Após a invasão japonesa, muitas famílias sul-coreanas perderam seus postos e privilégios durante a guerra. No decorrer dos anos, recaíram sobre suas futuras proles o papel de reascender, com suas promessas enfeitadas e profecias vazias. Kim Yoohyeon foi capaz de mover expectativas entre sua família desde quando sequer tinha consciência disso, e quem carregou os boatos do vigor de seus ancestrais. No entanto, por mais que seus pais a custassem lembrar que compartilhava do antigo sangue nobre de Hanyang, Yoohyeon nunca alimentou a confiança faminta que exalavam no fervor de sua ambição.
Como agora, a soldado a serviço da Dinastia suspirou os ares da monotonia. Recentemente conquistara sua formatura de recruta para se tornar soldado oficial da família real, e fora direcionada como guarda de campo na corregedoria. Não era a mais genial entre seus colegas de matrícula, ou a mais confiante, mas obstinada. Mesmo assim, retardou a formação devido a sua autossabotadora capacidade cognitiva e, sobretudo, sua compostura rasa. Sempre fora uma criança de pavio lerdo e na adolescência sofrera duras por sua habilidade em se meter nas confusões mais mirabolantes. Na academia estava constantemente de cabeça baixa diante dos mentores, isso porque não detinha o autocontrole comumente de seus companheiros de regimento. Agora soltava o alívio de ocupar o cargo de uma baixa patente, embora a pressão familiar ainda a abale nas quietudes casuais.
"O que acha que está fazendo?", ouviu de relance uma voz anciã proferindo em sussurro. "Os acadêmicos foram pegos e o príncipe está foragido, não há mais espaço para dúvidas. Ou eu devo entregá-lo como simpatizante da causa?"
"Não, milorde, de jeito nenhum!", retrucou outra voz, leve e temente. Era mais jovem, quase madura. "Só estava me perguntando, sabe, por que o príncipe herdeiro arriscaria tanto por sua posse? Não me vem que seria simples capricho!"
Com o silêncio seguido, um suspiro se arrastou pelas paredes.
"Certo, garoto, nunca lhe ocorreu que ele apenas queira o poder mais fácil? Use essa caixola, um trono vazio enquanto seu rei jaz doente é apenas um chamariz para sedentos como o príncipe!", deu uma pausa, a qual abriu espaço para os ventos da tarde rugirem. "Não vamos remoer mais desse assunto, as tropas já foram enviadas, a corte já deu sua ordem. Ele é um criminoso e é tudo que podemos saber. Não solte essa boca suja perto dos guardas, ouviu? Costure-a, se preciso!"
As paredes finas da corregedoria facilitaram a curiosidade da Kim. Sabia que este trabalho integral a sugaria até a última gota, mas se contentava com as vidas paralelas da elite dramática. Era como o camarote dos bastidores de um teatro que fantasiava a vida soberba do topo da hierarquia.
Assim como quando era menor, em que vivia correndo e se pendurando pelos cantos de Dongnae, e a palha dos barracos emendados a faziam companhia de entretenimento, trespassando vozes de vidas distantes dos vizinhos e instigando sua imaginação para dramas de outrem. Entre tantos, um em específico a intrigou um pouco além na época.
Ainda se lembra dos ventos nublados e o peso das nuvens de uma manhã de domingo, quando puxou os lençóis de sua cabana e disparou em direção ao lago - apesar do que sua mãe alertava, Yoohyeon tinha esse gosto de escanteio por nadar no frio. No caminho, deparou-se com uma figura baixa se esgueirando do lado de fora de alguns bambus, parecia preocupada de alguma forma. Do interior, ouvia-se, quase palpável, uma voz dura sobrepor outra apreensiva, e logo passos firmes tatuavam a vizinhança com sua fúria.
"E você? O que faz aqui? Não fez o suficiente? Vá pra casa!", o homem trajava camisolas brancas e amarrotadas, sua pança escapava pelo pano fino como um feto forçando o ventre para fora. A figura recuou dois passos antes de se lançar correndo contra a estrada de lodo, e o homem a observou sumir, os punhos cerrados na lateral do corpo. Segundos passados, ele adentrou a cabana novamente e retornou a repreender quem quer que fosse.
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Como se fosse capaz | JiYoo
FanfictionEmpatia é a capacidade de se projetar nos sentimentos alheios, de estimular seus sentidos a compreender, sentir ou querer dentro da dimensão de outra pessoa. Kim Yoohyeon tinha poucas habilidades, e dentre essas, empatia não era uma delas. Desde que...