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A festa estava exatamente como eu imaginava, copos e bebidas jogadas por toda a parte; alguns casais quase se comendo no meio de todos; uma meia dúzia de pessoas já estavam jogadas no gramado e uma fila gigantesca para usar os banheiros. Sinceramente nunca vi graça nessas festas, é uma felicidade contagiante, que no fundo não é real; pessoas brindando e enchendo seus copos um atrás do outro, tudo para 'maquiar' algum sentimento que não pode vir a tona; e pessoas procurando consolo em outros corpos, procurando suprir uma carência e uma necessidade sem fim. Tyler grita por alguém que não consigo decifrar o nome, ele coloca o fardo de cerveja em meus braços e sai pelo meio daquele mar de corpos. Por um minuto fico perdida, sem saber o que fazer e olhando desesperadamente ao meu redor, à procura de rostos familiares, até que sinto uma mão em meu ombro.

- Você veio!! - grita Íris, e se pendura no meu pescoço, o que faz com que eu quase derrube as cervejas no chão, e pelo fedor de álcool que ela estava exalando, chuto em dizer que ela já estava fora de si. - As meninas estão ali, vem vou te levar lá. - ela agarra meu pulso e abre caminho no meio de todas aquelas pessoas, derruba um pouco da bebida que estava em seu copo e algumas pessoas a olham feio, mas ela parece nem ligar, ou ao menos, não perceber.

- NÃO ACREDITO! VOCÊ VEIO!! - grita Maya, que ao me ver abre um sorriso de orelha a orelha e me abraça.

- Tyler me obrigou - digo próximo ao ouvido dela, na verdade praticamente grito, pois o volume do som estava extremamente alto. - Cadê a Miranda?!

- A última vez que vi, ela estava pendurada no pescoço de um cara. - diz Íris com a voz de embriagada, enquanto tentava se equilibrar em cima do salto.

- Quando chegamos, ela viu o Tyler com uma ruiva e ficou PUTA - diz Maya, tentando disfarçar a felicidade que ela sentiu ao ver a Miranda magoada. Miranda é apaixonada por Tyler desde sempre, ele nunca deu bola pra ela, e as únicas vezes que eles ficaram foi porque o Tyler não tinha outra 'opção'. Eu amo o Tyler, ele é uma pessoa muito boa, mas quando se trata de garotas... Ele brinca com o sentimento de todas elas, nunca entendi o porque brincar com os sentimentos de alguém é algo 'divertido' para algumas pessoas, no fundo acho que ele sente que precisa de alguma validação, e esse é o método que ele usa, magoar as pessoas para inflar seu próprio ego. Já disse isso pra ele um milhão de vezes, mas ele sempre nega e diz que são apenas ideias da minha ''mente sem limites''.

Aviso as meninas que iria guardar as cervejas no freezer e sair para fumar, Maya assente com a cabeça e Íris... bom, Íris está em seu próprio mundo nesse momento. Tento abrir espaço em meio a multidão, mas é quase impossível passar sem empurrar ninguém. Entre alguns olhares feios e alguns pisões no meu pé, consigo chegar até o freezer, que já estava lotado até a boca, então acabo deixando o fardo de cerveja no chão, ao lado dele. Saio para a área externa, que estava lotada da mesma maneira, a única diferença é que estava mais fácil de andar. A casa do Tyler era extremamente grande e bonita, a área externa era composta por uma piscina que lembrava aquelas de resort, também tinha um bar que dava acesso para quem estava dentro da piscina nem precisar sair e um quiosque imenso com uma pegada mais rústica, com fogão a lenha e churrasqueira. Seus pais eram dois empresários bem sucedidos que tinham uma rede de telefonia por todo o país, por esse motivo eles também quase nunca paravam em casa, o que dava a brecha do Tyler fazer essas festas estrondosas. Continuo andando até me afastar da multidão, vou até meu lugar favorito da casa, onde fica o ipê branco da mãe do Tyler, ela colocou uns bancos ao redor dele e um varal de lâmpadas. Esse era o lugar da casa que eu achava mais bonito, ele destoava da arquitetura moderna do lugar, mas isso nunca incomodou a mãe de Tyler, ela disse que quando compraram a casa ele já estava lá, então era ali que ele deveria continuar, se a mãe de Tyler visse que seu ipê no momento estava servindo como uma área de fumantes e um local para pessoas darem uns amassos sem os olhares curiosos dos outros, acho que ela teria um infarto fulminante. Me sento em um dos bancos e tiro meu maço de cigarros do bolso, pego um e coloco entre os dentes, então procuro pelo meu isqueiro. Bato nos meus bolsos de trás da calça mas nem sinal dele, começo a olhar pelo chão, para ver se o encontro, mas nem sinal dele.

-Aqui - diz um garoto, que estende o braço para acender meu cigarro, inclino um pouco a cabeça, para que a ponta do cigarro encoste na chama, enquanto ele me olhava com um olhar de quem podia enxergar a minha alma. O garoto era alto e esguio, com uma beleza, que julgo em dizer, excepcional, ele cheirava a loção pós barba e tabaco, ele  também tinha um cigarro aceso entre seus dedos, seu cabelo era de um castanho escuro e seus olhos tinham a cor de âmbar, uma das cores mais belas que já tinha visto em toda a minha vida. Ele tinha o olhar mais intenso que já havia visto e por algum motivo, aquele garoto estranho com um olhar penetrante, havia estremecido toda a minha alma, foi como se ele plantasse algo em mim... pena que eu não fazia ideia do que estava prestes a florecer. Eu nunca havia amado ninguém, mas sabia do poder destrutivo que o amor podeia ter, por isso eu sempre o evitei... mas aquele garoto me fez esquecer de quem eu era, Guimarães Rosa já havia dito ''viver é um rasgar-se e remendar-se.'', mas naquele momento, eu ainda não sabia que seria capaz de me rasgar e me remendar TANTAS VEZES por aquele estranho garoto dos olhos âmbar.

Uma quase história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora