Um lugar comum

Capítulo 1

Estou extremamente atrasada, geralmente eu sou atrasada mesmo isso não é nenhuma novidade, mas hoje eu precisava chegar no hostel ainda mais cedo do que o normal, Malu, minha sócia, mandou uma mensagem ontem à noite me dizendo que vamos receber um hóspede ilustre, um produtor ou algo do tipo, um desses riquinhos metidos a besta que quer "ter a experiência completa na cidade". Eu nunca vou entender, um cara que poderia pagar pelo hotel mais caro do litoral, com uma linda vista para o mar escolhe um hostel mequetrefe para se hospedar, não faz sentido algum, ele deve ser doido, por isso a Malu pediu para eu chegar mais cedo, eu geralmente lido muito bem com gente doida.

Finalmente meu nome é chamado na cafeteria e pego meu pedido, um croissant de quatro queijos e um capuccino, sim eu estava atrasada mas tomar um bom café sempre é minha prioridade mesmo que eu tenha que comer dentro do taxi.
Ainda dentro da loja avisto pela porta de vidro estacionado a uns dois metros de distância um carro branco, um táxi? Sim um táxi, mordo meu croissant, pego meu celular de cima do balcão e saio correndo em direção ao veículo segurando minha embalagem descartável de café, vai ter que dar tempo de pegar esse carro, se eu conseguir vai ser mais rápido do que pedir um carro por aplicativo.
Abro a porta da cafeteria com os ombros e sorrio para o taxista que parece ter me visto pois ele sorri de volta, ótimo, até que não vou chegar tão atrasada, o destino está do meu lado.
Assim que me aproximo um homem abre a porta do carro para mim, muito gentil da parte dele já que estou com mil coisas nas mãos.
- Obrigada. - Agradeço o desconhecido e me sento no banco de trás do carro.
- Com licença moça, esse táxi é meu. - Ele diz com uma cara indignada.
- Não não, esse táxi é meu, eu vi ele lá e dentro da cafeteria. - Digo colocando minhas coisas no banco para ficar com as mão livres. - O motorista até sorriu para mim. - Continuo e tento fechar a porta do carro mas o moço desconhecido me impede.
- Olha, eu estou cheio de malas, você poderia ser um pouco mais educada, tenho um lugar muito importante para ir.
- E eu estou atrasadíssima. - Digo e bato a porta do carro com força que acaba pegando na mão dele. Escuto ele xingar alguma coisa mas ou ele falou muito rápido ou em uma língua desconhecida pois não entendi uma palavra do que ele disse. Mas não me importo muito, quem mandou atrapalhar a viagem de pessoas atrasadas.
-Rápido moço, preciso chegar no hostel Brisa do mar urgente. -Digo para o taxista que dá partida no carro, deixando o moço intrometido com uma cara emburrada para trás.

***

- Você está atrasada! - Malu me aborda na porta do hostel assim que desço do táxi. - Limpa essa roupa cheia de migalha de pão. Você tem sorte que o produtor ainda não chegou.
- Desculpa, eu sei do atraso, mas para que fazer toda essa cerimônia para receber esse cara.
- Lis você sabe que o nosso hostel não está muito bem financeiramente, a presença dele aqui pode gerar uma ótima propaganda para gente, por favor trate ele o melhor possível.
- Ta bom, ta bom vou me esforçar, mas se esse cara for chato não há propaganda positiva que me faça tratar ele bem.
- Olha, acho que é ele. - Malu diz quando avistamos um carro parando na porta do hostel.
A porta do carro abre e vemos o tal cara descer, ele está de óculos de sol apesar de o tempo estar nublado hoje, típico de gente rica, olho bem pra ele, ele não é muito alto, pelo menos não tão mais alto do que eu, não tem cara de produtor de coisa nenhuma... na verdade ele tem cara de... não acredito.
- O que foi? - Malu pergunta vendo a cara incrédula que eu fiz.
- Ai não pode ser, não pode ser.
- O que não pode ser Liz?
O produtor agora está na recepção, meio atrapalhado com as malas que ele trouxe, para que tanta mala? Quanto tempo será que ele vai ficar hospedado aqui? De todas as pessoas do mundo o tal produtor tinha que ser...
- Você! - Dizemos em uníssono quando nossos olhos se encontram.