A torre

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Naquela noite fria, corri o mais rápido que pude na tentativa de vê-la uma última vez, e mesmo sabendo o que estava por vir, esta era minha única chance de me despedir. E lá estava você minha querida. Naquela torre alta, pálida, com uma postura firme e uma expressão vazia em seu rosto, encarava o horizonte certamente lamentando seu futuro impróspero. Eu estava implorando para que o tempo passasse mais devagar porém, os sinos tocaram, indicando que o início da cerimônia estava próximo e eu, asiando por um despedida, gritei o mais alto que pude, sem ter certeza se mesmo com aquela distância você me ouviria. A lua cheia que iluminava aquela noite, foi coberta por nuvens que dificultavam minha visão, e então percebi que nossos olhares se cruzaram. Seus lábios murmurando um "adeus" partiram meu coração e fizeram eu me questionar novamente sobre o quão injusto seu destino era. Como pode um ser tão angelical como você ser obrigada a se casar com aquele velho anafrodita e impertinente que fazia qualquer um questionar quais pecados imperdoáveis havia cometido em sua vida passada para ter que cruzar com esse homem tão desagradável? Não importa o quanto eu reclamasse, nada mudaria aquela situação. Ele era um nobre, rico e acima de tudo, um homem. Meu maior desejo naquela noite era fugir com você, te levar para bem longe desses crápulas egoístas que nunca se questionaram sobre como você se sentia ao ser obrigada a fazer tudo que quisessem, sem nem mesmo poder opinar. Também queria ter dito o quão bela você estava, minha querida. Seus olhos azuis e seus cabelos dourados brilharam mais que qualquer diamante naquela noite. Os cantos de sua boca curvaram se em um sorriso, e novamente murmurando palavras das quais não pude entender, em seguida você se jogou daquela grande torre. Minha visão embaçada, o enjoo, a tontura e todos os pontos de interrogação em minha mente imploravam para que essa trágica visão fosse apenas um sonho, um terrivel pesadelo. Não lembro bem o que houve após isso mas, naquele dia, não pude salvar você. E nem mesmo pude me despedir corretamente. Depois de todos esses anos, agora em meu leito de morte, receio que estes sejam meus maiores arrependimentos, minha querida Historia... memórias que irei remoer até mesmo após a morte.

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