CAPÍTULO 2

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O VAZIO

Eu não nunca fui um adolescente rebelde ou agressivo, mas mesmo assim minha mãe, após se aconselhar com o pastor da igreja na qual ela frequentava havia alguns meses, julgou que eu precisava de terapia para assimilar a separação dela e de meu pai. 

Tudo bem que essa situação toda fora algo difícil para mim, lá no início, de assimilar, mas quando minha mãe resolveu me arrastar até o consultório da Dra. Vanessa, uma psicóloga com boa fama na cidade, já faziam seis meses que meu pai havia saído de casa, e eu meio que já havia aceito a ideia de não ter mais meus pais morando sob o mesmo teto. Então, claro,  achei essa uma atitude desnecessária de minha mãe. O problema era que quando ela  colocava alguma coisa na cabeça era praticamente impossível de fazê-la mudar de ideia.

Então claro que eu fui forçado a ir até do consultório da Dra. Vanessa duas vezes  por mês e claro que ela quase me forçava a falar como me sentia com relação ao divórcio, mas como eu não tinha o que dizer e nem sabia o que dizer, me sentava de frente para ela, em sua sala muito limpa e clara, e passava uma hora e meia  fazendo desenhos ou tendo conversas paralelas com ela sobre coisas bem superficiais, sem chegar em nenhum ponto especifico.

E também eu não tinha muito que dizer sobre minha vida, logicamente. Minha infância fora ótima, sem histórico de abusos ou agressão, eu era um filho muito querido pelos meus pais, um adolescente responsável e estudioso, e sobre o término do casamento deles, embora muito chateado que minha família tivesse se divido por culpa do meu pai, eu preferia não me envolver. Nada que eu dissesse a Dra. Vanessa ou para qualquer pessoa do mundo mudaria a situação. Então por que eu deveria me abrir?

Eu tinha apenas quinze anos e não havia vivido muitas coisas para ter sérios problemas. Eu não sofria de amor não correspondido, também não tinha problemas com álcool ou drogas... Enfim, eu era normal...

Okay. Talvez não tão normal assim devido um pequeno detalhe...

Eu não sentia atração física ou emocional por ninguém – e quando digo ninguém me refiro que não me sinto atraído por garotas e muito menos garotos.

Eu julgava que isso acontecia por causa da minha idade, eu tinha apenas quinze anos completos, e meus hormônios eram controlados. E me desculpem citar isso, mas... mas eu mal me masturbava. Porém os outros garotos da mesma idade que eu, a grande maioria que eu conhecia, já tinham tido suas primeiras experiencias sexuais e amorosas. E eu por outro lado não me encaixava nesse contexto.

Essa era a única questão da minha vida que me incomodava mais que o fim do casamento dos meus pais. Fiz algumas pesquisas na internet e descobri que talvez eu fosse assexuado – um tipo de pessoa que não sentia atração física por nenhum gênero. Mas como eu poderia saber sendo que nunca me relacionei com nenhum dos gêneros?

O problema maior nisso tudo era o talvez... a dúvida... e consequentemente o medo – medo de ser algo que fizesse as pessoas me odiar. Estávamos em pleno século 21 e embora as lutas raciais e de gênero estivessem sempre em pauta o preconceito ainda existia.

Certa vez até cogitei contar isso para a Dra. Vanessa, mas no fim, por medo dela contar para minha mãe – que já tinha preocupações de sobra – ou para qualquer outra pessoa que conhecesse minha mãe e pudesse contar para ela, decidi não o fazer.

No entanto, nos últimos meses as coisas se tornaram mais difíceis. Eu via os casais héteros na rua e me imaginava no lugar deles. Eu via séries com casais gays e também me imaginava no lugar deles. Mas eu só me imaginava, com vontade de conhecer alguém, porém sem aquele interesse, sem aquela atração.

Certa noite eu estava deitado em meu quarto, ouvindo Times de SG Lewis, olhando para uma pequena aranha que tecia sua teia no teto, quando minha mãe bateu na porta e enfiou a cabeça para dentro.

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⏰ Última atualização: Sep 17, 2021 ⏰

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