02 | Maeve

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   Eu não sei

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   Eu não sei.

   É esse pensamento que me atormenta durante a prova de Química. Eu simplesmente não sei o que fazer. É como se todas aquelas horas de estudo tivessem decido suavemente pelo ralo, me deixando nem sequer com alguns fios de cabelo. Pior ralo do mundo.

   Minha mente nem ousa girar em diferentes funções orgânicas ou suas nomenclaturas. Ela não mostra nada além do belo e querido branco. Isso é incomum. E nas últimas vezes em que aconteceu eu não... fiquei bem. Não por conta da prova em si, apesar de ela me fazer questionar o meu valor, mas por tudo que o estresse traz à tona.

   Encaro o papel e volto os olhos para o meu redor com cautela. Todos rabiscam em suas provas. Volto a olhar a minha. Nada. Um vazio tão profundo que o mundo inteiro caberia ali. Quero sair daqui, penso. Então, respirando por coragem, me levanto com a mochila nas costas e a caneta na mão. Alguns olhares se direcionam à mim com louvor, como se fosse muito esperta por terminar primeiro. A minha fama ajuda nesse disfarce. Deixo a folha sobre a mesa de Sra. Horan e não sou capaz de captar sua reação ao ver toda a prova em branco. Seria demais para mim. Saio sem olhar para trás.

  Os corredores estão vazios e os isolados barulhos vêm do interior das salas de aula. O único local em que penso é a biblioteca e para lá me dirijo. Passo pela porta de carvalho com uma janela de vidro e noto alguns alunos, provavelmente em seus períodos livres, estudando. Mas, ainda assim, a maioria das mesas estão livres. Ocupo uma delas e cumprimento Sr. Greensburg, o bibliotecário de oitenta anos, com um aceno. Sr. Greensburg é um pouco rabugento mas sempre parece grato quando não passam por ele como se fosse invisível. Então faço questão de cumprimentá-lo sempre. Só não reuni coragem o suficiente para perguntar alguma coisa sem ser: "Poderia me ajudar a encontrar X livro, por favor?".

Passo o resto do tempo tentando me concentrar em Álgebra mas me pego encarando o nada e bocejando. Infelizmente, isso causa uma onda de raiva em mim. Raiva de mim mesma. Raiva de não estar sendo produtiva. De não estar fazendo o meu melhor. E sinto mais raiva ainda quando percebo que estou fazendo isso. É como um ciclo vicioso em que a única coisa que sei fazer é me torturar. E tenho consciência disso. Mas não tenho ideia de como parar. Nesse momento, Chris passa pela porta. Ela me nota e vem correndo na ponta dos pés até o meu lado. Seus cabelos escuros balançam ao lado de seu rosto.

— Oi. — sussurra deixado sua mochila sobre a mesa.

— Oi. — hesito, observando Greensburg que estava analisando uma fileira de livros de costas para nós. — Como foi na reunião?

— Como foi na prova? — dizemos ao mesmo tempo. Ela sorri.

— Tá cada vez mais difícil atuar com o Erik. Ele quer que tudo seja exatamente como o planejado. — Chris revira os olhos. — E eu acabo adicionando uma coisa ou outra no calor do momento. Não é como se ficasse ruim. Mas você sabe como ele implica comigo.

Chris faz parte do clube de teatro e tem uma certa espontaneidade que não é bem vista por todos já que devem, teoricamente, seguir um roteiro. "Eles não podem me prender, arte é sobre criatividade" ela costuma dizer.

— Eu já disse para vocês conversarem em um tom mais casual? — ela finge pensar.

— Já. — seus olhos estão arregalados ao falar. — E nunca deu certo pois ele me odeia.

— Para com isso, Chris.

— Eu tô falando sério! É provável que ele tenha um caderninho preto e meu nome esteja escrito ali sublinhado de vermelho.

  Greensburg coça a garganta e percebemos que ele havia se aproximado e nos encarava com as sobrancelhas levantadas em seu melhor olhar de reprovação.

— Desculpe. — sussurro para ele e me volto para Chris. — Já chega de Taylor Swift pra você.

— Você tinha que ver o jeito que ele me olhou hoje. Fiquei com medo. — seguro uma risada pelo drama de Chris e finjo que leio o livro de Álgebra aberto em minha frente. — Como foi a prova? — levanto as sobrancelhas para ela.

— Preciso me concentrar, Chris. — seus olhos semicerrados me dizem que sabe que tem alguma coisa errada. E entende que não vou falar sobre nesse momento. Ela pega um caderno de sua mochila e começa a desenhar.

Antes que eu consiga entrar na onda da concentração naturalmente proporcionada pelo ambiente de biblioteca, meu celular apita.

É Benjamin.

Não vou na aula hoje.

Quando chegar em casa
pode me avisar, por favor?

Preciso falar com você

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