Capítulo Único

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Os olhos incrivelmente verdes de Harry Potter encaravam o relógio velho na parede oposta com intensidade, quase como se pudesse forçar o tempo a andar mais depressa apenas com a força de seu pensamento.

Toda a sua linguagem corporal denunciava impaciência: os suspiros irritados que exalava ocasionalmente, o remexer incontrolável de uma das pernas, o mordiscar inquieto dos lábios já avermelhados.

Era nítido, para qualquer um que olhasse, que Harry simplesmente queria estar em outro lugar.

E essa impressão tinha um motivo: aquele era um dia especial.

Harry acordou naquela manhã e apenas um breve olhar nos olhos de Draco foi o bastante para que ele se sentisse energizado e ansioso pelo resto do dia. E era algo incrível a maneira como, mesmo depois de dez anos de casados, a relação deles nunca havia caído na rotina, tão temida pela maioria dos casais. O fogo que ardia entre eles nunca havia minguado; pelo contrário, parecia apenas crescer cada vez mais. E aquela era uma das coisas que Harry mais amava nos dois.

Então ele beijou Draco longa e ardentemente antes de sair de casa, como uma promessa silenciosa do que o aniversário de casamento deles prometia.

Harry aparatou no Quartel dos Aurores com a mente já fervilhando em ideias do que eles poderiam fazer para comemorar, tão avoado que nem ao menos estava prestando atenção nas coisas ao seu redor.

Ele se lembrou da conversa que teve com Ron naquela manhã, enquanto eles saíam para investigar uma denúncia de tráfico de criaturas mágicas.

- Você acha que ele vai gostar de ir a um restaurante? - ele perguntou para o amigo, pulando para se esconder atrás de uma pilastra e por pouco escapando de um feitiço atordoante.

- Harry! Agora é mesmo a hora para isso? - guinchou o ruivo, indignado, se virando e lançando feitiços por cima do ombro para os contrabandistas que eles haviam emboscado na missão.

- É, tem razão - Harry cedeu, encolhendo os ombros.

Ele cercou um dos contrabandistas e o imobilizou sem nenhuma dificuldade, e Ron quase suspirou aliviado pelo amigo estar escutando-o quando o moreno voltou a falar:

- Eu acho que um jantar em casa é bem mais romântico. Eu já o levei a um restaurante no ano retrasado.

Ron o lançou um olhar de você só pode estar de sacanagem com a minha cara e imobilizou os outros dois bandidos, amarrando firmemente os três com cordas grossas. Ele parou em frente ao moreno respirando pesado, as mãos nos quadris e o rosto fechado.

Harry o ignorou.

- Mas a minha culinária ainda é péssima... - o moreno continuou divagando. - Eu não acho que consigo fazer algo decente para comermos sem antes explodir a nossa casa.

Um longo e silencioso minuto se passou.

- Então leve ele ao restaurante - um dos bandidos falou, quase como se eles estivessem no meio da hora do chá, e Harry o olhou com interesse.

- Não acha que seria clichê demais? Ou meio brega? - perguntou inseguro.

- Ah não, não. Eu acho que é uma ótima ideia para um aniversário de casamento.

- Eu também acho - o segundo bandido falou, de repente parecendo interessadíssimo na conversa. - Tenho certeza que ele vai adorar. Ele parece ser do tipo que gosta de pratos finos e um bom vinho.

- Ele é assim mesmo! - entusiasmou-se Harry, quase batendo palmas em alegria.

Ao menos alguém ali estava levando sua emergência matrimonial a sério, ele pensou com rancor enquanto olhava para Ron. O ruivo ainda o encarava incrédulo.

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