Fugitive

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Fugitive — Capítulo 1

Eu corri a janela para cima e observei a rua repleta de neve certificando-me se não havia ninguém da vizinhaça a espreitar cada passo meu — estava vazia. As luzes iluminavam o alcatrão húmido enquanto o céu escuro e vazio não o fazia.

Peguei na minha mochila pondo-a nas minhas costas e cautelosamente passei as minhas pernas para o parapeito da janela apoiando as minhas mãos em cada lado das minhas ancas sentando-me, então eu olhei para baixo medindo as consequências que poderiam surgir se saltasse mas sem medos mas trémula, deslizei sentindo o ar fresco congelar a minha pele à medida que o meu corpo caía livremente até ao relvado coberto de branco. Os meus pés assentaram no chão seguramente provocando um pequeno som e rapidamente corri para o outro lado da estrada silenciosamente.

Sentia-me livre mas consciênte de que esta era a pior loucura que eu já tinha cometido em toda a minha vida mas eu tentei ignorar esse pensamento porque o objetivo era eu procurar o meu próprio caminho sem ter alguém a dilacerar a minha liberdade.

Olhei uma ultima vez para trás observando a casa amarela que eu sabia ou esperava ser a ultima vez que fosse vê-la tendo em conta que existem muitas memórias que eu quero esquecer completamente. As cortinas corridas do meu quarto voavam com o vento a correr dentro do meu quarto escuro e então eu estava definitivamente a deixar o meu abrigo; a casa em que eu passei dezasseis anos. Sentia-me realizada. Sorri pelo canto da minha boca e abandonei aquela rua.

Indecifrávelmente, eu entrei numa floresta sabendo que aqui as probabilidades de ser apanhada são menores. Estava escuro e o facto das árvores serem altissímas não ajuda nada e oculta a luz da Lua; os pequenos ramos partem-se com a pressão dos meus pés sobre eles; as folhas a serem amarrotadas e as folhas das árvores a abanar são os sons da Natureza presentes e de algum modo é relaxante. Eu conseguia ouvir os carros a arrastarem-se pela estrada a uns metros de mim e por momentos pensei em caminhar por lá pelo simples facto de que assim não me cansaria assim tanto, mas enxotei essa ideia da minha cabeça. Caminhar pela estrada seria o "fim" do meu escape; eu estaria a habilitar-me em ser apanhada.

O ar começou a ficar mais frio; a neve apegava-se ás minhas botas e aos meus cabelos. As minhas veias contraíam-se deixando as minhas mãos geladas e quase imóveis para fazer qualquer coisa que fosse. Eu teria que encontrar algum sitio para que pudesse me aquecer e de preferência um sitio para que as probabilidades de ser encontrada fossem menores.

Uma carrinha escolar escondia-se no meio de várias árvores; a tinta amarela era quase escassa e agora era praticamente branco no cimo dela. Eu olhei em volta certificando-me novamente se não havia ninguém, parecia que sentia um grande peso nos ombros por saber que agora era uma adolescente fugitiva. Perguntava-me como é que esta carrinha teria vindo aqui parar; qual seria a história dela para ser abandonada aqui.

Caminhei lentamente até lá ouvindo o mesmo som dos paus a partir; o som das rodas dos carros era quase escasso; agora era apenas os sons da Natureza e de algum modo era assustador e intimidante saber que estava sozinha e que se aparecesse alguém eu não saberia como me proteger ou até mesmo para que lado fugir.

Eu afastei os cabelos do meu rosto gelado e inspirei lufadas de ar para procurar a coragem que quase não se fazia ouvir dentro de mim e depois de tudo; eu entrei. Subi as escadas lentamente; uma a uma. O interior da carrinha estava escuro, cheirava a mofo; os bancos estavam esfarrapados e o chão rangia sob os meus pés. Isto até poderia ser melhor do que eu imaginava; eu pensei que a minha primeira noite seria passar dentro de uma árvore, ou no meio de todas as folhas mas nada disso.

Eu tirei a lanterna da minha mala sem a pousar em lado nenhum e liguei-a. A luz iluminou tudo à minha volta e era enorme. Fazia-me lembrar a carrinha da minha escola que era igual só que em melhores condições. As recordações era imensas — boas e más. Relembrá-las, uma a uma, era fantástico e dei por mim a sorrir por longos momentos. Eu tinha a perfeita noção que estar a fugir de casa e de tudo iria causar um grande impacto na minha vida; nos meus amigos; na minha escola; na minha família; na minha rotina. Mas, isto era o que eu queria e ainda quero. Eu era ignorada por tudo e todos, tirando alguns amigos mas até eles conseguiam ser falsos para mim e eu um dia conclui que eu não era realmente feliz, eu apenas sorria e vivia os momentos, eu percebi que eu não me sentia realizada e que afinal aquilo tudo; a minha rotina não era exatamente o que eu pretendia da minha vida. Alguns amigos meus faziam-me sentir como se eu não valesse nada, como se eu fosse mais um simples ser humano no mundo e eu não me sentia realizada e feliz no meio disto tudo.

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⏰ Última atualização: Sep 30, 2018 ⏰

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