Capítulo 2 - A Ressaca

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A voz era rouca e profunda, mas perigosamente baixa. O arrepio que eu senti ao identificar o dono da voz era perfeitamente justificável: era medo.

Observei pelo canto do olho o recém-chegado retirar a capa preta e se sentar ao meu lado no balcão. O tio do Ramen não falou nada. Quanto a mim, fiquei sóbria na hora.

Francamente, ele não poderia ter se sentado em outro lugar?

O recém-chegado indicou o número 2 com os dedos e acenou com a cabeça para mim. Imediatamente, o tio colocou dois copos cheios na nossa frente. Um para cada um.

— Você não deveria estar perseguindo os desertores ou algo assim? — questionei enquanto dava um gole. Mais uma vez, a garganta ardeu. O que era bom.

— Por que eu faria algo tão tedioso assim? — ele retrucou, com a voz baixa. E tomou a bebida de uma vez.

Finalmente me virei para encará-lo. Que ele era um dos melhores ninjas – e mais perigoso – ninguém tinha dúvidas. Que ele poderia me matar em instantes? Eu também não tinha nenhuma dúvida. Mas a bebida nos dá certa coragem.

Ou apenas aumenta a nossa estupidez.

— Porque o seu irmão está fazendo isso, nesse exato momento.

Ele deu uma risada curta.

— Parece cansativo.

Revirei os olhos e me voltei para o tio, que permanecia em silêncio, e pedi mais duas bebidas. Essa rodada seria por minha conta.

— Ele é um idiota — eu confessei.

Itachi-san apenas deu de ombros, indiferente.

Após alguns minutos em silêncio, ele falou:

— Pensei que vocês estavam se dando bem.

— Se levar três bolos seguidos é estar bem para você, então estamos ótimos.

Ele acenou. Entendeu a situação. Não havia mais o que dizer.

Olhando para o tio do ramen, ele falou:

— Pode deixar a garrafa aqui.


...


Não sei quantos copos viramos no total ou quanto tempo ficamos sentados lá, apenas conversando vez ou outra. Na verdade, eu falei bem mais do que ele. No fim, só sei que eu estava tonta, mal me aguentando em pé.

E as ruas estavam totalmente desertas.

— Francamente, garotinha... — Itachi-san murmurou.

Recobrei a consciência nesse instante e percebi que ele estava me carregando nas suas costas. Tentei falar algo, mas não saiu nada que fosse minimamente entendível.

— Você está bem? — ele perguntou.

Eu resmunguei em resposta.

E apaguei.


...


Não existe um despertador mais eficiente do que o Sol pegando bem no meio do seu rosto. Não que isso seja algo bom.

Pisquei algumas vezes, tentando me situar. Paredes rosa, cama acolchoada e várias flores enfeitando o ambiente. É, eu certamente estava no meu quarto. Só não sabia como havia chegado aqui.

Até que me lembrei. "Francamente, garotinha...".

O leve arrepio que senti não foi de medo dessa vez. Foi de algo que eu não sabia como definir. Só que não havia muito tempo para pensar sobre isso.

— Alôooou? — uma voz meiga soou ao meu lado. Era a Hinata-chan.

Nem me dei conta de que já estava na rua, indo em direção ao hospital. Eu estava funcionando no automático, com a ressaca e a enxaqueca martelando a cabeça sem trégua. Até pensar era doloroso.

— Oi, Hinata-chan — eu tentei sorrir, mas saiu uma careta. Apertei ainda mais os olhos, pois a claridade estava me matando.

Ela acompanhou o meu passo.

— Como foi o encontro ontem? — ela perguntou.

— Ótimo — respondi imediatamente, mas logo me dei conta do meu erro. — Quero dizer, péssimo. Ele furou outra vez.

Ela segurou o meu braço e deu um leve aperto.

— Que triste — disse simplesmente. — Você está bem?

— Só com uma leve ressaca — eu menti. A ressaca era muito pesada.

Hinata-chan imediatamente me parou e olhou nos meus olhos, franzindo o cenho.

— Você bebeu sozinha?

Eu queria mentir e dizer que sim. Mas existe algo de doce na Hinata-chan que simplesmente tornou isso impossível.

Eu suspirei.

— Sim, mas só de início — fiz uma pausa. — O Itachi-san chegou um tempo depois e bebemos juntos.

Ela ficou boquiaberta.

— Vocês o quê!?

Eu revirei os olhos e comecei a andar.

— Não faça um escândalo. Ele é o meu cunhado.

Ela apertou os lábios e não disse mais nada.

A verdade é que, até pouco tempo atrás, Itachi-san era odiado por todos. E quando o motivo do massacre da família Uchiha veio à tona, e a conspiração contra a vila foi revelada, não foi todo mundo que engoliu a história. Mas ele continuava sendo o irmão mais velho do Sasuke-kun.

Ou seja, ele faz parte da minha família também. Então, eu apenas acreditei na história.

Hinata-chan deu um pequeno suspiro e murmurou:

— Eu não gostei disso.

No fundo, eu também sabia que não deveria ter gostado.

Mas a verdade é que eu gostei.

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