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Capítulo 5

    Mal havia amanhecido e Eloise já tinha os pés a fazer poeira em direção da tal casa que trabalharia, bom, era isso que ela esperava. Não poderia mentir, na sua barriga as borboletas não voavam, mas se debatiam entre si. estava incrivelmente nervosa e quem poderia julga-la? sair da pura nobreza pra uma forasteira louca era um passo e tanto.
    Com poucos minutos de caminhada até uma rua, que ela acreditava ser da mais alta nobreza pela quantidade exacerbada de flores ao redor dos casebres, uma batida de leve no vestido para se certificar de está apresentável, a Grant continuou, enquanto verificava o número no fundo do cartão.

"Casa vermelha 23"

    Só veio um pensamento na cabeça da jovem. " quem pinta a casa de vermelho em toda a Europa?" Pergunta essa que só aumentou ao seus olhos encontrarem, em meio a tons pastéis, uma casa gigantesca que parecia rasgar o céu, de cores escuras e, de fato, vermelha. porém de um vermelho sangue, que tomavam seu destaque mesmo escondida pelas árvores muito bem aparadas e de um verde vivo.

- Respira Eloise, respira...não deve ser tão difícil.- repetia, para calar sua própria mente.

    A ruiva subiu os pequenos três degraus da fachada, puxou a aldrava dourada, que era a figura de um leão mordendo a alça, e a soltou esperando que aquilo bastasse. e ela estava certa. Não demorou dois minutos para a porta ser aberta por um homem, de aparência mais velha, que Eloise deu uns 50 anos, usando um terno muito bem engomado e luvas brancas. A jovem só foi perceber os cabelos grisalhos do senhor ao ele sair das sombras da porta para olha-la dos pés a cabeça.

- É a menina da barraca que a Senhorita Scott mencionará?- indagou

- Sim! Me perdoe chegar tão cedo assim, é só que não recebi nenhum hora-

- Chegou na hora correta, o Senhor Min costuma gostar de aproveitar o dia desde o primeiro raio de sol.- o homem falou aquilo como se tivesse um quadro didático que ele lia toda manhã.
- entre. A Senhorita Scott está na sala de chá arrumando as almofadas.

    Eloise apenas assentiu e entrou se deparando com duas enormes escadas forradas com carpete carmesim estampado, corrimões dourados que pendiam dois enormes vasos de porcelana do mesmo tom recheados de rosas vermelhas. mas o que atraiu os olhos claros da jovem Grant por pelo menos dez minutos foi a enorme pintura que se encontrava exposta no centro do encontro das duas escadas.

    Um homem de pele clara e expressão fria, se possível notar pelos lábios pressionados e a mandíbula muito bem destacada. os olhos escuros e tão enigmáticos que fez a Eloise criar mais perguntas–que possivelmente eram indevidas–para o homem que ela nem sabia quem era. O artista era extremamente detalhista, não esqueceu se quer as bolsas de olheiras abaixo dos olhos e a cicatriz no canto da bochecha. ele não devia ter mais de 29 anos, mas qual será a história por trás daquela cicatriz? Qual seria a sensação de toca-la?

- Senhorita Stanford?- finalmente a ruiva escutou a mais velha que pelas rugas tensas na testa ela estava ali a pelo menos dez minutos.

- Aí Deus, me perdoe Senhorita Scott, me perdi em meio aos meus pensamentos.‐ talvez tenha sido o retrato e mais o fato que ela ainda não havia se acostumado com sua nova identidade.

    Com um abanar de mão a senhora continuou.

- Tenha cuidado em se perder enquanto estiver com o senhor Min, principalmente enquanto ele fala com você.- mal terminou e ela já havia dado as costas e começado sua caminhada pelo corredor.- me siga, vou lhe mostrar um pouco do que faria de fosse contratada.

    Eloise contorcia suas mãos uma contra a outra, a ansiedade lhe consumia. era seu primeiro emprego como Eloise Stanford, na verdade era seu primeiro emprego na vida! Estava animada, mas prestes a desmaiar.

— Bom, aqui é o lugar onde normalmente o senhor Min vem repousar pela tarde. ele sempre toma seu Dechuchá com apenas um cubo de açúcar e seu conjunto de porcelana chinesa.- a Senhorita Scott tinha a postura digna de realeza, ela usava um vestido de tons escuros com saias pouco cheias, o espartilho rente ao corpo e os cabelos muito bem presos em um penteado que parecia fazer sincronia em linha com uma das "pernas" do óculos que pendia ao topo do nariz curvo. Eloise deduz que a mais velha tenha uns 60 anos.

— Se me permite perguntar Senhorita Scott, mas o que seria Dechuchá? É um tipo de chá, certo?

— Sim, Dechuchá é uma espécie de chá coreano, pais de origem do senhor Min. É feito de jujubas do próprio país. é muito bom para melhorar as energias.‐ a mais velha dizia enquanto passeava pela sala repleta de estantes recheada de livros muito bem organizados, três enormes janelas abertas e uma pequena mesa redonda forrada com uma toalha transparente e duas cadeiras. Era o lugar mais claro da casa.

— a sim, certo. É um lugar lindo!

— De fato, mas não se preocupe as cozinheiras que fazem o chá, você só precisaria servir.

    Eloise sorriu, contida, parecia que faria o básico então.

— Espero que saiba servir com maestria, Senhorita Stanford. Lhe pago dobrado se não for cometer um erro tão banal como a antiga. Quem já se viu?! Não conseguir servir um café!

    Não precisou de mais nenhuma palavra. Eloise nunca foi digna das mais louváveis mentes, mas também não era burra. Daphne era a antiga, por Deus iria pegar o emprego de Daphne uma menina tão boa? Todavia se olhar por outro lado foi um  livramento para a pequena. A ruiva vai aguentar por você Daphne.

    Eloise foi acordada dos seus devaneios pelo soar de passadas leves pelo piso, o que a fez se virar para onde esse som estaria vindo se deparando com um homem de estatura aproximada a sua, de pele pálida e um terno preto alinhado e detalhado em seda de tons acobreados. O homem do quadro.

— Senhor Min! Não esperava que vinhece pra cá tão cedo.- a postura da mais velha ficou tensa ao lado da ruiva. Talvez pela surpresa.

— Acalme-se, Senhorita Scott. ainda não está no horário. Só vim para buscar  um livro. Dom Quixote onde está?- o homem vasculhava com os olhos afiados as imensas prateleiras. porém não tão rápido quanto os olhos de Eloise, que aproximou-se com sutileza fazendo os olhos da mais velha ali presente quase escaparem.

— Se me permite...- a ruiva, puxou um livro de capa esverdeada em detalhes dourados.— É um livro maravilhoso, Miguel de Cervantes e sua escrita clássica sobre incentivo a vida me fizeram voar pelas páginas.

    Eloise sorriu, mas parou ao observar o rosto dos dois opacos presentes na sala. Deixou o livro nas mãos do Min e se permitiu, por segundos, contemplar a cicatriz. Ela realmente existia e ainda a deixava curiosa.

— Me perdoe senhor Min, eu não queria...

    Para a surpresa de todos, ele deu uma risada, curta, mas não irônica.

— Quem diria? de longe parece uma tonta.

    De certo que a jovem Grant não esperava tal comentário, nunca fora chamada de tonta e se preparava para soltar os monstros no homem. Com toda certeza seu rosto estava vermelho.

— Se ela estiver aqui para a vaga, contrate-a Senhorita Scott. Não perca tanto tempo a procura de candidatas.- Disse o Min, se retirando com a postura indecifrável. Mesmo jeito que entrou.

    A mais velha fez uma leve reverência com a cabeça concordando, ela se virou para a Grant que agora tinha seu sangue muito bem distribuído pelo corpo.

— Está contratada Senhorita Stanford. Vá para casa arrumar as malas, seu salário vai ser de duzentas libras mensais. Não pense que será fácil seu treinamento, principalmente sem experiência.

    Agora, o tonta não parecia tão mal assim.

Continua...
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Olha quem voltou!🔥

Me perdoem pelo sumiço de anos, tenho certeza que nem lembram dessa história. Me perdoem, mas agora vou focar.

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⏰ Última atualização: Jan 09, 2023 ⏰

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Sem Coração❦ MYGOnde histórias criam vida. Descubra agora