Guarda-chuva perdido

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Construa novas memórias

Dongheon, certa vez voltando da aula de dança, foi pego de surpresa pela chuva. Para se proteger, acabou entrando na primeira loja que viu pela frente.

Por sorte era uma lojinha de quinquilharias, onde se encontrava todo o tipo de coisa.

O rapaz nunca tinha entrado ali, e para esperar a chuva passar, decidiu explorar o local. Realmente se encontrava de tudo pelas prateleiras de madeira e acrílico, ou pelos balcões nos cantos das paredes. Dongheon ficou encantado pela quantidade de coisas velhas que, certamente, um dia foram úteis para alguém, mas que agora repousavam esquecidas em estantes que só não juntavam poeira porque a dona da loja fazia questão de limpá-las todos os dias.

No meio daquele enorme antiquário, um objeto em especial chamou mais a atenção de Dongheon: um guarda-chuva roxo dentro de um suporte com outros guarda-chuvas coloridos. Dongheon o pegou. O objeto não era muito velho, mas também não muito novo, também não era nem muito grande e nem muito pequeno. Era perfeito!

Daquele dia em diante, Dongheon e o guarda-chuva roxo se tornaram inseparáveis naquela cidade de chuvas constantes.

Mas não muito tempo depois, Dongheon conheceu ele.

Por ironia do destino, chovia toda a previsão para o mês de agosto em uma única noite, e Dongheon e seu guarda-chuva voltavam para casa depois da aula de dança, quando viram o rapaz de cabelos descoloridos todo ensopado, andando cabisbaixo pela calçada no meio da chuva. O coração de Dongheon apiedou-se, e em seu convite inesperado, para que o rapaz de cabelos quase brancos e sorriso tímido entrasse debaixo do guarda-chuva, nasceu uma bela amizade que na primavera seguinte se transformou em paixão.

Foram felizes juntos, Dongheon, o guarda-chuva e seu querido amor. Porém, como a chuva que cai e logo vai embora, o rapaz de cabelos descoloridos quis partir, e assim o fez, deixou Dongheon, o guarda-chuva roxo e foi embora daquela cidade chuvosa.

Dongheon até tentou, mas seu estimado guarda-chuva roxo sempre o fazia se lembrar dele, de seu sorriso tímido como a luz do sol ao nascer de cada dia, das íris em tom de castanho bonito que combinavam tão bem em seus olhos cheios de gentileza, dos cabelos, dos abraços e da voz morna que lhe aquecia o peito como café ou chocolate quente.

E, sem perceber, Dongheon se viu escrevendo um bilhete dedicado ao universo e a toda a sua tristeza. Colocou-o dentro de seu guarda-chuva e o levou para longe, mas não muito longe, pois aquele ponto de ônibus ficava a algumas ruas de distância de sua casa.

— Longe dos olhos, mas não muito distante do coração — disse Dongheon, deixando seu antigo guarda-chuva debaixo do banco de ferro do ponto de ônibus. — Adeus, velho amigo!

Choveu no caminho de volta, mas Dongheon não se importou. Foi bom ter sido molhado pela chuva fria, pois depois de muito tempo conseguiu sentir algo além da dor das feridas cicatrizando em seu coração partido.

A vida seguiria outro rumo, faça chuva ou faça sol, e Dongheon estava disposto a construir novas lembranças e desejava que seu (já não mais seu) guarda-chuva roxo também pudesse fazer parte das memórias de outra pessoa.

Mas uma coisa engraçada acabou acontecendo numa sexta-feira à noite, quando retornava do cinema.

Na calçada de uma loja de discos, um rapaz de cabelos vermelhos tocava violão enquanto cantava uma canção de sua própria autoria. A música contava a história de um guarda-chuva roxo que viveu junto de seu dono muitas alegrias — mas também muitas tristezas — e que, depois de um tempo, decidiu partir para que seu antigo dono pudesse seguir em frente e criar novos laços e ver outros horizontes.

Dongheon achou que era coincidência, que era sobre outro guarda-chuva que o rapaz ruivo falava, mas notou aos pés da caixa de som usada pelo cantor o seu antigo guarda-chuva roxo e sorriu.

O guarda-chuva propositalmente perdido tinha de fato encontrado um novo lar, e saber disso o deixou imensamente feliz.

Quando Gyehyeon terminou sua apresentação e recolheu os cabos de seu violão e os guardou, percebeu que um rapaz o encarava, parado na mesma calçada que ele.

— Tudo bem com você? Algum problema? — Gyehyeon achou estranho, mas nem por isso deixou de ser gentil.
Dongheon sorriu novamente. Se aproximou e disse:

— Você canta muito bem, meus parabéns!

— Oh, obrigado! — agradeceu meio desconcertado.

— Foi você que compôs essa música?

— Sim, com a ajuda de um guarda-chuva. Estranho, não?

Dongheon sacudiu a cabeça.

— Não, nem um pouco estranho — sorriu.

Não choveu naquela noite, mas no dia seguinte a chuva veio para molhar o solo e fazer germinar a pequenina semente de amizade que nasceu entre Dongheon e Gyehyeon.

Notas finais:
obrigada por chegar até aqui, caríssimo(a) leitore! tu eres um girassolzinho 🌻

foi isso, beijos, se cuidem e adotem gatinhos 🐈💜☂️

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