GABRIELA
Respirei fundo. Precisava ser cuidadosa com aquelas palavras, trazer motivação e matar qualquer resquício de medo e ansiedade presente nelas. Aquele poderia ser um dos maiores momentos da história do basquete feminino no Brasil, e estava em nossas mãos a responsabilidade.
Era a nossa hora de bilhar.
Reuni todas em um pequeno círculo, mais unidas do que nunca. Eu era a capitã, e apesar de não ser a melhor conselheira de todas, tinha de servir.
- Nós não chegamos hoje aqui sem motivos, meninas. Se hoje estamos disputando uma final olímpica, é porque merecemos, demos nosso sangue em quadra em todos aqueles jogos e buscamos os resultados. Não éramos nem de longe favoritas, mas no entando, olhem para nós! - apontei meu indicador ao nosso redor, mostrando a importância daquele dia. - Finalistas de um dos maiores campeonatos de basquete do mundo! Sabe o que isso significa? Que temos toda a capacidade do mundo de sairmos daqui hoje com aquela medalha de ouro. Sempre foi um sonho, e depois de ficarmos tantos anos vendo ele distante, temos aqui nossa chance de mostrar que sim, o basquete feminino tem o poder de transformar vidas e que nós somos algumas delas. Mas, independente do resultado, nós já fizemos história e motivamos milhares de meninas por aí a seguirem lutando por esse esporte. Hoje vamos jogar não só por nós, mas por todos os sonhos que todos os dias olham para nós em busca de inspiração. Hoje o jogo é nosso, e a conquista também. Eu confio em cada uma de vocês, e espero que sintam o mesmo também! Vamos lutar por cada ponto, cada lance e cada bola como lutamos todos os dias para chegar até onde estamos agora.
Apertei mais forte meus braços ao redor de minhas companheiras, forçando ainda mais o sentimento de poder dentro delas. Todas eram capazes, nunca deveriam se esquecer daquilo. Eu também era.
- Agora eu quero foco total, calma e dedicação, caso contrário vão se ver comigo! Vamos!
Enquanto cumprimentava minhas companheiras, flashbacks passavam sem parar em minha cabeça, como um perfeito filme. Cenas e mais cenas, em tudo o que havia me metido para conseguir o simples direito de entrar em quadra. Os primeiros jogos na quadra de Bonsucesso com Patrick e os meninos do bairro, ainda criança, as brigas com todos que teimavam que aquele não era um esporte para meninas, o primeiro treino com os meninos do Ipê... o tão tumultuado corte de cabelo. Anos sem jogar, um filho e então, quando estive tão perto do retorno, as gêmeas.
Mas se o assunto era me superar, então talvez eu fosse sim uma campeã. Com certeza aquelas lembranças estavam me dando ainda mais força para lutar.
Um último abraço coletivo me fez ter a certeza de que sairia feliz daquele ginásio. O desafio seria imenso, mas depois de tudo o que eu havia passado nos anos anteriores, me sentia com força suficiente para voar em quadra, se necessário.
Aquele ouro era meu, e ninguém me diria o contrário.
♡ ♡ ♡
VICENTE
- Meu Deus, meu coração... - ofeguei, me apoiando em Henrique para não cair desmaiado no chão enquanto esperava o atendimento da companheira de time de Gabriela. Faltavam poucos instantes para o final do jogo, e precisávamos de apenas mais uma cesta de três para conquistar o ouro inédito.
- Calma cara, ela quem joga e você quem desmaia? Aí não, né?!
Ignorei lindamente Henrique quando meu olhar se encontrou com o de Gabriela e ela percebeu meu estado, fazendo um sorriso despreocupado deixar seus lábios. Como conseguia estar tão calma? Eu poderia morrer ali mesmo de um ataque cardíaco. Só Deus sabia o quanto aquelas meninas haviam baralhado para chegarem até a final Olímpica.
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Uma Cesta de Ouro
RomanceGabriela tem tudo para fazer história ao conquistar o tão sonhado ouro olímpico. Apenas uma cesta de três a separa do sonho dourado.