Cartas Para "Luís De Camões"

o adeus

Luís
Foi assim que eu o chamei aqui
Porque a única coisa sólida que sei de você
É que você um dia leu Luís de Camões.

Passei dois dias escrevendo essa carta para você. Sabe, Luís, talvez a chave para a minha liberdade esteja nessa carta.

O último fragmento que me prende ao passado.

Depois de quatro anos eu pensei que seria fácil, no entanto, te rever naquele sábado foi complicado. Eu mal conseguia olhar para você. E quando finalmente consegui... bom, agora, pela primeira vez eu posso dizer que me apaixonei por você. Mas pensando melhor, ninguém se apaixona pelo o que não conhece. Eu vi você fechando os olhos no louvor e foi a coisa mais linda que eu já vi.

Eu vi Deus em você.

Eu senti uma coisa tão forte dentro de mim que eu precisaria de duas vidas para poder te explicar detalhadamente.
Entretanto, quando você foi embora eu me senti culpada. Era como se eu tivesse invadido o seu lugar e aquilo fosse perturbador para você.

Luís, não se preocupe. Depois dessa carta aquela garota já não vai mais existir. Aquela que te viu na igreja vai ficar muito bem escondida dentro de mim.

Você não precisa correr milhas de mim porque te confessei o que senti. Mas pelo menos agora foi algo que eu te disse, não outra pessoa. Ninguém pegou o meu celular como da última vez e te mandou. Eu me calarei depois disso.

Só Deus vai me ouvir.

Falando em Deus. Quero te dizer para nunca largar a sua fé. Deus é incrível. E isso vai muito além das minhas palavras, se mantenha nele.

Eu tinha um vazio enorme dentro de mim , "Luís". Por isso eu deixava que aquelas pessoas dissessem quem eu era, porque afinal eu também queria saber. Foi até que reencontrei Jesus e ele me disse quem ELE era, e tinha a resposta que eu queria.

Foi perfeito porque o meu vazio era do seu tamanho. Cada parte se encaixava perfeitamente. Ele cuidou de cada dor com paciência, com nitidez em seu amor por mim.
Ele me ensinou a perdoar, como agir, falar e até mesmo orar. Então ele viu essa garotinha que você conheceu. Ele viu toda a bagunça. Eu tive que cortar muitos espinhos para admitir que eu me importava com o que você pensava de mim, em como isso doía. Ele me perguntou quem era você para mim, e eu não soube responder. Só te digo que é sim possível sentir raiva de uma pessoa sem a conhecê-la. Eu tinha. Eu me comparava com as meninas que você ficava e me sentia inferior. Então Deus começou a trabalhar no meu amor próprio. Agora só te digo que a maioria era tudo menor de idade seu doido irresponsável de vinte anos. (Kkkkk) nem sei como se rir em carta.

Espero de coração que você fique bem.

Pensando melhor, eu não posso me desculpar por minha antiga versão. O passado foi o que tinha que ser. E alguns reencontros surgem para um adeus que não existiu.

Este é o último ponto para se fechar em mim.

Você pode até me odiar, mas a memória que eu tenho de você agora é apenas aquele cara sentado no banco da igreja fechando seus olhos e sentindo a presença de Deus.

Eu pensei que nessa carta eu escreveria quem eu sou agora. Mas o agora é uma mudança constante e quando você ler isso, ela já tenha partido. O que posso te dizer, se é que você chegou até ao final. É que eu amo o por do sol, penso em suas cores e penso em pintá-lo. Gosto de música clássica e dança.

Essa parece ser a única coisa constante em mim.

Espero que um dia chegue até você. Com o passar dos anos talvez nem faça tanto sentido e você nem lembre mais de mim. Mas eu precisei disso. No fundo fez um enorme conserto. Eu precisava seguir minha história sem levar isso comigo. Talvez a gente se encontre no futuro e consiga olhar nos olhos um do outro.

Fica em paz cara das bochechas coradas.

Cecília