tive razão

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a chuva batia na janela do quarto enquanto eu te via calçar os tênis pra ir embora. e, acho que agora era de vez.

— tchau?

você falou com a voz seca, me olhando pra ver se isso terminaria na cama como era de costume entre você e eu. mas não dessa vez.

— tchau, jean.

.

tu abriu a porta e saiu, pra nunca mais voltar. e sabe, eu fiquei aquela noite encarando o teto contando os minutos pras cinco. achando que por algum milagre, eu acordaria e te veria na janela fumando seu primeiro cigarro do dia enquanto ouvia jbfm.

eu pensei muito, jean. refleti muito mesmo sobre isso, sobre nós. e percebi que eu nunca seria a mikasa, por mais que você jurasse de pé junto não sentir nada por ela — mesmo que todo mundo soubesse que sim.

eu gostava de estar contigo, de ir pra praia todo sábado de manhã e acordar no domingo com a minha cabeça no teu tronco nu. e eu sabia que você gostava também, mas não mais do que sair correndo porque mikasa precisava de um favor seu numa madrugada qualquer. mas como nós não tínhamos nada oficial, tava tudo bem — por que eu ainda saia com outras pessoas mesmo que eu só quisesse sair com você.

e, em uma segunda qualquer eu encontrei com a mikasa e ela me chamou pra almoçar. nós conversamos e eu percebi o quanto ela gostava de você — por mais que em alguns momentos ela citasse um garoto chamado eren. até ela me mostrar o anel de vocês de namoro, e o meu mundo parar, por pelo menos uns cinco minutos.

e eu senti vergonha jean. vergonha por tudo que eu pensei que nós fossemos, por tudo que você planejou comigo, por todas as vezes que você me deixou por ela enquanto você dizia gostar de mim, mas principalmente por ter acreditado em você.

por ter aceitado te namorar naquele 15 de abril, por ter comprado as camisas originais do são paulo como presente de natal, por antes de dormir, deixar seu café pronto por que você dizia que não dormia bem se não tomasse uma xícara antes de se deitar, por todas as noites que eu consolei seu choro "sem motivo", por tudo.

e eu quis tanto te mostrar que a pessoa certa pra você poderia ser eu. mas você não quis, jean. e agora, quem não quer sou eu.

no outro dia eu acordei e percebi que tive razão, era o melhor pra nós dois. mas não vou mentir falando que não esperei que você finalmente se tocasse e batesse na minha porta implorando pelo meu perdão.

liguei o chuveiro e entrei debaixo da água gelada, deixando a água levar tudo que eu sentia por você — e nossa, eu nunca imaginei que um banho gelado poderia ser tão reconfortante. ao sair coloquei um short jean e uma blusa branca qualquer. calcei meu chinelo e me olhei no espelho perto da porta, sorrindo com a leveza que eu sentia dentro de mim.

liguei para sasha e combinei de nos encontrarmos no bar do posto 1, ela aceitou de prontidão e falou que chamaria mais alguns de nossos amigos. peguei minha bicicleta e cumprimentei o porteiro ao passar pelo hall do prédio.

pedalei até lá ouvindo seu jorge e senti a calma me invadir quando cheguei na praia, era bom estar com meus amigos no meu lugar favorito. ao avistar o bar, freiei e parei de frente pra você. tu me olhou com surpresa quando mikasa me abraçou falando sobre como era uma sorte eu também estar ali, e eu a respondi com animação, a abraçando de volta e dando dois tapinhas no seu ombro dizendo o quão bom era te ver novamente.

me sentei ao lado de sasha e conversei normalmente com todos os nossos amigos que estavam ali, mas você parecia estar tão estranho quanto a primeira vez que eu te conheci. diferente de antes que você era tímido, hoje você parecia nervoso, como se estivesse com medo de eu explodir a qualquer momento e mostrar para todos quem você realmente era. mas eu não faria isso, não quando eu estaria fazendo mais uma vez o'que você queria.

ao invés disso, eu chamei mikasa para caminhar na areia e você relutou por alguns instantes até toda a mesa se calar e olhar pra você confusa com o seu "surto" repentino. eu não falei nada pra menina, ouvi ela falar do quanto gostava de você e de todas as coisas que vocês faziam juntos. e foi sorrindo pra todas elas que enquanto as ondas batiam em nossos pés eu sentia aquele afeto por você que já era pouco, se tornar quase inexistente.

na hora de ir embora você veio conversar comigo, pedindo desculpas mas implorando para que eu não falasse sobre nós para a garota. senti uma onda de realização passar por mim, você se preocupava mais com ela do que com como eu me sentia com tudo aquilo, e eu respirei fundo tentando controlar o que quer que fosse que eu estivesse sentido.

tive razão tocava nas caixas de som e eu cantarolava a música enquanto ouvia sua palestra sobre como nós ainda tínhamos chance de ficar juntos, mas pra isso eu tinha de aprender como agir perto de você, o que dizer e até pra que lugares ir. te interrompi colocando a mão no seu ombro.

— sabe, jean? presta atenção nessa parte:

mas pra mim tá tranquilo, eu vou zuar

o clima é de partida

vou dar sequência na minha vida

e de bobeira é que eu não estou

e você sabe como é que é, eu vou

mas poderei voltar quando você quiser


— eu não vou poder voltar quando você quiser. então, por favor, segue a sua vida. o nosso fim demorou, mas vai ser melhor.

saí andando e senti você segurar no meu pulso enquanto me olhava e fazia que não com a cabeça, mas eu sorri e fiz que sim, me soltando de sua mão que agora parecia uma algema se estivesse junto de mim.


dei tchau a todos e subi na bicicleta te deixando pra trás, dando adeus à alguém que um dia me fez sofrer, mas não mais. e por isso durante o trajeto eu deixei tive razão no replay, repetindo o que seu jorge dizia: demorou, mas vai ser melhor.

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