Havia algo de reconfortante em abrir os olhos naquele dia. Não exatamente em se tratando de acordar feliz, eu diria - afinal, felicidade demandaria memórias associadas. Mas no segundo um em que o dia começou pra mim eu definitivamente não me dei conta da minha súbita amnésia. Então sim, a impressão que tive naquele momento era a de que eu estava sim acordando feliz. De maneira factual, eu descreveria meu acordar naquela manhã como inegavelmente confortável e aconchegante.
Na verdade, a maciez extrema onde meu corpo repousava já me havia confortado antes mesmo de eu os abrir. Até mesmo me impedia de querer abri-los, para ser honesta. Mas a curiosidade falou mais alto: afinal, que cama era aquela?Acordei impulsionada por essa dúvida, que impediu o pequeno resquício de sono ainda existente de enfraquecer minha concentração para tentar encontrar a resposta. Fiz um esforço para me desprender do aconchego dos grossos lençóis que me envolviam e finalmente me levantei. Certifiquei-me de que meus olhos estivessem bem abertos enquanto olhava ao redor. O cenário parecia minuciosamente oportuno para relaxamento: pouca luz atravessando as brechas de umas cortinas gigantescas que escondiam o que eu supunha serem também gigantes janelas. As poucas aberturas entre elas davam espaço a uma brisa suave, que entrava sutil e deixava o cômodo inteiro com ar de praia, o que me fez assumir que estava em uma área litorânea. Não conseguia dizer aonde exatamente, no entanto. Na verdade, desconhecia aquele quarto, aquela cama, absolutamente tudo que me cercava naquele cômodo requintado, grandioso e de forma alguma familiar. E foi isso que dissipou e fez o reconforto daqueles primeiros instantes se transformar em extrema desconfiança. A sensação boa, em um terrível mau pressentimento. Achei que havia caído em uma armadilha, uma distração perfeita ante a percepção de um problema sério — nesse caso, um seríssimo: não fazia a mínima ideia de como havia parado ali.
Na verdade, a maciez extrema onde meu corpo repousa já me conforta antes mesmo que eu os abra. Até mesmo me impede de querer abri-los, para ser honesta. Mas a curiosidade fala mais alto: afinal, que cama é essa?Acordo impulsionada por essa dúvida, que impede o pequeno resquício de sono ainda existente de enfraquecer minha concentração para tentar encontrar a resposta. Faço um esforço para me desprender do aconchego dos grossos lençóis que me envolvem e finalmente levanto. Certifico-me que meus olhos estejam bem abertos enquanto olho envolta. O cenário ao redor me parece minuciosamente oportuno para relaxamento: pouca luz atravessando as brechas de umas cortinas gigantescas que escondem o que suponho serem também gigantes janelas, as poucas aberturas entre elas dão espaço a uma brisa suave que entra sutil e deixa o cômodo inteiro com ar de praia, posso assumir que estou em uma área litorânea. Não consigo dizer aonde exatamente, no entanto. Na verdade, desconheço esse quarto, desconheço essa cama, desconheço absolutamente tudo que me cerca nesse cômodo requintado, grandioso e de forma alguma familiar. E é isso que dissipa e faz o reconforto daqueles primeiros instantes se transformar em extrema desconfiança. A sensação boa, em um terrível mau pressentimento. Acho que caí em um pão e circo, uma distração perfeita ante à percepção de um problema sério — nesse caso, um seríssimo: não fazer a mínima ideia de como eu vim parar aqui.
O repentino barulho de passos se aproximando é o que engatilha meu entendimento de que estou em uma situação de risco. Forço meu cérebro a encontrar respostas sobre o que estou fazendo aqui, mas minha memória está vazia. Não consigo me lembrar de como cheguei a este lugar. Não consigo me lembrar de onde estava antes de vir parar aqui. Não consigo me lembrar nem de como vesti a camisola que cobre meu corpo, não sei nem em que dia estou. A constatação de que todo o espaço-tempo se dissipou na minha cabeça e não consigo me lembrar de absolutamente nada dispara meu pânico.
Quando a maçaneta da porta a alguns metros de distância gira, não preciso ver quem está abrindo para instintivamente saber que estou em perigo. Meu coração já bate mais rápido, ecoando o ritmo da ansiedade que me embrulha o estômago e me causa arrepios. Não penso duas vezes antes de correr para me esconder. Antes da maçaneta terminar de girar, consigo me abaixar e deslizar para debaixo da cama com uma rapidez que só pode ter sido o meu medo que potencializou. Um par de pés femininos entram em meu campo de visão, calçando sapatilhas azuis e pisando bem leve sob o tapete no chão. Consigo deduzir, pela lentidão do ritmo de seus passos silenciosos, que ela está procurando por mim. Mas é a sua fala que me certifica disso.
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Memórias à queima
FantasyMegan acorda em um local desconhecido, sem registros mentais ou físicos de como chegou lá, sem qualquer capacidade de reter ou recuperar de seu cérebro qualquer memória do que aconteceu antes, completamente presa em uma atmosfera de incertezas, carr...