Poucas coisas podiam me atormentar, levando uma rotina calma e monótona. Podia se dizer que sempre fui - de um tempo para cá… - um cara equilibrado. Eu sei dos meus afazeres e levo uma vida adulta regrada como deve ser.
Sabendo de tudo isso, é difícil entender como eu vim parar nessa situação. Digo, o homem que acordava às seis da manhã, bebia café puro com duas colheres de açúcar, e vestia um terno quente e desconfortável, esse homem estava na cama de seu vizinho irritante e irresponsável que agia como um adolescente rebelde.
Horas antes
Não havia galos na cidade grande, mas em compensação, o sol, que nascia batia sob a cobertura de forma quase planejada, era um bom despertador. Eu já me questionei, "seria essa a vontade original do arquiteto?" Ou talvez, e só talvez, fosse uma daquelas grandes coincidências que te tiram o ar. Bem, certas perguntas nunca terão respostas, e mesmo se tivessem, o melhor ainda seria a dúvida…
Como eu dizia antes do devaneiar na estrela gigante, era difícil não acordar cedo naquele lugar, sempre tão iluminado… Todo dia, antes de sair para trabalhar, eu era beijado pelo sol e isso me dava uma gratificação essencial. Eu costumo chamar essa gratificação de potência, é como uma bomba, e quando explode faz minha vida monótona ter mais cor.
Nesta tarde, em especial, o sol não deu as caras. Meu dia se tornava mais e mais melancólico conforme meu corpo despertava, implorando-me por café desesperadamente.
O barulho da chuva despencando sob os tetos de aço metálico daqueles automóveis apressados e acabados que passavam pela rua me fez desmarcar com todos.
Bem, não é que esteja acontecendo o apocalipse, mas veja é compreensível, não? Digo, além da pré tempestade que se formava intensamente, meu humor decaia ao lembrar da última segunda-feira. Marcava nove horas no relógio da parede quando meus olhos se abriram em desespero.
O ar me faltava, minha garganta estava seca e eu lembro-me perfeitamente do pesadelo que tive, e isso só dificultava minha recuperação do mesmo.
Me prontifiquei a recompor-me após levantar com pressa, colocando minhas mãos sob a cabeça e bagunçando meu cabelo. "Está tudo bem! Está tudo bem" repeti a mim mesmo até que meu coração não estivesse mais preso em minha garganta. Meu corpo suava, o que me fez tirar a camiseta jogando-a em um canto qualquer enquanto ia em direção a cozinha.
Peguei minha caneca favorita e a preenchi pela metade com leite quente, este era o ritual e não me atrevia a quebrá-lo. Décimo sétimo andar, até o horizonte mais distante podia ser capturado pelo meu olhar, e isso era outra tradição. Quando o café estava pronto o juntei na caneca e parei estático à minha janela, quando fecho meus olhos ainda posso sentir tudo que havia sentido na primeira noite, o início da vida adulta em um lugar tão alto parecia um sonho.
Mal sabia eu que a vida adulta mais se parecia com um pesadelo… este, em específico, foi o estopim de toda a história que tenho para contar, e desculpe-me se falo demais, mas acho importante contar detalhadamente.
Cinco minutos. Cinco malditos minutos foram tudo que tive de mais próximo de paz naquela manhã, isso porque o jovem que morava ao lado tinha algo peculiar, digo, a falta de bom senso. Veja, dez horas da manhã podia ser um bom horário para muita coisa, muitas mesmo, mas tocar guitarra?! GUITARRA?!?
Idai que ele tinha uma banda? Eram apenas dez horas da manhã! E o mais importante, por que caralho ele estava ensaiando no apartamento?
Não, aquilo era inaceitável. Não podia acreditar que nenhum outro inquilino tivesse reportado o ato que ia, claramente, contra as regras do edifício. Mas principalmente, não podia acreditar que aquilo acontecia justo no meu dia de folga.
Me lembro como se fosse minutos atrás (o que realmente era), eu mal fiz questão de cobrir meu tronco desnudo, apenas me desfiz do café que bebia e fui em direção da porta ao lado. Assim que pisei no corredor, uma senhora - que convenhamos, não deveria estar ali. - Soltou um grito rouco por me ver sem camiseta. Deus sabe o quão constrangido fiquei, pedindo mil desculpas ao tempo que batia freneticamente na porta do 204.
A senhora, entretanto, cobriu seus olhos que me repreendiam e foi embora. Minha atenção voltou a um único foco, me fazendo bater ainda mais desesperadamente naquela maldita porta que nunca se abria. Depois de três longos minutos ali, prostrado no corredor quente, estava prestes a ir embora até que vejo a maçaneta girar vagarosamente e a porta ser aberta com certa agressividade.
Me assusto de início quando uma mulher, aparentemente jovem, esbarra comigo enquanto saía bufando do apartamento alheio. Ela, entretanto, não parecia sequer surpresa por me ver ali e apenas continuou pisando pesado enquanto se dirigia ao elevador. Em seguida foi Jeon que deu às caras, observando a garota ir embora lhe mostrando o dedo do meio até que o cubículo em que ela se encontrava fechasse.
– Garotas… indecifráveis, não é? – ele disse, chamando minha atenção que até então estava na cena que acabara de presenciar.
Ele me olhou de cima a baixo uma vez que notou minha derme exposta além do necessário, me deixando constrangido novamente.
– Desculpe se apareci em um mau momento, apenas queria pedir que não fizesse tanto barulho com a guitarra. – foi minha resposta depois de alguns segundos o observando.
– Não chegou. É a primeira vez que vem falar comigo, e já chegou sem roupa, acho que o lance da guitarra foi útil… – Disse me encarando, vendo minha vergonha estampada se intensificar– Não estou sem roupa! – concluo na defensiva, vendo-o sorrir aberto. Algo naquela expressão soava como se ele tivesse uma vitória em suas mãos ou algo assim. Só depois de processar sua resposta percebi o "útil.." com que terminou sua frase, me fazendo arregalar meus olhos inconscientemente. – Espera, o que?
– Bem, eu só preciso verificar se ela está afinada antes de sair para o estúdio. Se quiser, pode entrar e esperar eu terminar. – ele respondeu, ignorando minha última pergunta e me fazendo um convite deveras chamativo e um tanto bizarro.
– E por que eu iria querer?
– Bom, como eu disse é a primeira vez que nos falamos e foi porque eu o incomodei com barulho. Acho justo que lhe prepare um café ou algo do tipo como um pedido de desculpas.
De primeira, eu obviamente neguei. Para qualquer um que olhasse de fora, seria um tanto estranho um cara sem camisa aceitando o café da manhã de um (quase) desconhecido. Mas Jungkook, como ele pediu que o chamasse, era realmente persistente e de alguma forma que nem mesmo eu sei, ele me arrastou para dentro.
"Aquela ali é minha cama, sente-se ali e espere um minuto" foram suas palavras antes de entrar na cozinha. E bem, aqui estou eu, na cama de Jeon Jungkook me perguntando o porquê o garoto mantia a cama no meio da sala e o porque eu estava sentado nela.
Agora
– Aqui, pegue. – ele disse quando finalmente terminou de fazer o café, me entregando uma caneca quente com café ao leite. Me assustei em como ele serviu exatamente de acordo com meu gosto, me perguntando até mesmo se o garoto vinha me observando ou algo do tipo. Tomei um gole, fechando meus olhos para apreciar o sabor e também o cheiro harmonioso do grão.
– Está muito bom! Obrigado. – lhe disse em um tom mais calmo.
– Fico feliz que tenha ficado de seu agrado. Espero que da próxima vez que nos vermos não tenha que ter um pedido de desculpas de minha parte. – ele disse de forma séria, sentando-se na poltrona que ficava à minha frente. – e que você esteja completamente vestido.
Ele riu e brincou com isso, e parte de mim até sentia-se constrangida, mas era divertido a forma como o garoto deixava a manhã de ambos mais leve.
Conforme passava o tempo, o vi começar a olhar com mais frequência ao relógio que permanecia em seu pulso me dando conta de que estava atrapalhando algo. Me levantei de forma não muito expansiva, o olhando agradecido e fazendo menção de sair do quarto/sala do mesmo quando fui parado por ele.
– Você tem o dia livre?
Foi tudo que ele disse, ainda me segurando pelo pulso. O olhei cheio de confusão, questões e medos, lhe dando em resposta um simples…
– Ham??
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𝙊 𝙖𝙗𝙞𝙨𝙢𝙤 × 𝑱𝒊𝒌𝒐𝒐𝒌
RomancePark Jimin, um adulto bem resolvido que opta por sua monotonia e praticidade, é o vizinho de Jeon Jungkook, o homem que não se importa muito com nada e sempre opta a espontaneidade. Ambos são grandes opostos, mas por causa de uma quebra clara das r...