Imprudência

110 17 5
                                    

Imprudência:

Falta de atenção ou cuidado. Atitudes questionaveis realizadas sem cautela ou consciência do risco. Revela-se através de ações potencialmente significativas; provoca reações.
_

Uma parcial escuridão cobre o céu que ecoa ameaças de chuva. Em segundos, o início de tarde se transforma mais em uma noite de outono do que qualquer outra estação

Gotas de água pousam agressivamente sobre o vídeo da janela que me separa delas, e mesmo que a solidão não seja um problema, curiosamente lamento pela companhia marcante que provavelmente ficará longe de mim nesta tarde.

O alívio deveria surgir a partir dessa possibilidade, mas ao invés disso experimento, em breves minutos neste início de tarde, a decepção por querer alguém.

Enquanto olho para o vidro embaçado o desejo de sentir o vento frio na pele me conquista. Esta sensação sobressai qualquer outra, indiretamente agindo como cobertor para emoções que não quero olhar nesse momento.

Seria útil se eu estivesse certo.

Por contábeis segundos encarei a figura em frente a porta do meu quarto, surpreso pela sua presença, mas ainda mais pelo desaparecimento daquele inusitado desânimo.

- Hey, Akashi! Está frio hoje né?! - riu, enfiando as mãos nos bolsos de seu casado que assim como todo seu corpo, está encharcado pela chuva.

Desacreditei do que vi, mas apreciei sua presença.

- Bokuto, por que raios não veio com um guarda-chuva pelo menos? - questionei.

- Mas a chuva começou na metade do meu caminho, não tinha como saber - Rebateu.

- Estava na previsão do tempo.

- Eu não sei o que é isso - sorriu.

O encarei por mais alguns segundos e me permiti rir de mais uma de suas desculpas descaradamente falsas, naturalmente ele riu também.

Talvez seja pela sequência de surpresas, ou o vento frio já esteja fazendo efeito, mas o fato é que eu não sei o que fazer a partir daqui. Palavras parecem forçadas e ações mais ainda; apenas o encaro sem reação, aguardando algo desconhecido.

Sem hesitar ele adentrou meu quarto e apenas indicou ir para o banheiro tomar um banho; isso já era natural, um jeito específico que nunca mudaria independente da situação, mas talvez eu deva ser grato por isso.

Não demorou para o vapor do chuveiro que transbordava do banheiro até o quarto esquentar cada centímetro cúbico ao redor de mim, e eu, que há minutos prezava por uma onda de ar frio, me vejo novamente submerso nessa típica e temida onda de calor.

Tudo ficou esperadamente pior quando a porta foi aberta, chocando temperaturas consideravelmente opostas com o corpo um tanto molhado de Bokuto que reagiu estremecendo.

- Agashe, vou pegar aquela roupa de sempre, ok? - sem confirmação alguma andou até o guarda roupas e fez o indicado.

Enquanto se vestia com minhas maiores roupas, cada pedaço da sua pele que brevemente é exposta à corrente de ar gelado fica explicitamente arrepiada e estranhamente me constrange. Rapidamente desvio o olhar quando ele termina.

- Feche essa janela, quer que fiquemos doentes? - diz incrédulo e anda até mim.

Eu poderia o chamar de hipócrita, mas as palavras faltam hoje, como se toda a rotina estivesse diferente de alguma maneira. Isso é porque eu estou ficando ciente?

- Vai, liga a TV!

Curioso Fascínio Onde histórias criam vida. Descubra agora