Harry acordou naquele primeiro dia de fevereiro com o mindinho um pouco mais pesado do que o habitual.
Na verdade, quanto mais se tornava desperto, mais sentia o peso se intensificar em seu pequeno dedo. O peso era ilusório, é claro, oriundo do fato de que cada vez mais quando se situava naquele mundo novamente e entendia que dia era aquele, percebia a importância do que estaria ao redor do seu dedo menor.
Ainda com o sol iluminando o quarto – e o rosto do rapaz – em frestas que burlavam a cortina, Harry sentou-se na cama e finalmente levou o olhar até o mindinho.
Era seu aniversário de 22 anos. Era por isso que ali, envolvido em seu dedo, existia uma delicada linha vermelha que descia pelo chão, atravessava a janela entreaberta e seguia o horizonte além.
Isso significava que Harry agora poderia encontrar a sua alma gêmea. A pessoa com quem dividiria sua vida. E significava também que a outra pessoa também já tinha pelo menos 22 anos. Antes que ambos atingissem essa idade o fio era invisível.
Imagine o choque então quando dois namorados atingem os 22 outonos e percebem que os fios em seus dedos não os levam um ao outro.
Foi pensando em tudo isso que Harry pulou da cama, vestiu uma camisa branca simples, calça jeans skinny, botas de cano curto e correu para fora do quarto. Sua vontade era de correr imprudentemente até chegar a pessoa que possuía o outro lado do fio.
Contudo, o grito provindo logo atrás dele o impediu.
– Harry, querido, onde pensa que vai? – Era a mãe, que agora vinha abraçá-lo. – Primeiramente, feliz aniversário!
O jovem sorriu, afundando nos braços confortáveis de Anne. Permaneceram um tempo assim até que ele anunciasse:
– Mãe, volto mais tarde, o fio...
– Está visível agora?
– Sim.
– Boa sorte. – E aqui ele fora agraciado com um beijo na testa.
– Obrigado! – E, vestindo um casaco, correu para a liberdade das ruas.
O vento frio imediatamente acariciou-lhe a face e despenteou os fios. Instintivamente, afundou dentro do casaco, as mãos enfiadas nos bolsos.
O curioso de seguir o caminho incerto para o qual o fio levava era que ninguém além dele e da fatídica pessoa com quem dividia a outra parte conseguiam enxergar o trajeto traçado como uma trilha de pedaços de pães deixados por duas crianças perdidas em uma floresta.
E por isso Harry parecia, aos olhos dos que foram contaminados pela falta de empolgação diante da vida, apenas um lunático. Já para os poetas e jovens apaixonados; ah, para eles, ele com certeza estaria atrás da sua outra metade enquanto cruzava as ruas cheias de carros e pessoas ocupadas com a correria do cotidiano.
O garoto de olhos verdes atravessava o trânsito no sinal vermelho, era carregado pela massa de pessoas, mas nunca parava. E nunca perdia o trajeto do fio de vista. Era quase como se fosse magneticamente puxado por ele.
Perguntava-se se a pessoa também estaria à sua procura e, dessa forma, esbarrariam-se a qualquer momento em uma forma extremamente clichê e adorável.
Até mesmo já sonhava acordado.
Tamanho deve ter sido o espanto do jovem Styles, então, quando após embrenhar-se naquelas ruas, saltar arbustos e tomar um caminho mais caseiro e calmo acabou encontrando a outra metade do seu fio regando flores no jardim em frente à sua respectiva moradia.
O outro jovem virou-se surpreso com a aproximação e logo tornou-se visível de quem se tratava. Não que Harry não fosse reconhecê-lo, tampouco onde morava, mas a touca vermelha com um leve volume atrás da cabeça, a jaqueta de frio por cima do suéter e a calça jeans não poderiam deixá-lo ter dúvidas nem ali nem dali um milhão de anos.
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Invisible String [ONE SHOT]
FanfictionHá uma lenda que diz que todas as pessoas, desde o nascimento, levam amarrados ao dedo mindinho um fio vermelho invisível que se conecta à sua alma gêmea. Por mais que o fio se embarace e se distancie, ele nunca se parte, e um dia essas almas estão...