Gira, sol! - ShiIta

Único

Notas inicias:

Narrado por Itachi. Boa leitura!

...

A primeira vez que dediquei uns minutos da minha atenção a você, nós tínhamos dez anos. Éramos da mesma sala e de forma aleatória a professora nos separou em duplas, pedindo que cada integrante definisse o outro em apenas uma palavra.

Nós não nos conhecíamos, mas a ideia era exatamente essa. Era o primeiro dia de aula e ela queria nos ensinar uma lição sobre pré-julgamentos ou algo assim, não me recordo. Me lembro de ter olhado para o seu rosto enquanto pensava, logo após você dizer seu nome e sorrir de forma larga, fechando os olhos e inclinando levemente seu rosto.

Me despertou a curiosidade já com esse gesto, afinal, eu era muito tímido e embora não fosse antipático, não costuma distribuir sorrisos dessa forma.

Felicidade. Foi o que eu disse e seu sorriso aumentou quando deu um leve riso que me deixou extasiado o suficiente para não ter escutado o que a professora disse logo após, nem o que você respondeu a ela.

Depois daquele dia, toda vez que eu te olhava você sorria e era genuíno, inocente, parecia realmente apreciar a minha presença. Eu sentia meu rosto aquecer e desviava os olhos dos seus tão brilhantes, mas após alguns sorrisos, eu sorri de volta e foi quando você decidiu falar comigo.

Eu percebi que, apesar do ensinamento da primeira aula, você era realmente uma pessoa alegre. Era algo seu. Você era muito gentil com todos e educado. Amava cachorros e se tem um animal que representa a alegria, é esse.

Poucos anos convivendo com você foram necessários para saber que eu estava equivocado. A sua aura, tão atraente a todos, não se devia ao seu imenso e tão cativante sorriso, mas à sua essência por um todo.

Você era como o sol.

E de forma não literal, necessário para a minha sobrevivência, como se eu fosse uma planta, daquelas cuja a luz do sol é essencial para a vida.

E digo mais, notei exatamente qual espécie de planta eu era em certa ocasião.

Tínhamos dezesseis anos quando passei por um dos dias mais difíceis da minha vida. Eu era apaixonado por dança, cursava balé desde os oito anos e naquela tarde, participaria de um concurso que me permitiria ingressar em um dos melhores cursos de dança do país. Você, como meu melhor amigo, esteve ao meu lado durante a manhã, assistindo meu último ensaio, enxugando minhas lágrimas de frustração pelo erro que eu insistia em cometer.

— Eu não consigo, droga! — Praguejei pela décima vez durante aquela hora, sentado no chão, no meio da sala e como todas as vezes, você se aproximou, ajoelhou na minha frente e ergueu meu rosto com a ponta dos dedos.

— Qual é o problema, Tachi? — A voz suave questionou e eu desviei meus olhos marejados para os dele.

— Eu preciso conseguir essa bolsa. Você sabe que meus pais não apoiam que eu siga essa carreira. Eles não vão me ajudar a me manter e... — Falei, a voz embargada me fazendo soar pouco compreensível, mas como sempre, você entendeu.

— Eu sei de tudo isso, me refiro ao passo que você tá errando. — O olhei confuso. — Eu não entendo nada de dança, você sabe bem disso. — Falou, me fazendo rir, ele se referia ao baile de primavera que fomos juntos e após muita insistência, eu aceitei dançar com ele, percebendo, na hora, os seus dois pés esquerdos. — Mas tem uma técnica, certo? A parte teórica do passo em si, não é? — Com a sua lógica, característica de um futuro advogado, ele perguntou.

— Sim.

— Me explica? — Pediu e eu pensei em uma forma simples de dizer.

— É chamado de grande pirueta ou pirueta à la seconde. — Me levantei. — É um giro. Os pés devem estar em quinta posição, no início. — Apontei para os meus pés, o direito apontando para o mesmo lado e o esquerdo da mesma forma, para o lado oposto, um na frente do outro. — Os braços em segunda posição, abertos. — Mostrei para ele. — Então flexionamos as pernas e damos impulso, erguendo uma das pernas em noventa graus em meio ao giro. — Ele prestou atenção em cada palavra. — Além disso, temos que olhar para um ponto específico para manter o equilíbrio.