Law odiava Luffy. Com toda a força do seu âmago o odiava. Podia até mesmo citar uma lista completa do tanto que o odiava e cada um dos motivos, que diga-se de passagem, não eram poucos.
Poderia começar pela burrice imensurável da criatura, a imbecilidade crônica e cada absurdo sem filtro ou raciocínio antecedente que era proferido por aqueles belos lábios que formavam o mais lindo e formidável sorriso. Essa era, indubitavelmente, uma das maiores fontes de seu estresse diário e sempre dizia isso à ele, afinal dizer que ele era estúpido não era um insulto, mas sim um diagnóstico, o primeiro passo para a cura.
No entanto, Law falhava miseravelmente como médico nesse quesito, pois nem mesmo ele era capaz de encontrar uma solução para alguém que resolvia que tudo que não conseguia entender era uma "coisa misteriosa" ou simplificava tudo graças à incapacidade em utilizar os neurônios para pensar e se concentrar por mais de dois minutos e gerar uma solução.
Odiava também a inconsequência e imprudência do garoto e sua terrível capacidade de se envolver em problemas em questões de segundos, levando quem estivesse ao redor consigo. E Law sempre estava com ele, o que consequentemente o levava à se afundar no mais puro e agonizante estresse.
Seu estresse também era corriqueiro ao passo que Luffy constantemente destroçava, sem quaisquer resquícios que fosse de culpa ou arrependimento, todos os seus planejamentos. Ele não tinha piedade quanto à isso e Law se sentia o mais idiota de todos por perder seu tempo em ainda tentar e ter esperanças.
Luffy também não era alguém romântico, Law, no entanto, não tinha tanto de direito de reclamar quanto à isso uma vez que não era um dos mais romântico, mas ainda assim ele tentava e se esforçava por isso, o que não poderia se dito de Luffy. Esse repelia qualquer traço de delicadeza ou sutileza de cada gesto que tinha, por mais banal que fosse, e sendo completamente contrário, era de uma indelicadeza e má educação sem tamanho que até mesmo causava espanto nas mães dos filhos mais malcriados existentes - isso por não mencionar, é claro, os episódios egoísta e infantis do garoto que muito se assemelhavam.
E era por essas e outras razões que Law estava em sua cama de casal completamente irritado e frustrado, juntamente com uma careta desgostosa e seu estômago roncando em desespero por comida.
- Tral... - Law obviamente não respondeu ao chamado, tampouco se virou já ciente de sua falta de controle quando via aqueles olhos pidões e biquinho adorável que sabia que o menor estava fazendo já que sempre funcionava. - Tral, não foi isso tudo, você tá fazendo tempestade em copo d'água.
- Como!? - Se virou indignado. - Se eu como um pedaço de cereja de algum bolo seu você fica sem falar comigo por dias, agora você pode comer todo o meu jantar e me deixar sem nada, nem mesmo na geladeira, e com fome? Do jantar que eu encomendei para nós dois? No nosso aniversário ainda por cima?
- Mas... A culpa foi sua que demorou demais!
- Eu avisei a você pela manhã, mandei mensagem e deixei recado avisando sobre isso. E você ignorou tudo apenas por preguiça de ler.
- Eu tava com sono de manhã, não ouvi. E você escreve textos demais. - Law lançou um olhar torto repleto do mais puro ódio para o outro e se virou para sua posição inicial. - Tral... Não fica assim, ainda é nosso aniversário, eu nem te mostrei minha surpresa.
- Você esqueceu que era hoje, Luffy-ya. Só lembrou ontem à noite, isso por causa da agenda do seu celular. - Resmungou irritado e levemente magoado, apesar de não se surpreender com a atitude. - E ainda por cima estragou a minha.
- Eu não sabia que estávamos em julho, achei que ainda era junho. - Tentou se justificar enquanto Law bufava ainda mais irritado. Sem noção, queria gritar, mas se conteve. - E você também têm culpa, nem escondeu direito.
- Você que foi roubar minhas balas de menta no jaleco que você é proibido de tocar com essas mãos sempre gordurosas e sujas de doces. - O fuzilou com um olhar sobre o ombro, mas ele sabia que aquela discussão de nada adiantaria, Luffy não lembraria nem de meia palavra da conversa. Voltou a deitar resmungando. - Você não sabe ser nem um pouco romântico.
Houve apenas silêncio após isso e Law se perguntou se Luffy havia dormido - como já fizera algumas vezes durantes discussões ou conversas importantes - mas logo ouviu o som de uma gaveta abrir e fechar, em seguida sentiu o colchão afundar ao seu lado e um peso passar por seu corpo. Luffy havia se jogado em sua frente, quase caindo no cama, mas mantinha uma expressão atipicamente seria enquanto abria a caixinha de veludo preto onde duas alianças de ouro brilhavam.
- Então você não vai mais me pedir em casamento? Não vai mais me querer com você aqui?
Law paralisou com a pergunta. Seria mentira se dissesse que nunca pensou em largar tudo e ir embora diante à todo seu estresse e tudo que tinha para reclamar do outro, mas ao mesmo tempo seu corpo travava e ele também se perguntava para onde iria. Sinceramente não saberia, não possuía respostas para isso, não conseguiria e muito menos queria viver longe de Luffy. Tinha bem claro em sua mente o quão sem graça e sem cor seria sua vida sem a presença dele.
- Eu sei que sou cheio de defeitos, Tral. Não sou romântico, não sei como fazer essas coisas, sou esquecido e não ligo muito pra isso, você sabe. - Law revirou os olhos, claro que sabia, e claro que ele não se desculparia por nada que fez, não sinceramente já que para ele não havia sido nada demais. - Eu não seria eu se fizesse isso e sempre foi assim desde o começo, mas eu te amo do jeito que sou e com tudo que tenho.
Law encarou aquelas grandes e redondas orbes negras que brilhavam com a mais pura sinceridade e suspirou. Mesmo com uma lista interminável de reclamações e coisas que odiava em Luffy jamais conseguia imaginar ele sem nenhuma daquelas características, não pensava em mudá-lo - apesar do desejo de melhorar alguns aspectos para evitar que ele quebrasse seu coração tantas vezes -, não queria tê-lo longe.
Era verdade que com toda a intensidade que tinha, Luffy o levava ao limite e fazia-o extrapolá-lo sem remorso algum, mas ele seria nada sem toda aquela agitação e excentricidade em sua vida.
Luffy o deixava louco e muitas vezes queria apenas bater na cara estúpida, porém linda dele ou envolver suas mãos no pescoço alvo e apertar até liberar toda sua raiva, mas na mesma proporção queria abraçá-lo, beijá-lo e fazê-lo gritar até perder a voz enquanto estivesse dentro dele ou o contrário também. Porque ninguém no mundo o fez sentir um amor daquela forma, ninguém o fez viver tão intensamente muito menos trouxe tanta felicidade à sua vida como aquele garoto babaca e paradoxalmente incrível.
- Eu te odeio, Luffy-ya. - Luffy franziu o cenho com um bico insatisfeito, aquelas palavras não pareciam mentira e era quase palpável o ódio que circundava o mais velho. - Mas eu sei que isso é sinônimo de amor quando se trata de você.
Completamente empolgado e feliz com a resposta final de Law, Luffy esticou as mãos e o puxou pela nuca para um beijo, o que fez ambos caírem da cama e a caixinha com as alianças ter o mesmo destino.
Com inúmeros murmúrios de xingamentos contra o moreno que estava com os braços e pernas enlaçados em seu tronco agora dolorido, Law teve que ir procurar as alianças que foram lançadas para debaixo do guarda-roupas que não possuía sequer espaço para as mãos adentrarem.
Mas problemas análogos à esse era uma rotina comum à qual Law já estava habituado, e mesmo com os resmungos e ódio que sentia, ele também amava cada um daqueles momentos irritantes com Luffy. E odiando-o com todos os defeitos e com tanto furor tinha a absoluta resolução que aquilo significava o mais puro e verdadeiro amor que poderia existir.

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Odiar você
FanficLaw odiava Luffy tanto, mas tanto, que tinha absoluta certeza que era amor, o mais puro e verdadeiro. Lawlu || Fluffy || Inspirada em "True Love"