E quando eu visualizei a imagem refletida pelo objeto comprido, me senti ser quebrada em infinitos pedacinhos. Minhas pernas vacilaram e tive que me segurar para não desmoronar de vez.Simplesmente, não era eu. Quer dizer, a imagem refletida era a minha, porém eu não sentia como se estivesse me vendo ali, naquele espelho maior que o meu corpo em questão de altura. Não me reconhecia.
Eu gostava de conhecer as pessoas, gostava de ver todas as suas faces, todos os seus jeitos diferentes de ser alguém único. Mas entrei em desespero quando eu me vi, ali, no espelho.
Era libertador poder usar roupas, assessórios e sapatos que _você_ se sente confortável, se sente incrível. E o resultado de uma noite inteira em claro pensando sobre como as pessoas julgam outras pelo modo como elas gostam de se expressar, estava, agora, refletida no espelho com bordas douradas e pequenas fotos penduradas. Era algo meu, refletindo o completo oposto do _eu_.
Não consegui mais segurar as lágrimas e deixei que elas borrassem a maquiagem forte em meu rosto, na qual fazia eu me sentir horrível e supertificial – mesmo a maquiagem estando o mais carregada possível. Me permiti passar a mão pelo cabelo em pura frustração, ódio e tristeza eminente. O cabelo havia sido alisado com uma prancha e desmanchado todos os cachos que eu tinha e que eu descobri mais cedo que gostava de tê-los.
Passeei minhas mãos pelos meus braços descobertos. Estavam frios. Minha pele costumava ser tão quente e macia, agora estava áspera e fria. Usava um vestido colado rosa choque, algo mais "feminino". Odiei como eu me senti deslocada vestida nele. Me fazia querer morrer.
Quanto mais eu olhava para a minha própria imagem – na qual eu não me via ali –, mais eu me desesperava e me convencia de que aquela não era eu. Era alguém formado por opiniões que não eram minhas, alguém que se rendeu ao pesar de um padrão extremamente injusto.
Aos poucos me sentei no chão, junta aos caquinhos que deixei cair do meu corpo. Naquele momentos eu me odiava, tanto que ardia. Tudo estava embaçado pelas lágrimas e eu ainda não tinha forças para levantar e me recompor.
Ergui um de meus braços até a minha cama que estava próxima a mim, servindo de encosto para minhas costas levemente curvadas. Puxei meu cobertor que mais cedo não havia dobrado. Cobri minhas pernas que estavam sem nenhum tecido até o meio das coxas. Abracei meu tronco como se me esforçasse para me achar em meio a aquele caos.
Chorava como uma criança que havia se perdido da mãe. Eu também tinha me perdido, porém, de mim mesma. E não estava tudo bem.
𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 (NÃO) 𝐬𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐡𝐞𝐜𝐞𝐫
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E Não Está Tudo Bem
Non-FictionEu gostava de conhecer as pessoas de ver todas as faces, todos os jeitos diferentes de ser alguém único. Mas entrei em desespero quando eu me vi, ali, no espelho.