Lágrimas escorriam pelos cantos de meus olhos enquanto eu os abria vagarosamente, lutando contra a claridade.
_ Filha, meu amor… Doutor! - ouvi a voz de minha mãe ao longe. Ela gritava e gritava. Minutos depois senti mãos firmes tocando-me, abrindo ainda mais meus olhos.
_ Cady, pode nos ouvir? Fale alguma coisa, querida! - papai também estava ali, esperando uma resposta que eu não tentei, mas não consegui oferecer a ele. Meus pensamentos ainda estavam nos meus mentirosos. Mortos, eles estavam mortos. Minha respiração ficou ainda mais pesada, o som de um bip não parava de ecoar.
Tudo ficou escuro novamente.
Eu não fazia ideia de que horas era quando acordei novamente, mas estava escuro. Mamãe olhava o horizonte através da janela, perdida em pensamentos.
_ Mãe?! - Chamei com a cabeça girando.
_ Cady? Graças a Deus, você acordou querida. Eu vou chamar o médico.
_ Eles… eles estão… - comecei sentindo um nó na garganta. Meus olhos arderam e lágrimas invadiram meus olhos novamente.
_ Eles quem, Cady? Do que você está falando, querida?
_ Os mentirosos, estão todos mortos. A culpa é minha. - minha voz falhou.
_ Nã… - minha mãe foi cortada pela presença do meu pai. O que ele estava fazendo ali?
_ Oi, princesa! - papai exclamou passando a mão em meus cabelos, tão carinhoso que eu estranhei. - o doutor já está vindo.
_ O que aconteceu? Por que eu estou nessa cama?
_ Quantas perguntas.
_ Eu os matei, eu sou a culpada, matei meus amigos. Eu era quem devia estar morta. Eles estão mortos. - as palavras saíam cheias de culpa.
_ Foi um acidente, Cady. Você não tem culpa de nada. O único culpado é o velho preconceituoso do seu avô.
_ Será que você pode tentar não falar essas coisas. Nossa filha acabou de acordar. - mamãe parecia zangada. Ela afastou meu pai da cama e sorriu para mim, acariciando meu rosto. - Está tudo bem, meu amor. Johnny nos contou o que aconteceu. Me desculpe por forçá-la a isso. Eu juro que nunca mais vou força-la a confrontar seu avô. Se o papai quiser, pode deixar sua herança idiota para Bess e Carrie. Eu não me importo, não mais. Quase perder você já foi o suficiente.
_ Johnny, Mirren e Gat… - Meu Gat. Não pude deixar de notar o tom que ela usou com relação a Johnny. Não era no passado e sim no presente.
_ Estão se recuperando bem. Você foi a mais atingida. Apesar… que o Johnny quebrou o braço e a Mirren a perna e fraturou a costela, também. Gat teve sorte de notar o fogo começar a lamber o chão. Garoto de sorte, foi o que menos teve ferimentos, além de queimaduras de 2 grau. - Olhei para meu pai. Ele tinha a mão repousada no ombro de minha mãe. Eu estava sonhando, ou havia sonhando?
_ Meus amigos… eles tão…
_ Bem, amor. Como seu pai disse, eles estão bem, ou melhor, recuperando-se. - eu não podia acreditar. Sim, havia sido um pesadelo, eu precisava acreditar nisso. Eu não poderia aceitar que eles estavam realmente mortos. Os mentirosos estavam vivos. Uma batida soou na porta. Papai suspirou e veio beijar minha testa.
_ Vocês dois...
_ Somos bons amigos.
_ Sem brigas?
_ Sem brigas. - mamãe falou enxugando o rosto molhado com a ponta da manda do seu casaco.
_ O que mudou? - questionei.
_ Apenas notamos que há coisas, pessoas, importantes demais que sempre irá nós manter unidos. - mamãe sorriu para o seu ex marido.
_ Eu vou indo. Amanhã eu volto. - ele sorriu para mim e depois para minha mãe, antes de sair. Tia Carrie entrou com um sorriso tímido e sofrido._ Como você está se sentindo, Cady?
_ Johnny, ele está… está… - as lágrimas retornaram, impedindo minhas palavras.
_ Ele está bem, graças a Deus! Seu primo estava muito preocupado com você, querida!
_ Quanto tempo eu dormi?
_ Duas semanas, praticamente três. Os médicos… não importa. Você voltou. - mamãe declarou limpando as lágrimas. Tia Carrie sentou-se na beira da minha cama.
_ Vocês quase nos mataram, Cady. Eu não consigo nem pensar.
_ Carrie agora não.
_ Certo, certo. Eu só vim aqui ver como ela estava. - tia Carrie afegou meus cabelos. - De qualquer forma, nós entendemos o recado. E… eu aceitei o pedido de casamento do tio Ed. Eu precisei quase perde o meu filho para perceber que não quero perder minha família, nem mesmo pela droga de uma herança idiota. O papai pode fazer o que ele quiser com seu maldito dinheiro. - tia Carrie começou a chorar. Grossas lágrimas corriam por suas bochechas coradas. Ela tentou forçar um sorriso, mas falhou miserável.
No final das contas, nós, os mentirosos, havíamos conseguido alcançar o nosso objetivo. Porém eu nunca mais faria algo perigoso dessa forma e meu pesadelo, foi o suficiente para eu entender que escolhas ruins podem trazer resultados desastrosos. Sorri pegando a não da minha tia. Tudo ia ficar bem.
O médico entrou no meu quarto e me fez inúmeras perguntas antes de decidir que eu estava bem, porém ainda precisava ser observada.
Tia Bess também apareceu. Um pouco envergonhada, assim como o vovô. Mas eu estava ansiosa para ver meus amigos. Queria poder ver a realidade. Rezei para que fosse a realidade e não um sonho bom. Mas a realidade veio e mamãe e minhas tias deixaram o quarto para que os três pudessem entrar. Chorei quando Johnny correu para me abraçar, com dificuldade por causa do gesso em seu braço. Mirren abraçou Johnny e Gat, meu Gat, abraçou Mirren. Ficamos os três abraçados e chorando.
A morte é certa como a noite depois de um dia lindo de sol, e certamente nos levaria um dia também. Mas por enquanto, os mentirosos ainda tinham muitas aventuras para viver e viveríamos.
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capítulo Extra de Os mentirosos
Teen FictionO final de um livro pode se mudado quantas vezes por preciso. Usem a imaginação.