único

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— O que caralhos 'cê 'tá fazendo seu infeliz? — a declaração o fez querer rir.

— Tch, como se fosse da sua conta, e não grite no meio da rua — pontuou revirando os olhos.

— Responda. — O tom baixo era mais ameaçador do que os gritos, principalmente quando estavam assim tão próximos.

Oh.

Oh.

Mu Qing era horrível demonstrando, sempre puxando briga e ofendendo quando tudo que queria era gritar que sim, estava fodidamente apaixonado pelo idiota bastardo do Feng Xin. E, tê-lo pressionado tão ferozmente contra uma parede, falando com aquela voz grave em suas orelhas que lhe fazia querer ronronar. Por um momento esqueceu que estava sendo ameaçado.

— Não sei do que está falando. — falou por fim, o tom tão ácido como sempre — e mesmo que soubesse não faria questão de lhe dizer.

— como você tem coragem de falar isso? 'cê tá acabado, largado em um beco no meio da chuva, cara tem tanto sangue ao seu redor que daqui a pouco você morre. — A sinceridade nessas palavras fez Mu Qing se escolher, sentindo-se subitamente ameaçado pela preocupação mal disfarçada.

— E desde quando você se importa? — estava genuinamente curioso, isso não impediu de seu tom ser tão ácido e venenoso quanto em qualquer outro momento. Por um instante Mu Qing tinha certeza absoluta de que seria deixado naquela chuva crescente todo machucado, por um momento temeu o olhar que passou pelo rosto de Feng Xin, mesmo que soubesse que o outro nunca lhe machucaria enquanto estava indefesso.

Ser largado naquele beco escuro seria previsível, mas quando Feng Xin o pegou no colo, passando um braço pelos seus joelhos enquanto outro apoiava suas costas, desconsiderando totalmente que Mu Qing podia andar, foi mais que choque e surpresa que lhe impediram de ter qualquer reação. Foi o pavor, alastrando-se por seu corpo e congelando seus membros, uma súbita vontade de gritar, de falar qualquer coisa se fez presente, mas não conseguia projetar sua voz, não conseguia prestar atenção em nada ao seu redor, não sabia onde estava ou para onde estava indo, o som da chuva apenas tornando tudo ainda mais complicado, mas estava tão difícil de respirar...

A princípio, quando o corpo em seus braços começou a tremer levemente, Feng Xin não se importou, estava frio, o outro estava com algumas roupas meio rasgadas e estava encharcado pela chuva gélida, era previsível, para dizer o mínimo. Mas, de repente, ele começou a ouvir soluços, baixos e desesperados, como se Mu Qing estivesse fazendo um esforço enorme para reprimi-los. Lentamente baixou seu olhar, a visão estranhamente fez seu coração parar, lá estava um Mu Qing tremendo, com lagrimas rolando pelo seu rosto, o cabelo molhado pela chuva, olhos desesperados, como se implorando por um socorro que nunca poderia alcançá-lo.

— Ei... — de alguma forma, Mu Qing se encolheu ainda mais ao ouvir sua voz, a ação causou mais dor do que deveria.

Não muito tempo depois chegaram ao apartamento de Feng Xin, que fez questão de entrar o mais rapidamente possível, trancando a porta e ligando o aquecedor. Estava frio o suficiente e sabia que Mu Qing não tem uma alta tolerância ao frio. O corpo em seus baços ainda tremia, lagrimas ainda rolavam pelas suas bochechas e soluços ainda saiam de seus lábios, de alguma forma, o coração de Feng Xin se apertou. Decidiu levá-lo ao banheiro.

— Precisa de alguma ajuda? — indagou ao lhe alcançar uma toalha. O garoto mais baixo mirou-lhe os olhos desesperados, como se tivesse medo de algo que ele nunca faria. Pergunta errada — sabe, não é como se eu fosse te machucar — se encolheu levemente, seu tom estava tão pateticamente magoado que chegava a ser vergonhoso.

Noites Chuvosas Nem Sempre São Ruins Onde histórias criam vida. Descubra agora