Ligação

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— Eu preciso... falar com a minha mãe. Ele está indo para lá!

— Eliza — ela ouviu uma voz dizer assim que sua visão voltou. Sentiu duas mãos fortes a chacoalhar pelos ombros.

     Expirou rápido e olhou em volta. Natan estava meio borrado ainda a sua frente, mas reconhecia sua voz.

— Natan, eu sei que posso falar com ela. Agora eu tenho uma chance.

— Acalme-se primeiro. Vá para a poltrona relaxar um pouco, é mais confortável. Levarei um chá para você.

— Traga o gim, por favor.

     Eliza deixou a sala de consultas e oráculos e foi até sua poltrona, próxima a janela. A cortina, vermelho escuro, permitia apenas uma fresta de luz.

     O cinzeiro já transbordava quando a mulher lançou mais uma bituca, que chocou-se com as demais e terminou sobre a mesa. O recinto exalava álcool e fumo curtido.

— Eu acredito em você, acreditei desde o início — dizia Natan, com a xícara de café sobre a palma das mãos.

     Eliza ria com o cigarro entre os dedos.

— Isso, vai com calma. — falou Eliza, pausadamente, tragando a fumaça em seguida.

— Estou falando sério.

— Quem diz que não é louco geralmente é o mais louco. — ela tornou a rir intensamente.

     Natan entortou os lábios olhando para o lado, inspirou arqueando as sobrancelhas e expirou em seguida.

— A família que você mencionou, os Slyter, não foi mais vista. Nenhum deles. Você sabia disso?

— Não, não sabia. — respondeu Eliza, turvando o semblante.

     Tomou um golaço de gim, fechando os olhos por um instante. Largou o copo de vidro num baque seco.

— Professor, eu olhei bem nos olhos daquele garoto, do Slyter. Ele é como eu, vê o que os outros não vêem.

— E o que você acha? — perguntou Natan estreitando os olhos.

     Eliza pensou um pouco.

— Preciso de um contato. Ele é a chave.

     A tarde fria avançou rápido. Natan pousou o chapéu sobre a cabeça e pegou sua bolsa de couro escorada no sofá. Estava idêntico a quando se conheceram.

     Eliza permanecia recostada na poltrona. Ela segurava um livro de capa dura enquanto olhava para o grande espelho retangular a sua frente. Natan a observou por alguns segundos. Sua boca movia-se sutilmente, sem produzir som. Ele virou as costas e se foi.

     O celular de Natan tocara na manhã anterior.

— Natan, eu estou aqui na chácara da avó do garoto. Está um caos, parece que houve alguma invasão ou coisa parecida. E eu encontrei algo muito interessante também. Um livro. Espero que ouça essa mensagem até o meio dia, quero muito conversar com você.

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⏰ Última atualização: Aug 10, 2021 ⏰

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