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Quase todo mundo tem certeza do seu primeiro amor, que foi verdadeiro, essas pessoas fazem parte dos noventa e três por cento e eu faço parte dos sete por cento que não fazem ideia se já se apaixonaram na vida, é deprimente mas a vida é assim e eu sou um cara que aceita a vida como é.

O amor passou a ser mais uma ficção para mim quando meus pais se separaram, para uma criança de seis anos eles achavam que seria difícil de eu compreender toda a situação da época mas os filmes me ensinaram muita coisa, aprendi mais com eles do que com meus pais e eu também não era ingênuo. O amor entre eles tirou férias e nunca mais voltou.

Depois que meu pai foi embora de casa pensei que minha mãe ficaria feliz já que eles brigavam todo dia, ela finalmente teria paz mas eu só ouvia ela chorar no quarto, eu não atrapalhava, outra coisa que os filmes me ensinaram, chorar faz bem e é ainda melhor quando você está sozinho, e realmente foi uma terapia para a minha mãe.

Eu a via chateada por outros motivos também, vários eram a falta de móveis na casa, geladeira vazia e sofá grande demais, eu sabia que isso foi o que meu pai deixou depois da sua saída. Então nos mudamos para um pequeno apartamento no centro de Seul, quando digo pequeno não é de zoeira, eu parei de brincar por quê nem corrir nada mais.

Minha mãe reclava também da minha solidão, eu dizia que não estava sozinho e tinha ela mas ela se referia a um amigo. Bom, na escola que eu estudava meus colegas não eram muito extrovertidos e eu também não tentava, por isso minha mãe me mudou de escola também e eu me bi obrigado a escolher um melhor amigo, "para a vida toda" dizia minha mãe.

Parecia uma meta de vida que ela escolheu.

No primeiro dia de aula levei meu o meu boneco do Thor, era meu xedó e eu queria mostrar a todos que o amava mais que tudo, meus novos colegas de sala pareciam não gostar muito do Thor e o quebraram mas também me bateram, eu fiquei confuso. Mas aí meu herói de verdade apareceu.

"Seus idiotas, deixa ele em paz!" foi a voz mais angelical que já ouvi. Kim Taehyung era seu nome, meu herói sem capa ou máscara botou os moleques para correr e ainda consertou meu Thor, outra frase que ele me disse eu nunca esqueci foi: "eu gosto do Doutor Estranho" e dizia isso com um sorriso quadrado no rosto.

Me sentia feliz mesmo o conhecendo em segundos, ele me fazia bem. Depois da aula ele me levou para casa segurando minha mão forte e dizendo que ninguém iria machucar eu ou o Thor novamente. Assim que minha mãe viu ele se apaixonou.

Nesses dias em diante Taehyung se tornou meu melhor amigo e meu anjo da guarda, velando pela felicidade e segurança eu fazia o mesmo por ele mas não parecia por ele ser mais forte que eu, de qualquer maneira eu descobri o que era ter um amigo de verdade.

Anos se passaram, seis para ser exato, nono ano do ensino fundamental, colégio, adolescência, hormônios, pelos, espinhas, gosto musical peculiar e roupas descoladas, eu estava passando por tudo isso e mais uns bocados, a parte ruim eram os pelos e as espinhas mas o resto era tão maneiro e eu não queria sair do período. Taehyung e eu mais próximos que nunca como irmãos.

Para ele não foi tão bom assim, quando o capitão do time de basquete Yoongi roubou um beijo dele no vestiário ele ficou tão confuso, tanto que nem me procurou por ajuda e se trancou no banheiro o resto da aula, no final do dia me explicou que nunca se sentiu tão bem beijando um garoto, assim ele se descobriu gay.

Os quinze anos chegaram, amadurecemos e eu deixei de ser um emo idiota. Foi outro ano difícil para Taehyung, ele tinha se assumido para os pais e meses depois eles se divorciaram, Taehyung sempre se culpava e sempre que dizia isso me abraçava e chorava, lembrava dos pais brigando e envolvendo o seu nome no meio daquilo, fazia sentido ele se sentir tão mal. Eu ficava calado, não sabia o que dizer e Taehyung disse que não precisava o consolar com palavras, meu abraço era o abrigo dele, assim eu me tornei o melhor ouvinte e abraçador do mundo.

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