Conforme o sol adormecia em seu repouso e a lua tomava o céu como sua, eu, agora não mais reconhecendo ao mim mesmo, estava ainda me alimentando de algo que já fora antes meu amigo.
Já havia me alimentado de seu imóvel e trucidado corpo, e agora estava finalmente degustando de seu saboroso cérebro. A sensação prazerosa não ouso eu dizer, mas posso lhe confirmar que em toda a minha vida passada, jamais comi algo tão extraordinário!
Sim, até tal ponto já considerava isso uma nova vida, não havia como eu me recompor, e voltar a ser um humano comum do tipo que não se alimenta de seu melhor amigo. Mesmo com tanta dor e prazer e confusão se correndo pela minha mente e corpo, eu sabia e entendia que aquilo jamais seria ou será algo normal.
Quando já havia terminado de ingerir o cadáver, pus-me a deitar naquela imensa poça sanguinolenta da qual já havia descoberto sua origem. Observando a lua de encontro aos meus olhos, a felicidade não possuía limite a mim.
Ainda enquanto banhado por sua luz, algo estranho correu em minha mente: por que estava eu em uma jaula?
No mesmo insignificante instante em que pensei, eu levantei me e pude a analisar.
Aquela era uma minúscula jaula, mas com grades realmente grossas que, nem com minha imensa força que agora possuíra, não fora capaz de quebrá-las.
Porém, algo estupido eu percebi; de forma realmente estranha, sua portinhola não estava trancada e nem mesmo fechada, estava ela aberta para qualquer coisa sair ou entrar.
Penso agora no quão suspeito fora isso, todavia, naquele instante em nada pensei. Apenas saí pela jaula, e andei pelo único caminho possível.
A tal jaula estava rodeada por imensas e temerosas arvores dá qual não davam permissão a ninguém observar de meu deleite, com apenas uma exceção: uma pequena trilha alinhada à portinhola da mesma.
Andei pela trilha temendo o fúnebre ar que sentia, mesmo sendo o que agora eu era, ainda sentia um medo colossal do desconhecido.
Entre alguns arrepios e outros sustos causados pela pareidolia de meu cérebro que estava em grande alerta, não demorou muito para eu chegar ao seu final.
Caminhei apenas alguns poucos metros até me deparar com uma cena um tanto quanto perturbadora. Lembro-me de regurgitar boa parte do que me havia alimentado e depois cair de joelho por tal pavorosa cena.
A minha frente residia-se o disparate blasfemo que pôs me ao chão. Estavam 7 homens com máscaras e saias de palha revestida pelo liquido vermelho, rodeando e dançando ao redor de uma gigantesca e colossal fogueira.
Ao redor de tal fogueira, pude ver 8 estacas curvadas para fora da mesma. Em cada uma das estacas, residiam pessoas empaladas e chamuscadas pela chama. O mais estranho eram as feições que tais pessoas faziam.
Por algum sentido, elas ainda estavam vivas em meio à essa situação, e o mais absurdo era a felicidade que aparentavam sentir...
No meio da fogueira, estava um imenso caldeirão, da qual poderia eu ver alguns restos mortais boiando nas bordas daquele negrumoso caldo.
Ao redor da fogueira e em baixo dos pés dos homens dançantes, pude ver diversos despojos cortados e um espeço e grosso liquido negro-avermelhado.
Por fim, pude ver atrás da tal fogueira e caldeirão, um gigantesco artefato. Uma imagem que não poderia eu entender. Um ser que estava fora de qualquer cogitação, algo anormal e que certamente não poderia ser deste mundo. Aquilo que por mais que fosse perceptível que fora entalhado em madeira, parecia estar vivo. Tal bestialidade parecia me encarar e convidar ao seu festim.
Apenar de tantos absurdos bárbaros e blasfemos, o que mais me incomodará, era a sua maldita canção.
Sua canção me deixava abismado, suas frases que não poderia eu entender, estavam sendo cantadas até pelos infelizes nas estacas. Ouso dizer que até mesmo a estátua estava a acompanhar.
Quanto mais eu ouvia, mais eu alegrava-me e repetia suas frases. Em poucos segundos de observação, já estava a cantar, ainda que baixo.
Aquela canção regozijava o meu coração e trazia me uma alegria que nem mesmo minutos atrás me havia sentido.
Tal ominoso e caliginoso festim irracional estava me convidando a participar, mas eu sabia o quão perigoso seria.
Suprimi meus sentimentos, calei minha boca, e dei costas ao bródio. Caminhando lentamente, estava em direção à jaula de onde tinha vindo.
Mesmo após devorar um ser humano, tal visão já havia despertado uma hematofobia que não sabia eu que a possuíra. Acreditava antes ser o mais próximo de um execrado, mas agora sabia que haviam outros iguais a mim; infelizmente.
Estava já andando na floresta, pensando no que agora eu faria, já que atrás estava o culto e afrente a jaula de onde acordei.
Entretanto, enquanto ainda andava, senti um enorme peso em meu ombro direito.
Enquanto meus olhos saiam da orbita, meu coração parava e minha espinha gelava, eu pensava muito se o faria, mas após muito considerar, eu o fiz... Eu olhei para trás...
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O Festim dos Execrados
HorrorGrotescos demônios, horrorosas bestas e irritantes criaturas. Todo tipo de anomalia bestial poderá ser encontrada aqui. Leias suas hediondas historias e suas horripilantes descrições. Saiba de onde vieram tais bestialidades ignóbeis, e o porquê de s...