Capítulo Único

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Mesmo com todas as lendas que as pessoas do vilarejo contavam sobre o castelo Dimitrescu e suas habitantes, você se arriscou a trabalhar como empregada naquele lugar. Você era apenas uma órfã que era ajudada pelas pessoas a sobreviver, nada mais que isso. Diziam que sua mãe havia morrido no parto e que seu pai tirou a própria vida no mesmo dia, você trazia má sorte. Talvez você nem mesmo devesse continuar viva, ouviu uma vez de um velho bêbado. No final das contas você sabia que ninguém sentiria sua falta, então não custava arriscar algo diferente. Pelo menos você tinha a chance de conseguir um lugar melhor para dormir e mais de uma refeição por dia.

Não era como se tivesse um processo seletivo muito grande, pelo visto não haviam empregadas o suficiente para manter aquele castelo enorme do jeito que ele deveria ficar, por isso você foi admitida sem muitas perguntas. A governanta do lugar te entregou o uniforme, um típico vestido preto de empregada sem muitos detalhes e mandou você se vestir. Depois, te levou até a entrada principal do castelo e de lá mostrou todos os cantos daquele lugar - ao menos os que você precisava conhecer no momento - e lhe dizendo sua lista de afazeres diários. Foi repetido incontáveis vezes que tudo deveria ser absolutamente perfeito, ou você sofreria as consequências. Quando você perguntou quais eram tais consequências, a mulher mais velha lhe segurou pelo pulso e parou por um instante, lhe encarando com olhos que pareciam ter perdido boa parte da sua vida ali dentro.

— Você não quer saber quais são, muito menos encará-las. Apenas lembre-se de que o menor dos seus erros pode custar a sua vida.

Ela saiu andando e você ficou parada por alguns segundos, digerindo aquelas palavras antes de despertar com um som alto e ritmado percorrendo os salões, sua deixa para correr atrás da governanta. Ela abriu uma daquelas portas que davam pra locais cada vez mais confusos e lhe empurrou para dentro, entrando em seguida. O som havia feito seu coração acelerar por puro medo e ela percebeu o quão pálida você estava.

— Bom saber que você teme pela sua vida -- Ela disse, te guiando até uma torneira para que você lavasse o rosto -- Pois você realmente deve. As filhas da Dama são cruéis para conosco e não é como se ela também fosse apegada a alguma de nós. Somos apenas ferramentas que ela pode substituir facilmente, então lembre-se de estar sempre funcionando para que não te troquem. Evite ficar na presença delas ao menos que seja necessário. Mantenha a cabeça baixa e seja sempre obediente. Assim vai durar mais tempo.

— O-o que era aquele som? — Você perguntou um tanto atordoada.

— Era a Dama Dimitrescu, dá pra ouvir os passos dela do outro lado do castelo. -- Agora ela sussurrava — Você com certeza ouviu o povo do vilarejo falar sobre ela, certo? Sobre o quão grande ela é?

— Achei que fossem apenas lendas...

— Pois não são. Não sei como ela conseguiu aquele tamanho todo, mas com certeza não foi de formas humanas. Falando nisso...

Houve coisas que lhe foram ensinadas e coisas que você infelizmente aprendeu na prática, como na vez em que as filhas mimadas de Dimitrescu fizeram uma empregada tropeçar e derrubar vinho em um quadro caríssimo. Ela nunca mais foi vista, mas, durante a noite, gritos desesperados interromperam seu sono várias vezes. Ou quando outra empregada demorou demais para atender ao chamado das senhorias do castelo e no dia seguinte apareceu com ambos os braços e pernas repletos de bandagens. Você sentia medo de que aquilo também acontecesse com você, mas não é como se sentisse empatia por suas colegas de trabalho. Todos aqueles anos dormindo em estábulos, comendo os restos das outras pessoas e sendo ignorada por todos acabaram... Matando algo no seu interior. Isso explicava a facilidade a qual você se acostumou com a crueldade e as coisas inumanas que exalavam daquele lugar.

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