Fogo e Gelo

Capítulo 1

    Estávamos voltando da escola, hoje era sexta, e para a nossa felicidade, nem um professor passou dever para o final de semana.

   -Então, topa uma gelada?- perguntou Liza.
   -Não mesmo, da última vez que tomamos uma "gelada", acordei com uma dor de cabeça dos infernos, e você estava abraçada no vaso- repliquei

   Liza bufou abrindo a porta de casa, quando entramos ouvimos uma música vinda do jardim.
   Andrew estava com seus amigos fazendo um churrasco, com música alta tocando, e de longe conseguia sentir o cheiro do álcool.
   Liza deixou sua mochila no sofá e foi correndo até um menino, Lucca, eles tinham um rolo que deixava Andrew doido.

   -Lucca!- gritou Liza saltando em Lucca e o desequilibrando.

   Andrew olhou para os dois de cara feia, me fazendo rir.

   - Oi Lice, como foi o dia?- perguntou Andrew com um sorriso sarcástico no rosto.
   -Bom, e o seu?- perguntei de volta.
   - O meu foi interessante. - disse Andrew, olhando para seus amigos, que começaram a rir.

   Revirei os olhos indo até a churrasqueira para ver as carnes que estavam grelhando.

   - Você gosta de carne mal passada, não é?- perguntou Andrew no meu ouvido.

   Me arrepiei ao ouvir. Me virei e fiz cara feia para Andrew, que me deu um sorriso inocente.

...

Já estava anoitecendo quando os amigos de Andrew começaram a ir embora.

- Tchau Andrew, tchau Lucca. - despediu um de seus amigos, com a voz arrastada por causa do álcool.
- Vou ao banheiro. - disse Lucca.
- Eu te levo. - disse Liza, um pouco animada de mais
- Ele sabe onde que fica, não precisa de ajuda. - indagou Andrew, com cara amarrada. Em algum momento Andrew tirou a blusa, e só estava de shorts e um avental, por causa da churrasqueira, isso deixava exposto o seu tanquinho, e sua linda cicatriz que começava na altura do seu umbigo, e descia até sumir sob a barra do short.
   - Eu levo ele - gritou Liza já dentro de casa.
   - Esses dois, nunca dão jeito - resmunga Andrew.  - Vai querer mais carne?
   - Não, obrigado, estou quase explodindo. - respondo

   Andrew tira os últimos pedaços de carne da churrasqueira, e começa a ajeitar as coisas. Reparo em seu corpo, e lembro de quando éramos crianças, ele era magricela, talvez o que salvava era seu cabelo loiro e seus olhos azuis-acinzentados, mas depois que começou a jogar hóquei, as garotas babavam quando ele passava, praticamente se jogavam para poder provar um pouquinho dele, eu não podia julgar elas, ele de fato era bonito, seus olhos eram lindos, seu cabelo, sempre arrumado e brilhando, e seu físico...

   - Perdeu alguma coisa Lice?- perguntou Andrew com um sorriso malicioso.

   Não respondo, fico quieta e dou mais um gole na minha cerveja.

   - Como vai a vida Clarisse?  - pergunta Andrew, mas com um tom diferente, eu sabia de que "vida" ele estava falando, minha quase inexistente, vida amorosa, Andrew sempre quis saber sobre a minha vida amorosa, como com Liza, ele se preocupa comigo, e uma vez ou outra ele pergunta, só para ter certeza que não estou me envolvendo com nenhum babaca.
   - Vai normal- respondo, o que não era mentira, não tinha ficado com ninguém, nem saído com ninguém, mas Andrew me olho desconfiado.
   - Certeza? Ninguém está te forçando a mentir? - pergunta Andrew. A uns dois anos atrás, Andrew namorou uma veterana, mas ela era tóxica, e o usava mais para o sexo do que tudo, então ele decidiu terminar, mas ela não aceitou o término, ficou usando ele mesmo assim, o chamava para festas, deixava ele bêbado, e o levava para cama, Andrew acordava na manhã seguinte sem se lembrar de nada, apenas via suas roupas no chão, e saia o mais rápido possível. Quando ela finalmente se formou, ela foi para a faculdade em outra cidade, e eles realmente terminaram, mas ele ainda tem esse trauma, por isso fica em cima do meu pé e o da Liza, se algo do tipo acontecesse comigo ou com ela, já vi Andrew entrar em brigas, e nunca terminava bem.
   - Certeza, sabe que eu contaria a você ou a Liza se acontecesse alguma coisa. - respondi.
   - Eu sei que diria - disse Andrew, se sentando na cadeira, e tomando um logo gole da cerveja.

Ficamos um bom tempo em silêncio, observando a água da piscina, e o céu, o único som era de suas bocas mastigando a carne, e bebendo a cerveja.
   Ouvimos um barulho de algo caindo do segundo andar da casa.

   - Se você machucar a minha irmã, eu te mato - gritou Andrew, levantando com pressa da cadeira e indo em direção a casa.
   - Ei, se a calma. - digo entrando na frente de Andrew. - não é como se eles nunca tivessem feito nada.
   - Eles sabem que eu não gosto quando eles transam, e fazem isso justamente para me irritar. - fala Andrew bravo.
   - Sabia que Liza fica igualmente irritada quando você fica com garotas? - pergunto já estressada, era sempre a mesma coisa, Liza não podia ficar com ninguém, mas Andrew pode ficar com todas da escola.

Andrew bufa, e volta para a cadeira batendo os pés, ele não cresce.
Sentei na borda da piscina e coloquei o meu pé na água, a água estava gelada, mas refrescante. Uns minutos depois vejo Andrew sentar do meu lado e apoiar a mão na minha lombar.

- Desculpa - ele diz apenas
- Acho que deveria pedir desculpas para Liza e Lucca, não para mim - falo cruzando os braços.

Andrew me manda um olhar simples, que diz claramente "meu orgulho não permite que eu peça desculpas para minha irmã" , reviro os olhos.

- Vai Lice, me perdoa - disse Andrew me envolvendo em seus braços.
- Não, já disse que você deveria pedir desculpas para Liza, não para mim - digo virando a minha cabeça para olhar nos seus olhos.

Nós olhamos fundo nos olhos um do outro, respiramos fundo, uma, duas, três vezes. Será que é tarde de mais para falar que talvez, nesse último ano, eu tenha desenvolvido um tipo diferente de amor pelo Andrew?
Andrew olha para minha boca, e depois volta a me olhar nos olhos, ele chega mais perto e me beija, um beijo calmo e relaxado, devagar, sem pressa. Nos afastamos, ele encosta sua testa na minha.

- O que foi isso? - pergunto. Andrew continua calado, respirando fundo.
- O que foi isso Andrew? - pergunto de novo levantando.
- E depois falam que os meninos que são lerdos. - fala Andrew se levantando também.
- Andrew, você sabe que eu tenho uma imaginação fértil, então vou criar varias possibilidades para o motivo do beijo, então seja claro - digo já me desesperando, será que ele me beijou só pelo calor do momento? Ou foi por que está a fim de mim? Será que ele quer sexo?, várias perguntas começão a pipocar na minha cabeça, Andrew percebe o meu desespero e começa a rir.
- Relaxa Lice - ele disse tentando me acalmar, o que não dá certo. Ele beija a minha testa, e apoia o queixo na minha cabeça.
- Você nunca foi a amiga chata da minha irmã mais nova, na verdade, era a amiga legal e atraente da minha irmã mais nova - Andrew fala com um tom de voz diferente, um tom sincero. - Você é inteligente, bonita, divertida, e sempre me dá nos nervos. - sorrio com o último comentário. - E me deixa louco, mas o que realmente me irrita, e saber que você já ficou com outros caras, e mesmo nos conhecendo a anos, só nós beijamos a poucos minutos atrás.

Fico tentada a rir, quem diria que Andrew Kane conseguiria se declarar para alguém.

   - Sei que você provavelmente vai bater em mim, me xingar, mas saiba que estou apaixonado por você, e...

   Não deixei ele terminar a frase, segurei seu rosto em minhas mãos e o beijei, um beijo mais quente do que o outro, mas que logo foi correspondido.
   Andrew me pegou no colo e foi em direção a escada, e pelo jeito que ele apertou a minha coxa, percebi que não dormiria na sala, ou no quarto de Liza, mas sim, no quarto vizinho.