Jantar às Oito - Conto Lésbico

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Eu estava em minha sala quando escutei sua voz melodiosa ressoando pelo corredor.

― Sara! – a ouvi dizer antes mesmo que ela surgisse em meu campo de visão, já a imaginando com seu sorriso largo. – Você está linda! Como sempre, claro.

Sara apareceu primeiro, também sorrindo de seu modo educado e seguro. Ela surgiu um momento depois e as duas ficaram paradas exatamente em frente à minha sala, a parede de vidro as exibindo como se fosse a tela de uma TV.

As duas eram mulheres muito bonitas, a beleza negra de Sara contrastando com a pele clara de Mia, as roupas elegantes moldando as curvas de seus corpos. O encontro entre minha chefe e a fotógrafa poderia se tornar facilmente meu programa favorito, mas eu me esforcei para não dar muita atenção aquele episódio, embora Mia parecesse exercer uma atração natural sobre meu olhar.

Naquele dia, em especial, parecia impossível não a admirar no vestido preto que descia por seu corpo até a metade de suas pernas, na medida exata entre o provocante e o aceitável, a silhueta alongada pelos saltos agulha. Uma gargantilha preta, sutil, rodeava seu pescoço longo, completamente exposto pelos cabelos recolhidos em um coque propositalmente desleixado. Ela estava linda e não era apenas meus olhos que se sentiam atraídos por sua presença. Todo meu corpo começava a reagir a ela, as lembranças atiçando o desejo.

Mia estava ali para encontrar o irmão, a ouvi respondendo a Sara, enquanto eu fingia estar ocupada com os papeis sobre minha mesa. Henrique era um dos advogados sócios da empresa, o que fazia com que Mia aparecesse esporadicamente para almoçarem juntos. Aquela não era a primeira vez que eu a via ali para encontrar o irmão, mas era a primeira vez que sua presença mexia daquela forma comigo. Ele estava em uma reunião com um cliente, Sara disse, convidando-a em seguida para que fossem até seu escritório tratar sobre algumas fotos que haviam sido tiradas no fim de semana para sua nova campanha de divulgação pessoal.

E então, com três passos quase sincronizados, as duas mulheres saíram do meu campo de visão, Mia sequer olhando para mim por um único instante. Com o olhar agora erguido e fitando a parede em tom pastel do outro lado da vidraça, perguntei a mim mesma o que eu esperava. A resposta certa era nada. Eu realmente não esperava nada, não havia nem mesmo pensado muito no que havia acontecido, mas sempre fui sincera demais, pelo menos comigo mesma, para admitir que assim que meus ouvidos escutaram a voz de Mia, todo meu corpo reagiu.

Me joguei contra a cadeira e passei as mãos pelos olhos fechados, tentando, com um suspiro pesado, aliviar a irritação que sentia por desejar Mia. Seria mentira se eu dissesse que gostava do que estava sentindo e hipocrisia se dissesse que não sentia nada. Todo o meu corpo sentia. Minhas mãos desejavam toca-la outra vez e minha boca queria provar novamente o sabor de seus beijos e de seu corpo. E tinha seu perfume, uma fragrância repleta de notas de sensualidade, igual a mulher que o usava.

Apesar de não ser capaz de lembrar do cheiro, eu era capaz de lembrar das sensações que ele despertou em mim enquanto mergulhava no pescoço dela e sentia o calor de seu corpo sob minhas mãos. Minha boca fechou-se contra sua pele macia em um beijo úmido e Mia gemeu enquanto seus braços me prendiam contra seu corpo, seus quadris movendo-se em busca dos meus. Em meu escritório pequeno entre duas outras salas e com vista para o céu azul poluído, eu gemi, não sabendo o que fazer com tudo aquilo que estava sentindo, desejando.

Recompondo-me, inclinei-me novamente sobre a mesa, mas não tinha porque ou para quem fingir que estava prestando atenção nos papeis a minha frente. Minha mente só conseguia pensar na loira de pernas longas e gemidos capazes de enlouquecer qualquer um, que já esteve sob meu corpo, sob minha boca, e que agora estava na sala da minha chefe, no fim do próximo corredor.