Capítulo 1

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Pov Bruna
Eis uma coisa que ninguém te diz quando você namora um jogador: ele não tem tempo para você.
Ah mas Bruna, você reclama de barriga cheia, quer namorar um jogador de vôlei famoso, gato e campeão mundial e ainda quer que ele chegue em casa para ver um filminho com você toda noite? Quero.
E por isso que estou mais uma vez, sentada na mesa de um restaurante olhando a mensagem, que diz com muito carinho "vida, fiquei preso no treino, não vou chegar a tempo, podemos remarcar? Desculpa" e muitos emojis de carinhas tristes. Encaro e leio aquela mensagem 300x pensando no que fazer.
Não vou ir para casa, ah mas não vou mesmo, eu sempre entendo que o treino é trabalho, eu sempre entendo que o Bruno é o capitão e precisa dar o exemplo, tudo o que eu pedi foi uma noite para comemorar nosso um ano de namoro, avisei ele duas semanas antes e pedi para se programar. DUAS SEMANAS.
Sexta-feira à noite, meu namorado me deu o bolo em um restaurante. É nessas horas que eu agradeço o anonimato. Acho que vou precisar de algo mais forte do que essa água com gás que o garçom está me servindo. Comprei um vestidinho verde que ia deixar o Bruno bambo das pernas e ele nem vai ver. Junto toda dignidade que eu ainda tenho depois de ficar quase 40 minutos com cara de cachorrinho que caiu da mudança sentada na mesa, pago o restaurante, e me enfio no bar da esquina.

"Quanta gente estranha" é o meu pensamento assim que passo a porta de entrada, o lugar é abafado e faltam luzes, tem cheiro de todos os tipos de fumaça, vape, maconha, cigarro e vejo algumas pessoas com um narguilé no canto.

Eis mais uma verdade: não frequento bares.

Gente de mais, fumaça de mais, barulho demais e lugar para sentar de menos. Eu sei, nos auges dos meus 20 anos, eu deveria curtir a gandaia, e às vezes até curto, com meu namorado, quando me sento segura para dançar. Maldito Bruno. Continuo me empurrando entre as pessoas até o bar onde magicamente tem um banco vazio, acho que o universo está tentando me recompensar pelo bolo.

"Um gin, por favor" é o que consigo gritar ao barman, ele me serve a taça e olho para ela e mentalizo toda a minha raiva do Bruno, a raiva não é por ele estar trabalhando, não é pelas 1 milhão de vezes que já me deixou plantada pelos mais diversos restaurantes, a raiva é porque parece que ele não está tentando, parece que ele não se importa o suficiente comigo para sequer tentar. Depois de um ano, eu achei que as coisas teriam mudado. Mentalizo também toda mágoa que estou sentindo, e bebo em três goles todo o gin.

"Uma cerveja, por favor" eu grito ao garçom novamente.

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POV Bruno

"Porra porra porra porra" é tudo o que a minha cabeça formula quando eu chego em casa e não encontro a Bruna. Agora eu realmente fiz merda. Depois que ela não respondeu minha mensagem que não ia conseguir chegar ao restaurante, continuei enviando e ligando, a minha esperança é que ela estivesse em casa.
Bruna é a mulher mais compreensível do mundo, todas as vezes que eu não consegui ir, ou me atrasei, ela sempre me respondeu "Bruno, tudo bem, o trabalho vem primeiro, não é como se eu fosse morrer se a gente não jantasse junto uma noite" e eu acho que fiquei confortável nessa situação, confortável de mais. Mas é quando eu percebo que estou sozinho no apartamento, que eu gelo. Cadê ela?
Bruna não é lá a pessoa mais localizada de São Paulo, ela consegue se perder em qualquer lugar, tem zero senso de direção e tem o tamanho de um minion, é muito fácil colocar ela dentro de um porta mala e sumir. Onde que era mesmo o restaurante que a gente ia se encontrar? É quase meia noite, será que ela ainda está lá? Será que chamou uma amiga para sair depois que eu disse que não ia conseguir chegar?
Abro o aplicativo de rastreio de telefone e vejo que ela está duas ruas atrás do nosso apartamento, aparentemente de carro, a chave do dela está pendurada então deve ter saído de uber e estar voltando. Mas é quando o uber entra em uma rua antes da nossa e depois volta para a avenida, que eu realmente congelo.

You and MeOnde histórias criam vida. Descubra agora