A MUDANÇA
Quando minha mãe anunciou que iriamos mudar de cidade, eu simplesmente não gostei nada da ideia.
– Não podemos nos mudar – resmunguei, deixando o garfo dentro do prato.
– Por que não, Lian? – quis saber minha mãe, um vinco se formando em sua testa.
– Por que... Por que... – Eu não conseguia encontrar as palavras. Isso sempre acontecia comigo quando me sentia nervoso.
Bebi um pouco de água.
– Por que eu gosto daqui – respondi por fim. E isso era uma verdade. Eu gostava de morar em Holambra. – A cidade é pequena, não há crimes. Foi onde nasci. E também tem o ar.
– O que tem o ar? – O vinco na testa de minha mãe ficou mais marcado ainda. – Há ar em todo lugar, Lian, inclusive em São Paulo. – Ela sacudiu a cabeça e riu de maneira abafada.
– O ar daqui é puro, mãe. Sem poluição. – Eu julgava que isso fosse efeito das flores cultivadas na região, afinal Holambra destacava-se como o maior centro de produção de flores da América Latina. Então o ar daqui era super limpo e fresco. E pelo pouco que eu conhecia São Paulo, o ar de lá não era um dos melhores ares para se respirar.
Minha mãe sacudiu a cabeça novamente, achando graça do meu comentário obviamente.
– Mãe, estou falando sério! – eu a repreendi, fechando a cara.
– Também estou querido, e sinto muito, mas... já tomei minha decisão.
Eu não entendia muito bem os motivos da minha mãe para tomar uma decisão dessa. Até semana passada ela estava tão animada, trabalhando em seu salão de beleza aqui mesmo na frente de casa, e agora ela estava super animada para mudar de cidade. E na era uma cidade qualquer. Era São Paulo, uma das cidades mais super populosa do país, onde ela nascera, onde seus pais – meus avós – ainda moravam, e onde a tia Jude, sua irmã caçula morava com a filha, minha prima Anne, que tinha a mesma idade que eu. Obviamente que todos esses fatores influenciaram minha mãe e tomar tal decisão.
– E quando isso foi decidido? – eu a indaguei.
Mamãe enrolou um pouco de macarrão com o garfo.
– Faz algum tempo que venho amadurecendo a ideia – ela respondeu meio vagamente. – E não comentei com você antes por que não era nada certo ainda.
– E o papai concorda com isso? – perguntei. Minha voz soou um pouco seca, por causa do meu nervosismo com a notícia. Afinal nos meus quase dezesseis anos de idade eu nunca havia saído de Holambra, a não ser em janeiro que era quando fazíamos uma viagem em família. E essas viagens não eram definitivas como uma mudança era. Tudo bem que nesse último ano nossa viagem fora cancelada devido alguns conflitos familiares, mas quando saímos de casa sempre voltávamos.
Mamãe deixou o garfo com o macarrão enrolado de lado e limpou a boca com o guardanapo. Percebi que ela havia ficado sem graça a simples menção do meu pai, de quem ela havia se recém divorciado após 15 anos de casamento.
– Seu pai... – mamãe disse, mas fez uma pausa, como se estivesse refletindo no assunto. – Seu pai perdeu o direito de concordar com alguma coisa que faço faz tempo – ela retrucou, olhando para mim com firmeza em seus olhos cor de chocolate, da mesma cor que os meus. – Mas mesmo assim eu o comuniquei por telefone – emendou.
Por telefone? Os dois haviam conversado sobre isso por telefone?
Foi aí que percebi que as coisas ainda não estavam nada bem entre eles.
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Afinal, Quem Sou Eu?
Teen FictionAo se mudar para São Paulo, após o fim do casamento de seus pais, Lian, aos 16 anos de idade, se vê diante de inúmeros questionamentos sobre si. Entre eles está "quem ele é de fato". O que Lian não sabe é que as respostas para essa pergunta estão...