, naturalmente, para o criticar. Aviso a quem estiver a ler isto que este é o grande erro do meu caro amigo, se lhe for atribuído um objectivo de escrita, um tema a desenvolver, ele foge-lhe completamente. Sempre achei que fosse um défice de atenção. Quando escreve, a cabeça dele é um céu azul sem nuvens,  e à medida que as palavras e o tempo passam, as nuvens vão aparecendo, representando as ideias. Ele segue sempre as piores nuvens nas piores alturas, nas alturas de escrever.

Se eu fosse um lápisOnde histórias criam vida. Descubra agora